Em discursos na tribuna da Câmara, nesta terça-feira (14), parlamentares da Bancada do PT criticaram as taxas de juros aplicadas pelo Banco Central, presidido pelo economista Campos Neto. “É impossível gerar emprego, gerar renda, melhorar a vida do povo com juros tão altos”, argumenta o deputado Rogério Correia (PT-MG).
Correia avalia que para o Brasil retomar a sua capacidade de investimento é necessário um grande movimento nacional contra “juros abusivos”. O parlamentar explica que a taxa básica de juro (Selic) é de 13,75% ao ano – e os juros reais, descontada a inflação – atingem o patamar de 8,16% ao ano, portanto, os mais altos do mundo.
“Por ser a mais alta [taxa] do mundo, já é inexplicável. Por que o Brasil tem essa taxa de juros tão alta? Porque o Banco Central insiste nisso, tendo uma meta de inflação bem menor e colocando, portanto, um juro real de 8,16%, o mais alto do mundo?”, questionou Correia. O deputado criticou o presidente do BC, que não explicou sobre o maior juro real do mundo, durante entrevista no programa Roda Viva, ontem (13).
Convocação
O deputado Alencar Santana Braga (PT-SP) disse que se Campos Neto pode participar de programa de televisão, ele também poderá vir à Câmara dos Deputados prestar esclarecimentos sobre a política de juros aplicada pelo Banco Central.
O parlamentar esclareceu que essa política de Campos Neto impacta no preço do arroz, do feijão, da carne e, dependendo do modelo a ser adotado, ele vai gerar menos ou mais empregos. “Porém, ele não pode vir aqui, alguns dizem, prestar contas, mas pode ir ao programa Roda Viva, pode ir à imprensa. Por isso, queremos que o presidente do Banco Central venha a esta Casa prestar contas. Se nós tivermos vergonha, nós vamos convocá-lo”, desafiou Alencar Santana.
Ranking
Segundo Correia no ranking mundial de países com juros reais altos, o Brasil é seguido pelo México, que que tem uma taxa de 5,39% ao ano. “Se você fizer a comparação com os demais países, você vai ver que os Estados Unidos, por exemplo, estão com taxa de juros negativas, ou seja, a inflação é maior do que a taxa de juros. Eles fazem isso exatamente na política de retomada de desenvolvimento econômico, para geração de emprego, geração de renda”, exemplificou o deputado.
Para Rogério Correia alguns dados assustam a população brasileira. Como exemplo, citou dados que ocorreram no ano passado, em que gastos com pagamento de juros foram maiores do que aqueles que o Brasil investe em saúde e educação. “Ou seja, pagamos quatro vezes mais em juros do que com gastos na saúde pública. Pagamos cinco vezes mais em juros do que aplicamos na educação pública brasileira”, comparou.
Para ele, é impensável um país não fazer investimento público porque tem que pagar taxas de juros. “Isso impede qualquer processo de crescimento econômico”, finalizou Correia.
Herança maldita
Para o deputado Pedro Uczai (PT-SC) a política de juros de Campos Neto representa a “herança maldita” deixada pelo governo de Bolsonaro. “Não posso deixar de manifestar aqui a nossa profunda indignação com a política monetária do Banco Central. A herança maldita do ex-presidente que indicou o Campos Neto continua fazendo efeitos”, criticou.
Segundo Uczai, empresários, membros da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e economistas, inclusive de matiz liberal, “estão produzindo uma profunda crítica à política monetária que adota a abusiva taxa de juro real de 8% acima da inflação — a taxa de juro mais criminosa do mundo”.
“Nós queremos emprego, queremos distribuir renda, queremos distribuir oportunidade para o povo brasileiro, para o povo catarinense. Fora, presidente do Banco Central, fruto da herança maldita da economia brasileira que estagnou, tirou direitos e empobreceu o povo brasileiro”, criticou Uczai.
Juros e inflação
O deputado Alexandre Lindenmeyer (PT-RS), um dos defensores da convocação do presidente do Banco Central, demonstrou como alguns países lidam com as máximas: juros e inflação. O deputado citou como exemplo a Turquia com juros de 9%, inflação de 84,39%; a Rússia com juros de 7,5%, inflação de 12,6%; a África do Sul com juros de 7%, inflação de 7,6%; a Índia com juros de 6,25%, inflação de 6,77%; os Estados Unidos com juros de 4%, inflação de 7,7%; a China com 3,65%, inflação de 2,1%; a União Europeia com 2% de juros, inflação de 10%; o Japão com menos 0,1% de juros, inflação de 3,7%.
“Será que o Brasil com essa gestão do Banco Central é que está certo ou os demais estão no caminho errado? Será que essa recessão que está querendo ser imposta ao nosso País, ao nosso povo é justa? Nós estamos querendo valorizar o emprego e a renda ou os rentistas? Nós temos que reverter esse cenário”, observou o deputado gaúcho.
Benildes Rodrigues