Nesta quinta-feira (12), o povo baiano vai comemorar um fato histórico: pela primeira vez na história do Brasil, uma ialorixá ocupará uma vaga numa academia de letras. Mãe Stella de Azevedo dos Santos, Mãe Stella de Oxóssi, passará a ocupar a cadeira de número 33 da Academia de Letras da Bahia, cujo patrono é o poeta Castro Alves e cujo último ocupante foi o historiador Ubiratan Castro, que faleceu em janeiro e muito contribuiu com a valorização da cultura afro-brasileira.
Mãe Stella é colunista do jornal A Tarde e autora de livros como “Meu tempo é agora”, “Òsósi – O Caçador de Alegrias” e “Epé Laiyé- terra viva”. Em 2009, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade do Estado da Bahia (Uneb).
O deputado Zezéu Ribeiro (PT-BA) ocupou a tribuna da Câmara para homenagear a mãe de santo e estará presente logo mais na cerimônia de sua posse, marcada para às 20h na sede da Academia, no palacete Goes Calmon, em Nazaré. “Essa casa pode se orgulhar de ter rendido homenagem ao Ilê Axé Opô Afonjá, realizando sessão solene em 2010 para comemorar os 100 anos de um dos mais tradicionais terreiros de candomblé do país. Na sessão, sugerida por mim, tivemos a presença de Mãe Stella, atual ialorixá dirigente da Casa e de filhos e filhas do Ilê Axé Opô Afonjá, cujo nome em língua iorubá significa “Casa de Força Sustentada por Xangô,” afirmou.
Ele lembrou que na mesma época Mãe Stella foi recebida em Brasília pelo então ministro da Educação Fernando Haddad, quando foi apresentada a proposta de adoção dos livros de autoria de Mãe Stella pelo Ministério para serem utilizados como material didático no sistema de ensino do país. “Em minha opinião, ela é uma das legítimas representantes na Bahia das mestras dos saberes e fazeres, aqueles que transmitem sua sabedoria e não deixam a tradição dos povos ser tragada pela massificação cultural”, disse o deputado.
Na opinião de Zezéu, nesses tempos de tanta intolerância religiosa, em que vemos traficantes do Rio de Janeiro impedindo o funcionamento dos terreiros nas comunidades, é fundamental registrar a resistência de pessoas como Mãe Stella, que realizou o sonho da criadora do terreiro, dona Eugenia Anna dos Santos. A famosa Mãe Aninha, que fundou o terreiro no ano de 1910, dizia sonhar ver os filhos do Axé “de anel de doutor nos dedos e aos pés de Xangô”. Passados cem anos, e sob a direção de Mãe Stella de Oxossi, o Opô Afonjá, além de espaço de culto ao sagrado, é sinônimo do “axé” (força), de resistência cultural e local de afirmação das identidades negras.
No caso de Mãe Stella, trata-se de uma filha de Oxossi, escritora devotada à preservação da memória da cultura africana.
Assessoria Parlamentar