Mesmo os mais afamados analistas políticos – além daqueles que têm acumulado experiências em disputas eleitorais – confessaram suas surpresas quando a imprensa passou a noticiar que Lula deseja ter como seu vice, nas eleições deste ano, Geraldo Alckmin, um ferrenho ex-adversário político do PT e do próprio Lula.
Parte da imprensa passou a noticiar o fato como sendo uma estratégia de Lula, visando com isso trazer para ele o apoio e o voto de uma parcela conservadora da sociedade.
O anúncio de Alckmin como vice na chapa de Lula – anúncio esse, repito, feito e defendido pelo próprio Lula – pegou de surpresa até mesmo uma boa parte dos filiados petistas. Para muitos desses militantes, o PT estará “dando um tiro no pé”. Para outros, menos felizes ainda com essa proposta, o PT estará “criando uma cobra para, mais na frente, ser picado por ela”.
Seja como for, há alguns meses os veículos de comunicação têm noticiado elogios recíprocos entre Lula e Alckmin. Li, por sinal, que Lula teria dito o seguinte a Alckmin, nesta última sexta-feira: “A partir de agora, não é mais para nos chamarmos de ex-governador Alckmin e de ex-presidente Lula. Agora, é companheiro Lula e companheiro Alckmin”.
Apesar de ter sido deputado estadual e de estar no meu segundo mandato de deputado federal, e sempre pelo PT, confesso que também fui pego de surpresa com o anúncio do ex-governador de São Paulo como vice do nosso candidato.
Não é algo simples de ser explicado, é bem verdade. Penso, no entanto, que essa indicação de Geraldo Alckmin como vice numa chapa petista para a Presidência da República encontra explicação, em primeiro lugar, na democracia que o PT sempre defendeu e que está na própria razão de existir do Partido.
Quem conhece a história do Partido dos Trabalhadores sabe que ele nasceu plural, democrático e com objetivos bem definidos, sendo um deles o de lutar pela Democracia como meio e fim. Nasceu para incluir o povo na política, para fazer, de fato, o trabalhador não somente votar, mas também ser votado e para discutir amplamente com a sociedade sobre as políticas públicas que a ela dizem respeito.
Em 1983, passados apenas três anos desde a sua fundação, o PT já se destacava como um dos maiores protagonistas da luta pelas “Diretas Já”.
E Lula, que sempre assimilou todo esse ideal democrático construído no Partido pelos movimentos sociais, sindicais e de trabalhadores do campo e da cidade, diz: “Não é hora de lembrarmos daquilo em que Alckmin e eu somos diferentes, mas de somarmos, democraticamente, aquilo que temos em comum, para tirarmos o país da situação trágica em que ele se encontra”.
Em segundo lugar, no convite de Lula a Geraldo Alckmin para ser vice em sua chapa está a grandeza moral do próprio Lula.
A exemplo de Mandela, Lula não quis se apequenar. Saiu de sua cela – na qual amargou mais de 500 dias de uma prisão injusta – sem ódio de seus adversários e ex-adversários, sem mágoa, sem desejo de revanche e, por amor ao país e pela consciência da conjuntura, promove uma caminhada jamais vista, chamando para essa caminhada, inclusive, aqueles que outrora lhe ofendiam.
A aliança com Alckmin – ou com o companheiro Alckmin, como disse Lula – é o símbolo da grandeza de Lula no caminho da restauração das nossas soberania e democracia e na reconstrução do nosso país.
*Zé Carlos é deputado federal (PT-MA)*