O mercado especulativo do dólar escancara, cada vez mais, o uso político do Banco Central para impulsionar a oposição ao governo Lula.
Não são as falas de Lula que geram tensão; são os jantares em torno do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, são os seus (dele) encontros com possíveis candidatos presidenciais em 2026, as palestras com ataques ao governo, as manipulações de pesquisas e dados que servem de base às reuniões do Copom, os relatórios duvidosos da Focus.
Os economistas que atacam o governo são sempre os mesmos quatro ou cinco representantes de fundos e agentes financeiros. Eles retroalimentam uma tensão criada por eles mesmos.
A economia vai bem, mas o BC surpreende interrompendo a já tímida queda nas taxas de juros. Por que será? Falando em um fórum promovido pelo Banco Central Europeu (ECB) em Sintra, Portugal, Campos Neto reconheceu que a decisão tinha a ver com os “ruídos relacionados às expectativas para as políticas fiscal e monetária”. E o que são esses ruídos? Boatos, especulações. Espalhados por esses agentes da oposição política, eles ganham status e são levados em conta em decisões que afetam diretamente a economia do país e a vida do povo brasileiro. Geram, alimentam e proliferam o tumulto.
Esse comportamento deixa flagrante que a autonomia do BC é um conto da carochinha, uma conversa pra boi dormir. Porque é bem diferente do que mantinha no governo do inelegível.
Em agosto de 2019, muito antes da pandemia da covid-19, o Banco Central de Campos Neto Bolsonaro atuou decisivamente para conter a escalada do dólar, apoiando o governo. A partir daquele momento, o banco retomou uma prática interrompida havia dez anos e passou a operar a venda direta ao mercado financeiro de dólares das robustas reservas internacionais brasileiras, deixadas pelos governos Lula e Dilma. De agosto de 19 a março de 2021, o BC se desfez de US$ 68,2 bilhões daquelas reservas. Só no primeiro ano, foram 36,9 bilhões de dólares. Ao longo dos quatro anos de mandato do inelegível foram US$ 74,18 bilhões, em intervenções.
Agora, diante da reconhecida ação especulativa do mercado do dólar, Campos Neto faz cara de paisagem e foge à responsabilidade de cumprir uma das missões do BC, que é exatamente a de combater as ondulações do câmbio.
Ao não intervir no câmbio, o BC prejudica diretamente o desempenho da economia.
Nesta semana, a previsão do relatório Focus para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 2024 continuou em 2,09%. Um mês atrás, estava em 2,05%. Considerando as 38 estimativas atualizadas nos últimos cinco dias úteis, passou de 2,07% para 2,10%.
Já a previsão do FMI aponta que o PIB brasileiro somará US$ 2,331 trilhões, neste ano de 2024, quando o país poderá voltar à posição de oitava economia do mundo. Mas, quanto mais o dólar sobe, mais este valor cai.
Campos Neto tem o dever de ofício de atuar para conter a alta do dólar, está em seu contrato de trabalho na presidência do Banco Central. Não é pago, regiamente pago, para criar crises, fomentar conflitos, alimentar o noticiário com declarações ou insinuações negativas. Não é e nem pode agir como analista político, pior, como agente político.
Parece evidente que o Sr. Roberto Campos Neto quer dedicar os seus últimos cinco meses à frente do Banco Central para tentar solapar o governo. Não podemos permitir.
Os avanços do governo Lula incluem geração de empregos, controle da inflação, retomada dos investimentos, recuperação do prestígio internacional, inclusão social, redução da desigualdade. Estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) destaca o impacto positivo da Lei Paulo Gustavo na economia do Rio de Janeiro. Segundo o levantamento, cada R$ 1 investido na cultura gerou um retorno de R$ 6,51 no estado em 2023.
São conquistas que não podem ser prejudicadas pelas aspirações e conspirações políticas de Campos Neto.
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(*) Reimont é deputado federal (PT-RJ)
Artigo publicado originalmente no site Brasil 247