A intervenção federal militar no Rio de Janeiro pode provocar matança sem precedente na história do Brasil. O alerta é do deputado Wadih Damous (PT-RJ), que em entrevista ao vivo às redes sociais do PT na Câmara na tarde desta quarta-feira (21) considerou a medita de “caráter marqueteiro e pirotécnico”. Ele afirmou que o governo Temer está utilizando o Exército para implantação de políticas ultraneoliberais. “E, tenho certeza também de que isso é uma prevenção a possíveis reações contra uma eventual prisão do ex-presidente Lula”, acrescentou.
Na avaliação do deputado, que já foi presidente da OAB-RJ, o Exército vai sair desmoralizado desse tipo de operação. “Ele (Exército) não foi concebido para isso. Não se pode tratar segurança pública com a lógica da guerra, que é a lógica do militar. O enfrentamento da criminalidade quem tem que fazer é polícia, por meio da investigação, da prisão – quando for o caso”.
Damous reforçou que a lógica do militar é matar, é tratar o território do conflito como hostil. “E como é que você pode tratar como território hostil o local de moradia de milhões de pessoas, como é o caso das favelas do Rio? Então, nós estamos diante de uma possiblidade de chacina”, lamentou. Ele explicou que é bem possível que ocorra confronto do Exército com traficante ou milicianos armados. “E, se em um confronto desses morrer um soldado, a lógica do Exército não é recuar, porque seria uma desmoralização. Então, aí pode acontecer uma matança sem precedente. É bom que se pense muito bem nisso”, ponderou.
Derrota – Durante a entrevista, foi mostrado ao parlamentar a foto que estampa a manchete do jornal Folha de S.Paulo de hoje (21), na qual soldados do Exército aparecem revistando crianças em uma escola da periferia do Rio. Para Wadih, a foto fala mais do que qualquer discurso. “Ela resume o que é a intervenção militar no Rio e mostra a derrota da medida. Qual é a cor das crianças? Todas negras e filhas de moradores da favela. Duvido que um dia vai sair uma foto dessas de militares agindo da mesma forma em escola da zona sul.
Na avaliação do deputado do PT-RJ, o sistema de justiça brasileiro, pela sua face seletiva é racista, “funciona de acordo com o CEP (endereço) e a cor da pele”. Ele frisou que nas favelas do Rio isso já acontece, mesmo antes da intervenção militar, e avalia que vai piorar com esse recrudescimento.
Wadih Damous destacou ainda que a cidade do Rio, na qual ele mora, não está nem entre as 30 cidades mais violentas do País e que o estado do Rio também não é o primeiro da lista na estatística da violência. Ele está em 10 lugar. “A intervenção é uma fabricação, uma narrativa de um estado conflagrado, que está longe disso, para justificar no imaginário das pessoas e legitimar esse estrupo da ordem constitucional e aos direitos dos cidadãos, sobretudo do cidadão que mora em bairros pobres, em favelas e são negros. É para legitimar essa violência”.
Wadih Damous defendeu uma reforma do Judiciário. “É preciso pensar, redesenhar e redimensionar o Poder Judiciário brasileiro, mas, infelizmente, isso só será possível quando a democracia for reconquistada”, admitiu.
O deputado falou ainda sobre o descumprimento do teto salarial constitucional, que é descumprido pelo Judiciário, e destacou a proposta de sua autoria e do deputado Paulo Pimenta (PT-RS) que transforma em improbidade administrativa o ato de receber, autorizar o pagamento ou pagar remuneração acima do teto de vencimentos previsto em lei.
Rebateu também as provocações do procurador Deltan Dallagnol que, a propósito dos mandados de mandado coletivo de busca e apreensão nas favelas do Rio, sugeriu revistas aos gabinetes de parlamentares no Congresso e falou sobre abuso de autoridade.
Assista a íntegra da entrevista no:
Vânia Rodrigues
Foto: Gustavo Bezerra/PTnaCâmara