Os deputados Carlos Zarattini (PT-SP) e Paulo Guedes (PT-MG) criticaram nesta terça-feira (21) a tentativa do ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, de eximir o governo Bolsonaro de qualquer responsabilidade pelos aumentos sucessivos no preço abusivo dos combustíveis. Os petistas afirmaram ainda que a repentina “indignação” de Bolsonaro e seus aliados com os aumentos não passam de uma estratégia para criminalizar a Petrobras a fim de justificar uma possível privatização. O ministro participou de audiência pública conjunta de várias comissões da Câmara para falar de temas como o preço dos combustíveis e a privatização da Petrobras.
Durante sua explanação, Sachsida chegou a dizer durante a reunião que o governo federal “não tem como intervir nos preços da Petrobras”, ignorando que os aumentos são definidos pelo Conselho Administrativo da companhia onde o governo tem maioria de 6 entre um total de 11 votos. Ao responder as críticas sobre os aumentos constantes dos combustíveis, o ministro alegou que o governo não tem o poder de alterar a Política de Paridade Internacional (PPI) – que atrela os preços cobrados no Brasil (em real) ao mercado internacional (em dólar) – e ainda defendeu a clássica “solução” neoliberal da privatização.
Alinhados ao discurso do próprio Bolsonaro contra os aumentos praticados pela Petrobras, em um “jogo ensaiado”, parlamentares da base do governo Bolsonaro também condenaram a política de preços adotada pela companhia desde o governo Temer e mantida no atual governo. Ao desmascarar a situação, o deputado Carlos Zarattini lembrou que a repentina “indignação” de Bolsonaro e seus aliados nada tem a ver com as dificuldades enfrentadas pela população, mas que somente guardam relação com a proximidade do período eleitoral.
Eleições
“Todo esse alvoroço não é por conta dessa política [de preço da Petrobras], mas sim com a proximidade das eleições. O governo está preocupado com o impacto que essa política está trazendo à população que já não dá conta de comprar um botijão de gás. Nós aqui aprovamos o auxílio-gás para 24 milhões de famílias e o governo só cede para 5 milhões. O objetivo desse governo em relação a Petrobras é na verdade a sua privatização”, acusou o petista.
O parlamentar lembrou ainda que a sanha privatista começou no governo Temer e continuou no de Bolsonaro, com a venda da Transpetro, da BR Distribuidora e de várias refinarias. Em oposição ao discurso do ministro de que, com a suposta concorrência gerada pela privatização os preços dos combustíveis poderão cair, Zarattini lembrou que experiências recentes com a venda de refinarias têm demonstrado o contrário.
“A refinaria Landulpho Alves, na Bahia, por exemplo, que foi vendida aos árabes, hoje vende combustíveis para as distribuidoras mais caros do que a própria Petrobras”, observou.
Lucro recorde da Petrobras
Ao apresentar os resultados financeiros da Petrobras, o próprio ministro de Minas e Energia acabou revelando que a companhia tem registrado lucros recordes às custas do povo brasileiro. Sachsida apontou que o lucro da Petrobras no 1º trimestre deste ano foi de 44 bilhões de dólares, o maior entre as petroleiras do mundo. Ele também informou que, apesar de produzir 10% do petróleo mundial atualmente, a Petrobras apresentou 30% de lucro líquido com a operação, superando todas as suas concorrentes. Na apresentação do ministro também foi possível observar os beneficiados com essa performance. Segundo Sachsida, a companhia brasileira atualmente é a 2ª petrolífera que mais distribui dividendos no mundo, com 13,4 bilhões de dólares repassados a seus acionistas minoritários apenas no ano passado.
Concluir refinarias
Ao confrontar o ministro, o deputado Paulo Guedes rebateu o argumento utilizado por ele e por parlamentares bolsonaristas de que ainda existem refinarias inacabadas no Brasil da época dos governos petistas, e que poderiam ajudar a aumentar a capacidade de refino de combustíveis que são importados.
“Ministro, o senhor fala que a Petrobras está dando muito lucro. Então, poderíamos ter concluído várias dessas refinarias que foram iniciadas como a Comperj, com 80% das obras realizadas e Abreu e Lima, com 50% concluída. Se temos hoje o maior lucro da história, porque então não se fez nada para concluir essas refinarias?”, indagou.
O parlamentar destacou ainda que os aumentos sucessivos de preços praticados pela Petrobras também demonstram a falta de vontade política do atual governo para enquadrar a direção da companhia.
“Se o governo é acionista majoritário, porque o senhor como ministro e o presidente Bolsonaro aceitam que os acionistas minoritários ditem as regras no Brasil? Essa política [de preço] que o governo Bolsonaro não tem coragem de mudar está saqueando o bolso dos mais pobres”, acusou o deputado Paulo Guedes.
Héber Carvalho