(*) Padre João
Imagine acordar e se deparar com a notícia de que mais de 4 mil crianças foram injustamente mortas, enquanto um povo inteiro vive aprisionado por um muro, privado de comida, água
potável e oportunidades de trabalho. Ao longo da história, testemunhamos situações similares sendo categorizadas como genocídio, campos de concentração, apartheid ou massacres.
Surpreendentemente, tudo isso ocorre diante de nossos olhos, transmitido ao vivo na TV e aceito como parte da normalidade por uma parcela significativa da sociedade. Não há Plantões
da Globo, jornalistas em lágrimas ou mobilizações em defesa do povo palestino. Se você não se solidariza com a tragédia palestina, é hora de reavaliar sua compreensão de humanidade.
Uma simples comparação com diversos conflitos ou guerras recentes revela a magnitude dessa atrocidade. A guerra na Ucrânia, com quase dois anos de duração, apresenta uma média de
0.7 crianças mortas por dia. O conflito na Síria, que se estende por 11 anos, resultou na morte de 12 mil crianças, uma média de 3 por dia. Agora, considere o mês de confronto na Faixa de
Gaza, em que 4.100 crianças palestinas perderam a vida, alcançando uma média de 136 mortes diárias.
O extermínio de crianças em Gaza não pode ser ignorado. Israel é sim um estado terrorista, e estamos testemunhando um projeto de genocídio étnico.
No dia 8 de novembro, realizamos na Câmara dos Deputados um ato em apoio aos palestinos e contra o genocídio perpetrado por Israel. O evento contou com a presença de diversas
embaixadas ao redor do mundo, entidades em defesa da Palestina, e vários deputados e deputadas. Foi idealizado pelos deputados Padre João (PT-MG), Erika Kokay (PT-DF), Jandira
Feghali (PCdoB-RJ), Fernanda Melchiona (PSOL-RS) e Glauber Braga (PSOL-RJ).
No evento, lançamos um manifesto que foi assinado por mais de 60 deputados. No documento, pedimos um cessar-fogo urgente e a garantia de corredores humanitários. Solicitamos que o governo brasileiro atue energicamente pelo fim do genocídio, da ocupação e do apartheid, em respeito ao direito internacional e às resoluções da ONU. Além disso, pedimos que o governo brasileiro chame o embaixador do Brasil em Israel para consultas e que não promulgue os acordos de cooperação militar e de segurança assinados por Bolsonaro com Israel.
Crimes de guerra
Que crime de guerra Israel ainda não cometeu? Talvez apenas o nuclear. Em um único mês de massacre, mais de 24 mil toneladas de bombas foram despejadas em Gaza, equivalente a
quase duas bombas de Hiroshima. Escolas foram destruídas, hospitais não podem operar devido à falta de equipamentos e suprimentos, e inúmeros civis foram assassinados, inclusive
com o uso de armas químicas. Diariamente, Israel comete centenas de crimes e o mundo olha como se fosse mais um dia normal.
A realidade é dura e necessária para todos saberem. No campo de concentração, eles sabiam que morreriam logo. Em Gaza ou na Cisjordânia, a crueldade é lenta. Tira o acesso aos itens
básicos, não consegue trabalhar, toma a sua casa sem justificativa, é preso sem nunca saber o motivo, sofre com o medo de morrer diariamente.
Relatos de palestinos mostram que estar bem na Palestina é saber que está vivo, porque não tem comida e a qualquer momento a pessoa pode sumir.
Israel controla até a quantidade de calorias que o palestino pode consumir, jogam veneno nas plantações, concretam poços de água e ninguém pode sair de dentro do muro. Muitos jovens
palestinos nascem com pena de morte e muitos jovens nunca viram a vida para fora do muro.
É a maior tortura já vista na história.
Estamos ao lado da paz, da vida e do bem. Não nos calaremos, e saibam que representamos cada palestino que sofre diariamente com mais esse genocídio perpetrado por Israel. Os
palestinos vivem em um ciclo interminável, onde não há último dia, não existe último morto. A cada minuto, uma vida é tirada, uma criança é morta, enquanto muitos olham como se fosse
algo normal. Palestina livre já!
(*) Padre João é deputado federal (PT-MG)