Depoente faz acusações mentirosas à CPMI das Fake News, denunciam petistas

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI das Fake News) criada para investigar a disseminação de notícias falsas nas redes sociais, conhecida como fake news, ouviu na tarde desta terça-feira (11), o ex-funcionário da empresa de marketing digital Yacows, Hans River do Rio Nascimento.

Durante a oitiva, o deputado Rui Falcão (PT-SP) classificou de mentirosas as declarações do depoente que afirmou ter feito a campanha do deputado petista. “Perguntei a ele se conhece bairros da periferia onde fiz campanha, e ele respondeu: ‘conheço e fiz campanha para você’. Eu imaginei que ele tivesse feito campanha para mim, votando. Eu não fiz campanha com a Yacows. Essa é uma acusação mentirosa”, disse Rui Falcão.

O deputado pediu à relatora Lídice da Mata (PSB-BA) que no relatório que produzirá ela deixe explícita a inconsistência do depoimento de Hans River do Rio Nascimento, particularmente na mentira que contou ao dizer que fez a campanha do vereador José Police Neto (PSD-SP). Segundo Rui Falcão, o vereador não disputou eleições em 2018, período relatado pelo depoente.

“Há uma cumplicidade em dizer que havia práticas criminosas no local onde [o depoente] trabalhava e hoje procura acobertá-las e desviar o assunto. Então, é uma situação que deve ser tratada com muito cuidado em seu relatório porque a testemunha que podia trazer a verdade, tergiversou transformando em acusação contra um partido, uma pessoa”, alertou o deputado ao se referir ao jogo combinado entre o depoente e a Bancada do PSL para acusar o PT de práticas sabidamente exercidas pela turma dos bolsonaristas.

A oitiva, segundo o autor do requerimento, deputado Rui Falcão, foi requerida para que o depoente esclarecesse sobre as inúmeras denúncias publicadas na imprensa sobre seu envolvimento no uso fraudulento de disparo de mensagens em massa por aplicativos de mensagens durante as eleições presidenciais de 2018.

“O ex-funcionário dessa empresa, senhor Hans River do Rio Nascimento, detalhou vários aspectos desse trabalho obscuro quando ingressou com uma ação trabalhista contra a Yacows, logo após sua demissão. Segundo seu relato, as empresas cadastraram celulares com nomes, CPFs e datas de nascimento de pessoas que ignoravam o uso de seus dados. Ainda segundo Nascimento, a linha de produção de mensagens funcionou ininterruptamente na campanha”, diz o requerimento.

Hans River confirmou que a empresa Yacows usou dados como nomes, datas de nascimentos e CPF de pessoas nascidas entre 1932 e 1953, ou seja, pessoas entre 65 e 85 anos sem o conhecimento delas. “Se duvidar, nem viva estão”, afirmou Hans River.

O ex-funcionário da Yacows também autorizou o presidente da comissão, senador Ângelo Coronel (PSD-BA), a quebrar seu sigilo telefônico, mas disse que está sem telefone. Hans River acionou a Yacows na Justiça do Trabalho de São Paulo e, segundo ele, ao processo foram anexados documentos que comprovam o uso de disparos fraudulentos de mensagens via WhatsApp e outras mídias digitais.

Mentir em CPI é crime

O deputado Rui Falcão, e as deputadas Natália Bonavides (PT-RN) e Luizianne Lins (PT-CE), e os senadores Humberto Costa (PT-PE) e Rogério Carvalho (PT-SE), líder do PT no Senado, apontaram as inconsistências, incoerências e contradições do ex-funcionário da Yacows, Hans River do Rio Nascimento durante seu depoimento à CPMI.

Denúncias em 2018

Em novembro de 2018, o jornal Folha de S. Paulo revelou o esquema fraudulento que viabilizou disparo em massa de mensagens, principalmente pelo WhatsApp contra o PT. Esse esquema foi revelado pelo ex-funcionário da Yacows à jornalista do periódico, Patrícia Campos Mello.

Segundo a reportagem, a Yacows, especializada em marketing digital prestou serviços a políticos no período eleitoral foi subcontratada pela produtora AM4, responsável pela campanha do candidato a presidente da República, Jair Bolsonaro.

Para a deputada Natália Bonavides, o ex-funcionário da Yacows, “mentiu em vários momentos na CPMI das Fake News e afirmou, inclusive, que trabalhou em uma campanha de uma pessoa que, simplesmente, não se candidatou. A postura durante o depoimento foi totalmente contraditória”.

Já o senador Humberto Costa disse que a justificativa apresentada pelo ex-funcionário para os conteúdos disparados pela Yacows não convenceu. Além disso, o senador apontou como contradição de Hans River a data informada para o início e o fim de seu trabalho na empresa.

“Ele (Hans River) disse no processo trabalhista que começou a trabalhar na empresa no dia 9/8/2018 e foi ‘injustamente’ despedido no dia 29/09/2018. Na verdade, ele trabalhou apenas um mês e meio”, afirmou Humberto Costa ao desmascarar a versão apresentada pelo depoente que disse ter começado a trabalhar no mesmo período em que o presidente Lula foi preso e que alguém do PT foi até a empresa entregar dinheiro.

“Como ele sabe se ele não estava lá? Essas são contradições que não estão respondidas até agora”, questionou Humberto, ao apontar as contradições do depoimento.

 

Benildes Rodrigues

Atualizada às 20h30

 

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