A pandemia da covid-19 não é um problema exclusivo do Brasil.
Porém, aqui, além da doença, enfrentamos o falso paradoxo entre escolher defender a saúde ou a economia.
Essa contradição é a maior fake news criada pelo governo de Jair Bolsonaro.
Uma recente pesquisa da socióloga Esther Solano, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), revelou um inegável desgaste do bolsonarismo, causado, entre diversos motivos, pela forma como o presidente se comporta durante a pandemia.
Bolsonaro e sua equipe econômica sobrevivem de mentiras, de invenções e da divisão do país, criando conflitos até com os próprios ex-ministros da Saúde.
Jair e seu núcleo criam argumentos e notícias para acusar quem defende a quarentena, de estarem contra o Brasil.
O fato é que medidas de preservação da vida devem ser criadas em paralelo com políticas econômicas, com o objetivo de evitar a dramática queda nas condições de vida da população durante a pandemia e a recuperação da agenda econômica no pós-pandemia.
Entidades como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmam desde o início da quarentena que “controlar a propagação do vírus é antes de tudo um pré-requisito para salvar as economias”, rejeitando o dilema de saúde versus economia.
A equação é simples: em vez de propagar a desinformação de forma criminosa, Bolsonaro deveria fazer jus ao cargo e implementar ações que evitem o avanço da covid-19, assim como muitos líderes estão fazendo em diversos países.
Quanto mais eficiente é um governo capaz de combater os danos sociais da pandemia, mais os efeitos da recessão econômica serão reduzidos.
Na Espanha, por exemplo, o governo aprovou uma série de medidas econômicas para atenuar o impacto da crise.
Cerca de 16 bilhões de euros (93,5 bilhões de reais) serão liberados para as regiões autônomas e será utilizado na recuperação dos serviços de saúde (9bilhões de euros) e de educação (2bilhões de euros).
O resto do dinheiro compensará a queda da receita causada pelo distanciamento social.
Os espanhóis ainda aprovaram uma parcela de 15,5bilhões para o Instituto de Crédito, sendo que desse valor, 7,5bi serão usados para auxiliar pequenas e médias empresas.
Em março, quando os países europeus estavam subindo nos índices da curva de contaminação, a União Europeia publicou uma Declaração dos Ministros de Finanças da União Europeia sobre o “Pacto de Estabilidade e Crescimento” no contexto da crise do coronavírus, já reconhecendo os impactos negativos e a recessão.
A partir dessa data, os líderes europeus formularam uma proposta de orçamento a longo prazo, de 2021 a 2027.
Além da proposta, o orçamento elaborado para 2020 foi emendado, com um acréscimo de 3,1bilhões de euros, destinados ao combate do vírus.
Vários outros fundos europeus foram direcionados para enfrentamento da crise financeira, flexibilização de recursos e auxílio emergencial para pescadores e produtores rurais.
Exemplos não faltam. Eu poderia citar aqui a Argentina, a Dinamarca ou a Nova Zelândia, entre tantos outros países, que estão sendo exemplos em isolamento social e proteção aos trabalhadores e aos mais vulneráveis.
Medidas emergenciais durante e pós-pandemia são soluções necessárias para garantir dignidade, assim como fizemos aprovando a Renda Básica Emergencial, com as leis que impedem o corte de luz, água e gás e a luta por linhas de crédito para micro e pequenos empresários, que até hoje estão esquecidos pelo governo federal.
Bolsonaro sempre pregou o Estado mínimo. Mas, se não fosse o Estado, o que seria da vida das pessoas nesse momento?
O que teria sobrado?
A importância do papel do Estado e dos investimentos no SUS, na pesquisa e na ciência ficaram muito mais evidentes agora.
Não há que se falar em economia ou saúde. Ambas andam juntas: preservar a vida é preservar a economia e o emprego.
Zeca Dirceu é deputado federal (PT-PR)
Artigo publicado originalmente no site VioMundo