A puberdade precoce em bebês, causada pela contaminação por agrotóxicos foi debatida na Comissão de Legislação Participativa, nesta terça-feira (2), na Câmara. A requerente e deputada Luizianne Lins (PT-CE), que acompanha as discussões sobre questões ambientais e, principalmente, o uso indiscriminado do agrotóxico no País, ficou assustada com os dados recentes, e dos últimos anos, com o número de venenos na alimentação dos brasileiros.
“Desde janeiro deste ano mais de 200 agrotóxicos foram autorizados pelo atual governo, representando o aumento da liberação de mais de 42% de pesticidas proibidos, inclusive, em boa parte do mundo devido ao seu alto grau de toxidade”, denuncia a deputada.
Diante da liberação indiscriminada do agrotóxico no Brasil, especialistas alertaram para a possibilidade de uma epidemia de doenças e ameaças concretas na vida dos brasileiros. Bebês e crianças começaram a ter sintomas de puberdade precoce em uma comunidade da cidade de Limoeiro do Norte (CE).
De acordo com um estudo feito pela Universidade Federal do Ceará, em menos de três anos nasceram cinco crianças com más-formações congênitas e três com puberdade precoce, em Tomé, na Chapada do Apodi (CE), comunidade com dois mil habitantes. Os pesquisadores investigaram as relações entre os casos ocorridos, e as exposições ambientais e ocupacionais aos agrotóxicos nessa localidade. O estudo feito, com essas oito famílias que estavam sendo afetadas, identificou uma exposição intensa aos agrotóxicos no sangue e na urina das crianças e familiares, assim como na água que chega às suas casas.
A deputada Erika Kokay (PT-DF) alertou sobre os produtos que provocam a estimulação da puberdade precoce e provocam a injeção de hormônios nas pessoas. “Quando estamos falando da puberdade precoce, estamos falando dos direitos de se viver as fases específicas da sua própria vida e da sua relação com o outro”, observou a parlamentar.
Novo modelo
Para o deputado petista Nilto Tatto (SP) é preciso repensar o modelo de agricultura, o modelo de produzir os alimentos, pois “todos sabem da violência dos agrotóxicos, hoje, inclusive, presentes em um quarto dos mananciais e torneiras de águas que chegam às casas das pessoas. As pesquisas vêm demostrando os impactos na biodiversidade, para o meio ambiente, para as mudanças climáticas e para a saúde dos brasileiros. Estamos produzindo morte na agricultura ao invés de produzir a vida” alertou o deputado.
Luizianne lembrou das recentes matérias noticiadas pelos jornais e sites brasileiros sobre o boicote de uma rede de supermercados, na Suécia, a produtos brasileiros em razão da presença de agrotóxicos. Outro caso que, aconteceu em fevereiro deste ano, um carregamento de soja que foi bloqueado na fronteira com a Rússia devido à presença acima do limite de glifosato. “Os episódios mostram como a liberação de agrotóxicos no Brasil vai na contramão da tendência mundial além de impactar na economia brasileira”.
Agronegócio
O deputado Marcon (PT-RS), que também participou da audiência, questionou se os empresários e produtores do agronegócio consumiam os produtos que eram produzidos por eles. “Será que eles comem os alimentos que eles produzem? Eles vão nos mercados da agricultura sustentável, para comprar essa mercadoria, porque aquilo que eles produzem, eles não dão para os filhos deles”.
Para o deputado gaúcho, o sistema tecnológico do agronegócio e das multinacionais, com patrocínio do governo, é para dizer que o agronegócio é viável. “Tudo que se proíbe em outros países, no Brasil se libera. Se antes a Anvisa era proibida de liberar, agora ela é pressionada para liberar veneno. Ter avanço é produzir organicamente”, argumentou o deputado.
Lorena Camelo