Vacinar obesos deve ser prioridade na pandemia, afirmam participantes de audiência pública

A obesidade pode aumentar em até 400% o risco de óbito em caso de contaminação do coronavírus. Conforme consenso entre os participantes de audiência pública realizada nessa terça-feira (27) na Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19, da Câmara de Deputados, não só os obesos mórbidos devem ser vacinados, como está previsto no Plano Nacional de Vacinação (PNI), mas também os com níveis de obesidade grave e moderada.

“Houve uma consulta ao CDC (órgão sanitário dos EUA) em 2020 para a definição de quais seriam as comorbidades que agravam a letalidade do coronavírus, e foi incluída apenas a obesidade mórbida. Mas um estudo de março, o CDC já elege como prioridade a obesidade em grau 1 e grau 2, e o nosso PNI não fez nenhuma revisão”, alerta o deputado federal Jorge Solla (PT-BA). Foi essa a principal reivindicação dos participantes da audiência. “Estamos morrendo, vendo nossos amigos morrer, a vacina para a gente é questão de sobrevivência”, clamou Nélia Almeida, coordenadora do Coletivo de Pessoas com Obesidade da Bahia.

Deputado Jorge Solla. Foto: Gabriel Paiva/Arquivo

“Vai Ter Gorda”

A coordenadora Nacional do Movimento “Vai Ter Gorda”, Adriana Santos Silva, destacou a incapacidade dos serviços de saúde, públicos e privados, de darem atendimento adequado aos obesos em todo o País. “O Brasil não dispõe de estrutura para o atendimento humanizado da pessoa gorda. De tensíometro a macas e cadeiras de rodas, ou até mesmo equipamentos de tomografia e ressonância magnéticas. Também não temos profissionais que saibam receber a pessoa gorda com dignidade e respeito, sem discriminação”, afirmou.

O médico Nilson Oliveira Jr, do Hospital de Ilhéus (BA), administra uma unidade referência em cirurgia bariátrica que, durante a pandemia, dedica-se a tratar pacientes com coronavírus prioritariamente de pessoas com obesidade. “O que a gente vê agora são pacientes mais jovens, e mesmo assim a obesidade aumenta em 2,5 o risco de óbito. O obeso é mais difícil de tratar porque não conseguimos pronar, o abdômen sobe e comprime o tórax. É um paciente que em geral também tem outras comorbidades, como hipertensão e diabetes”, exemplifica. Para Solla, o problema ainda vai além: o Ministério da Saúde não editou qualquer protocolo que oriente as equipes de saúde quanto ao atendimento das pessoas com obesidade infectadas pelo coronavírus.

Cirurgias bariátricas

O médico Ricardo Cohen, representando o Conselho Federal de Medicina, destacou a relevância do SUS planejar o momento de retomada das cirurgias eletivas, que exigirá um esforço para dar vazão aos tratamentos represados durante a pandemia, em especial as cirurgias bariátricas. “Menos de 1% das pessoas em que há indicação de cirurgia bariátrica são operadas. A obesidade é a grande pandemia do século e tem sido negligenciada mundialmente. O câncer e obesidade têm o mesmo comportamento, são doenças crônicas, progressivas e letais. Precisamos trazer laparoscopia (cirurgia por vídeo) pro SUS, pois não traz só benefícios clínicos, mas de custos também. A cirurgia se paga de 3 a 5 anos”, destacou.

No fim da audiência, os parlamentares deliberaram por encaminhar ofício ao Ministério da Saúde requisitando a ampliação da vacinação das pessoas com obesidade, para além dos classificados como obesidade mórbida, bem como a elaboração de um plano para a expansão das cirurgias bariátricas para atender a demanda reprimida.

A audiência também contou com a participação de Camila Vasconcelos, professora da Universidade Federal da Bahia, Cristiane Muniz, da ONG Casa do Obeso de Itabuna, e Fábio Viegas, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.

Assessoria de Comunicação

 

 

 

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