Estamos de luto desde a primeira morte pela Covid-19, no Brasil, em 12 de março de 2020. Após 464 dias, nesse último sábado, 19 de junho, ultrapassamos a uma marca de meio milhão de vidas perdidas. Vítimas do coronavírus, e ainda vítimas de um enfrentamento a pandemia que não existiu por parte do Governo Federal.
São 500 mil pessoas que morreram, porque nesses 464 dias não vimos ações efetivas, nem do Ministério da Saúde, nem do Presidente da República. Muito pelo contrário. Vimos, desde a primeira notícia da doença, a descrença na ciência e nos profissionais de saúde, além da recusa a medidas que poderiam ter segurado a curva de transmissão do vírus no Brasil. Assistimos ao escárnio do presidente com as mortes, com a dor das famílias, com o esforço de médicos, cientistas, enfermeiros e auxiliares na tentativa de salvar pessoas.
Testemunhamos governadores e prefeitos pedirem apoio para fazer o que fosse necessário para não colapsar o Sistema Único de Saúde (SUS) em seus estados e municípios. Isso porque os pacientes e mortos se acumulavam nos postos de saúde e hospitais públicos e até em ambulâncias. Escutamos relatos e choros de familiares que estavam enterrando parte deles junto com parentes e amigos, que não resistiram aos efeitos devastadores da Covid-19.
Tivemos quatro ministros da Saúde nesse período, e nenhum conseguiu sensibilizar o Governo sobre a gravidade da crise humanitária, que vivemos até os dias de hoje. Fomos obrigados a ver, ainda, pessoas morrerem por falta de oxigênio no Amazonas. Isso mesmo, poderiam estar vivas, mas não tiveram oxigênio para respirar dentro de um hospital. Não houve planejamento, ao menos urgência para fazer o que devia ser feito. Houve omissão.
Perdemos meio milhão de brasileiros e brasileiros, que não viram campanhas nacionais sobre cuidados, sobre o uso da máscara, distanciamento seguro e álcool gel. Mas tiveram que engolir um governante promovendo aglomerações em todas as suas saídas e agendas oficiais.
Se não fosse a pressão e votações no Congresso Nacional, não haveria nem auxílio emergencial de R$ 600, nem medidas de amparo à população mais vulnerável. A ajuda aos micro e pequenos empresários chegou tarde, o pacote de medidas econômicas chegou atrasado e insuficiente. E estamos em plena crise socioeconômica no país, com desemprego, miséria e fome.
Nenhuma mensagem de solidariedade, de visita aos hospitais, de homenagem aos trabalhadores que atuam na linha de frente de combate a pandemia. Nada.
E, mais uma vez, quando o mundo abriu as portas para um cenário de mais esperança para combater o vírus, a vacina, o presidente fechou as nossas. As ofertas de imunizantes de vários laboratórios foram recusadas ou ignoradas. Nos tornamos vergonha mundial, mau exemplo de como lidar com a Covid-19.
É revoltante, saber que não era para perdemos meio milhão de pessoas. Que muitas famílias deveriam estar completas em suas casas. Cientistas afirmam se no Brasil o desempenho no enfrentamento a pandemia tivesse sido na média mundial, até 396 mil mortes, poderiam ter sido evitadas do país.
396 mil pessoas estariam com seus filhos, netos, pais, avós.
Meio milhão de vidas perdidas e ainda estamos em marcha lenta na vacinação, com auxílio emergencial menos abrangente e com valor menor. Com economia “respirando por aparelhos”.
Estamos lutando por mais vacinas, por medidas eficazes, por justiça para quem sofreu perdas. Ainda temos que falar de máscaras, de álcool gel, de distanciamento social. Não deixaremos que meio milhão de pessoas tenham morrido em vão. Vamos continuar brigando para que o Governo cumpra a Constituição Federal, garantindo saúde, dignidade humana e condições de vida para todos.
Enio Verri é deputado federal (PT-PR)
Artigo publicado originalmente no Brasil 247