O grito de socorro “Parem de nos matar!”, que carrega o simbolismo de Zumbi, Dandara e Marielle, exclamado em alto e bom som pelo movimento negro, e pelas deputadas da bancada do PT Benedita da Silva (RJ), Erika Kokay (DF) e Gleisi Hoffmann (PR), ecoou no plenário da Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (14), como contraponto à clara provocação feita pelos bolsonaristas de extrema direita que convocaram sessão solene para comemorar o “Dia da Abolição”, em referência à Lei Áurea, assinada há 131 anos pela princesa Isabel.
“Todo 13 de maio sempre foi um dia de protesto da comunidade negra. O gesto da princesa Isabel foi corajoso? Foi, mas, antes, houve muitas lutas, levantes e resistência. Podemos dizer que escreveram a Lei Áurea porque a Coroa (portuguesa) não podia mais aguentar o movimento abolicionista, uma vez que já havia 90% dos negros em liberdade”, esclareceu a deputada Benedita da Silva.
A parlamentar disse que o que se presenciou e se registrou no plenário da Câmara mostra uma realidade camuflada pela maioria da sociedade brasileira. “Nós vimos ao vivo e a cores aquilo que falamos em discurso todos os dias. Temos uma elite branca que acha que libertou os negros e que isso foi um gesto de bondade ou favor”, refutou a petista.
Em uma fala emocionada, a deputada Erika Kokay disse que o ato é para homenagear Dandara, Zumbi e Marielle e todas as entidades que dizem “nossas vidas importam, nossas vozes importam, nossos corpos importam para que possamos fazer definitivamente o luto de uma escravidão que estará aos pedaços em nossa contemporaneidade”.
Erika enfatizou ainda, que o povo negro deste País, para viver, precisa ter a paz e a tranquilidade. Para isso, continuou a parlamentar, “é preciso viver sem medo de morrer, é preciso dizer que as vidas negras importam”.
Para a presidenta Nacional do PT, a deputada Gleisi Hoffmann, este momento é para se fazer questionamentos do que foi a escravidão no Brasil. “Vivemos em um país que foi construído com sangue, suor e dor de milhões de negros que foram trazidos para cá”, lamentou.
Desculpas
Gleisi lembrou que nesses 131 anos de vigência da Lei Áurea, apenas o presidente Lula pediu desculpas ao povo africano pelos negros que foram enviados ao Brasil para trabalhar em regime de escravidão. “O presidente Lula viajou a Ilha de Gorée, no Senegal, (ponto de saída dos navios negreiros), e pediu desculpas pela escravidão a que foram submetidos”, recordou Gleisi, ao se reportar a um dos momentos emocionantes na passagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Palácio do Planalto.
De acordo com Gleisi, o Brasil, a comunidade negra, não tem nada a comemorar com a Lei Áurea. “Temos que comemorar com a luta de negros e negras do País, e daqueles que estiveram juntos com eles para que pudessem ter liberdade e serem considerados cidadãos no Brasil”, finalizou.
Assista o vídeo da mobilização na Câmara dos Deputados:
https://www.facebook.com/ptnacamara/videos/470332797057552/?t=8
Benildes Rodrigues