Foto: Assessoria Parlamentar
A monocultura do eucalipto no sul e extremo sul da Bahia para produção de celulose ocupa cerca de 500 mil hectares em mais de 24 municípios. A produção começou no início dos anos 90 e hoje o cultivo produz cinco vezes mais que em outras regiões do país. Essa expansão trouxe problemas como o desmatamento, degradação de recursos hídricos, descumprimento de normas ambientais e, principalmente, a grande utilização de agrotóxicos químicos nas plantações e uma série de problemas de saúde para os trabalhadores do setor. Outro problema causado pela monocultura do eucalipto é a diminuição de áreas agricultáveis, da produção agrícola e de empregos.
A situação atinge mais de 24 municípios
Para debater o impacto social e à saúde do trabalhador provocado por essa situação, a Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara fez, nesta quinta-feira (24), uma audiência pública. O encontro foi solicitado pelo próprio presidente da CSSF, deputado Amauri Teixeira (PT-BA). “Em alguns municípios da região a área de cultivo de eucalipto ocupa até 85 por cento do território. O Brasil é líder mundial no uso de agrotóxicos e as empresas aqui usam produtos que não são aceitos mais vários lugares do mundo”, destaca Amauri.
Carlos Chaves Silva, da Secretaria de Assalariados Rurais da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) afirmou que a atividade florestal substituiu diversas culturas, como a fruticultura, que empregava cerca de cinco pessoas por hectare. Enquanto a de celulose gera cerca de 0,4 emprego por hectare. “Outro problema é a dependência econômica dos municípios. Em 2010, em Eunápolis, uma grande empresa demitiu de uma vez só 700 trabalhadores alegando a crise financeira mundial. O impacto foi imenso. E o monopólio do mercado regional de trabalho desarticula a ação de sindicatos”, ressalta. Ele também lembra que não adianta ter máquinas modernas se existe excesso de jornada de trabalho. “Já entramos com uma ação na justiça da Bahia para redução da carga horária. Sem falar que os trabalhadores que aplicam herbicidas são terceirizados e o problema é maior ainda. Em algumas áreas, por causa da distância, não é respeitado o intervalo de onze horas entre uma jornada e outra. Inclusive pedimos ajuda da União Internacional dos Trabalhadores Agrícolas (Unita)”, alerta o sindicalista.
A maior empresa do mundo na produção de celulose está no sul da Bahia. A informação é de Silvanio Oliveira, presidente do Sindicato dos trabalhadores na silvicultura, no plantio, nos tratos culturais, extração e beneficiamento da madeira em atividades florestais e indústrias moveleiras no extremo sul da Bahia (Sintrexbem). Ele denuncia a série de doenças provocadas pelas condições de trabalho.
“Cada trabalhador do viveiro lida com quatro mil mudas por dia e faz cinco movimentos com as mãos. Ou seja, 20 mil movimentos por dia. Danos para ombros, braços e punhos. Para aplicar herbicida carregam bombas com o produto nas costas embaixo do sol. Problemas de intoxicação e coluna. E o INSS não reconhece as doenças provocadas por agrotóxicos”, afirma. Ele também lembra que quem comanda máquinas repete milhares de vezes os mesmos movimentos para derrubar cerca de 100 árvores por hora em oito horas diárias de trabalho. Ou seja, 800 árvores dia. Ele apresentou um laudo de especialista que mostra que, em um mês, são 2,5 milhões de movimentos repetitivos. “E as empresas não reconhecem que as doenças foram causadas por essas atividades, e o trabalhador é demitido. Ele afirma que peritos no INSS na região também prestam serviços para as empresas de celulose. “Isso é imoral. E tem mais. Hoje mesmo recebi denúncia de que empresas terceirizadas estão aumentando para 12 horas a jornada de trabalho”, conclui Silvanio.
O representante do Ministério da Saúde, Jorge Huet Machado, informou que o SUS já desenvolve ações junto a trabalhadores de uma das empresas de celulose na prevenção de danos para a coluna. Ele destaca ainda que o ministério destinou R$ 900 mi para ações de vigilância sanitária ligadas ao uso de agrotóxicos. “Em 2013 tivemos 560 mil casos de doenças do trabalho e as intoxicações por agrotóxicos estão em terceiro lugar no ranking de mortes”, diz Jorge.
Para o médico e consultor da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (Abaf), Hudson Couto, as máquinas usadas nas lavouras de eucalipto cumprem exigências como bancos ergonômicos com seis regulagens e mecanismo de amortecimento. Ele também informou que, por causa de uma série de medidas tomadas pelas empresas para diminuir fatores que provocam doenças nos trabalhadores, não há necessidade de redução da carga horária.
Já Wilson Trindade, diretor da Abaf, ressaltou que o setor sempre tem interesse no diálogo e soluções de consenso. “Nossa produção é superior a da Austrália , Chile e China. E geramos na região 320 mil empregos, entre diretos e indiretos”, afirma.
O presidente da comissão, deputado Amauri Teixeira destacou que um seminário sobre o tema vai ser feito em Salvador, dia 23 de maio.
O deputado também disse que deve apresentar um Projeto de Lei que reduza para 6 horas a carga horária dos trabalhadores do setor.
“Queremos que essa atividade tenha sustentabilidade, diversidade e gere qualidade de vida para região. Se a produtividade é cinco vezes maior que em qualquer lugar do mundo, porque não é possível que os trabalhadores tenham uma jornada menor e melhores condições de saúde?”, questiona Amauri.
Assessoria CSSF