A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga as fake news nas eleições de 2018 ouviu nesta quarta-feira (30), o deputado Alexandre Frota (PSDB-SP). O ex-bolsominion mostrou uma série de documentos, textos, vídeos e imagens que revelam como opera a milícia digital comandada pela família Bolsonaro – e que continua ativa dentro e fora do Palácio do Planalto. Frota foi convidado para participar da audiência pública por requerimento aprovado de autoria da deputada Luizianne Lins (PT-CE).
O deputado Alexandre Frota afirmou à CPMI das Fake News, que o Palácio do Planalto se tornou o “porto seguro de terroristas digitais” coordenando ações voltadas a “assassinar reputações” daqueles que se opõem ao pensamento do atual presidente da República e de seus apoiadores.
De acordo com o deputado, ex-integrante do partido de Jair Bolsonaro (PSL), “milicianos digitais” operam tanto no Palácio do Planalto, como em gabinetes de parlamentares, pagos com dinheiro público para operar, sob o comando do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), perfis falsos destinados a promover ataques coordenados como aqueles realizados recentemente contra a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-líder do partido no Congresso.
Pelo menos três assessores presidenciais responsáveis pelos perfis falsos foram identificados por Frota durante a oitiva na CPMI. Tércio Tomaz, José Matheus Sales Gomes e Mateus Matos. De acordo com o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), ao menos dois deles, José Matheus Sales Gomes e Tércio Tomaz, recebem cerca de R$ 13 mil mensais em salários.
Ainda segundo Frota, “Carlos Bolsonaro coordena esse grupo, organizando reuniões, disparando comandos pelo Whatsapp. Esse grupo trabalha com injúria, ódio, calúnia e ideologia. Tudo isso atrapalha, e muito, nossa democracia. Recentemente, a deputada Joice declarou que existem cerca de 1,5 mil perfis falsos. Acredito que existam até mais”, disse Alexandre Frota, afirmando que esse tipo de comportamento dentro do Palácio do Planalto poderia ser visto como crime de responsabilidade por parte do presidente da República.
Vídeos
O deputado petista Rui Falcão (SP) solicitou que fossem colocados como documentos oficiais da CPMI todos os vídeos que Alexandre Frota afirma dispor, e que pudessem ser exibidos na comissão. Falcão ainda solicitou a quebra do sigilo telefônico nas datas citadas por Alexandre Frota, e que pudesse se identificar o número de quem ligou para ele. “Queria pedir formalmente a quebra do sigilo, pois o deputado faz depoimento com extensão que transcende até os objetivos iniciais dessa CPMI. O deputado fez afirmações aqui que podem implicar o presidente da República, se verazes, em crime de responsabilidade”, alertou Rui Falcão. Para o ex-presidente nacional do PT, “estaríamos prevaricando se não tomássemos medidas legais e oficiais em relação a essas afirmações do deputado [Frota], que precisam ser confirmadas, periciadas, se for o caso”.
Rui Falcão afirmou ainda que em alguns momentos Alexandre Frota falou que teria um “áudio-bomba”, além de outros. O petista solicitou que todos esses áudios sejam entregues à CPMI. Falcão indagou Frota sobre a participação dele no círculo íntimo do poder da família Bolsonaro. “O senhor produziu fake news?”, questionou Rui. “Não produzi, não fiz parte dessa campanha, das milícias digitais, não fiz parte desse negócio”, afirmou Frota.
O deputado Rui Falcão sugeriu que Frota permaneça como colaborador da CPMI, “porque pode ser que tenha coisas que o senhor não pôde falar hoje, ainda, e possa falar no futuro. E pode trazer novos documentos, novas provas, para que essa CPMI possa avançar em seus objetivos”, observou Falcão.
A deputada Natália Bonavides (PT-RN) também questionou Alexandre Frota durante a audiência pública. Segundo a parlamentar, Frota confirmou a existência da fábrica de fake news de Bolsonaro. Inclusive confirmou nome de assessores do Palácio do Planalto, pagos com dinheiro público, para divulgação massiva de mentiras.
Natália destacou que Frota comprometeu-se a entregar para a CPMI das fake news registros em vídeos comprovando não só que Bolsonaro sabe da existência de milícias virtuais, como até elogiou e se orgulha do trabalho desses grupos.
Filho fujão
A deputada frisou ainda que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) esteve na CPMI e atacou parlamentares, mas na hora de ouvir os contrapontos fugiu. “Aqui na CPMI das fake news, o Eduardo Bolsonaro entrou, fez uma fala com várias ofensas a diversas pessoas, incluindo o depoente [Frota], e depois foi embora. Fugir do debate é uma característica que passa de pai para filhos na família Bolsonaro”, criticou Natália Bonavides.
A parlamentar potiguar ainda defendeu que se investigue se as rachadinhas de Fabrício Queiroz com a família Bolsonaro financiaram as milícias virtuais. “Interrogamos o deputado Frota sobre a questão. Ele afirma que a milícia digital da família Bolsonaro não só existe, como é de pleno conhecimento de Jair Bolsonaro”, denunciou Natália.
Marielle Franco
A deputada Luizianne Lins também questionou Alexandre Frota. A parlamentar perguntou qual a posição de Frota sobre a suspeita de vinculação de Bolsonaro com o assassinato de Marielle Franco. O deputado disse que ficou estarrecido com a notícia. “O Rio é minha cidade maravilhosa. E as pessoas dizem como ele é pequeno. Mas nunca que eu poderia imaginar na minha vida, e já teria ido algumas vezes na casa do Jair [Bolsonaro], que o suspeito de matar a Marielle morava dentro do condomínio do presidente. Fiquei mais surpreso ainda, quando soube que o filho [o mais novo de Jair Bolsonaro] namorou a filha do Ronnie Lessa [acusado de matar a vereadora do PSOL]. O próprio Jornal Nacional foi coeso em mostrar registros do dia que ele fez votação aqui [na Câmara Federal]. Agora, a pergunta que não quer calar: Quem atendeu o telefone com a voz parecida, e deixou o carro entrar? Quem? Essa é uma pergunta que a gente quer saber”, respondeu Frota.
Luizianne adiantou que convocará para depor na CPMI Gil de Diniz, Douglas Garcia e Edson Salomão, os quais são propagadores de fake news, via gabinetes lotados na Assembleia Legislativa de São Paulo, conforme afirmou Frota.
Ameaças
O vice-líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE), afirmou ter sido vítima de ameaças articuladas pela milícia digital apontada por Alexandre Frota durante o processo de votação de decreto presidencial de flexibilização do porte de armas de fogo no plenário do Senado. A denúncia, de acordo com o senador, foi levada, à época, ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre.
“Fui ameaçado por alguém que se dizia caminhoneiro, alguém que iria fechar a Esplanada dos Ministérios e quebrar todo mundo no cacete. Também fui vítima dessa milícia. Além da questão da democracia, do flerte permanente com o autoritarismo, estamos diante de uma permanente ação coercitiva dessa milícia que nos ameaça fisicamente através das redes sociais”, alertou.
Veja o vídeo da reunião da CPMI na íntegra:
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