O Ato Performático do 26° Grito dos Excluídos em defesa da vida, da democracia e dos direitos, no gramado da Esplanada dos Ministérios em Brasília, marcou a manhã deste 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil. O evento intitulado “Brasil, qual é o seu grito? #ForaBolsonaroeMourão” usou a cultura e a arte para mostrar a trágica situação do País e dos brasileiros governados por Jair Bolsonaro, além de pedir a saída do atual presidente e seu vice.
A manifestação, inspirada nas escolas de samba, foi organizada por alas – mantendo distância e todos os cuidados recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – e cada uma delas denunciava, de forma silenciosa e com recursos cênicos, os retrocessos causados pelo governo federal, as atrocidades e violência sofrida pelas mulheres, negros, LGBT e indígenas num país que se mostra cada vez mais preconceituoso e retrógrado.
Pietà
Em uma das performances mais impactantes do ato, atores reproduziram a icônica escultura de Michelangelo, a Pietà. A mulher que representava Maria, mãe de Jesus, acolhia negros, jovens, mulheres e LGBT, vítimas da violência. O homem representava um Jesus Cristo negro, com marcas de tiro e sangue. A mãe, segura seu filho e clama por piedade e justiça a todas as vítimas.
Para Carmen Foro, vice-presidenta nacional da CUT, o ato silencioso “falou” muito mais com cultura e arte. “Os companheiros e companheiras que movem a cultura passaram uma mensagem muito forte dos jovens negros assassinados nas periferias, do quanto a justiça está sendo sangrada, do quanto a nossa Constituição está sendo rasgada. É um ato que denuncia exatamente tudo que este governo da morte está fazendo contra a população brasileira”. Carmen alerta que a população brasileira precisa do Fora, Bolsonaro para sair da crise e deste momento que o País está vivendo.
Janaína de Oliveira, da Secretaria Nacional LGBT do PT, ressalta a importância das simbologias passadas para a população que o ato trouxe e reforçou que os negros sempre foram vítimas do racismo. E com o atual governo esses atos racistas têm se intensificado. “O Estado tem sido o principal agente das práticas racistas e do genocídio do povo negro. Eu espero que esse 7 de setembro seja um espaço para que a gente possa refletir mais, que possamos pensar o mundo de fato mais inclusivo, que haja respeito com as mulheres, com a juventude, com o LGBT, com as pessoas negras e com a população em geral”. Para ela, é preciso mudar a cultura. “Isso só será possível se a gente mudar a cultura, pois as nossas simbologias podem ser diversas, não precisam ter uma única característica. O Brasil é diverso e o respeito também precisa ser diverso”, observou.
Mulheres
O Brasil é o quinto país do mundo em casos de feminicídio. A cada uma hora, quatro meninas de até 13 anos são vítimas de estupro. A ala das mulheres denunciou a violência e abusos contra as mulheres, as crianças e a crescente violência doméstica que assombra cada vez mais os lares brasileiros.
A deputada Erika Kokay (PT-DF) afirmou que as vidas das mulheres importam. “Nós estamos dizendo: criança não pode ser mãe. Nós estamos dizendo: tirem as mãos dos nossos corpos e das nossas vidas, tirem as mãos dessa tentativa de nos arrancar de nós mesmos e nos transformar em espelho de desejo do homem. Nós estamos dizendo: as vidas das mulheres importam. No país do feminicídio, de tanta violência doméstica, num país onde nossas crianças são vítimas de tanta violência sexual, a vida das mulheres importa”.
A parlamentar do DF ainda pediu para que tirem o fascismo, o machismo e a misoginia do caminho das mulheres. “Arranquemos a faixa presidencial do peito estufado do machismo, do sexismo, da misoginia, do genocídio de corpos, de risos, de ideias e de liberdade. As vidas das mulheres importam”.
Alas
As diversas alas espalhadas pela Esplanada denunciaram o descaso e a falta de compromisso do presidente Bolsonaro com a pandemia do novo coronavírus, que já matou mais de 126 mil brasileiros.
A ala da saúde homenageou os profissionais de saúde que atuavam diretamente no combate à Covid-19 e acabaram morrendo. Os indígenas também fizeram sua ala protestando contra a ditadura, a favor da Amazônia e das vidas dos povos tradicionais.
Com imagens do educador Paulo Freire, educadores e entidades ligadas à educação pública reafirmaram ser contrários à volta às aulas, como querem os governantes do País e, principalmente, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha.
A Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), os Advogados e Advogadas pela Democracia, Justiça e Cidadania (ADJC) e a Associação de Advogadas e Advogados Públicos para a Democracia (APD) representavam a ala jurídica em defesa da vida, da democracia e da Constituição. Por fim, a ala do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) pedia paz, terra, teto e trabalho.
Veja o vídeo do ato performático:
Lorena Vale
Fotos: Benildes Rodrigues e Alessandra Gondim