Um dia após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) negar os pedidos de importação da vacina Sputnik V por falta de documentações que certifiquem sua eficácia e segurança, audiência pública na Câmara de Deputados, nesta terça-feira (27), debateu os impasses com a aquisição desta vacina por parte dos governadores do Nordeste e do Governo Federal. Autor do requerimento que originou a audiência, realizada na Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19, o deputado federal Jorge Solla (PT-BA) defendeu que o Ministério da Saúde deveria liderar a decisão pela autorização do uso da vacina.
“Considerando que não há relatos de efeitos colaterais com a Sputnik V; que há referências da eficácia dessa vacina onde foi aplicada; considerando que estamos com uma epidemia completamente descontrolada no País, com 3 mil mortos por dia, vamos botar na balança e pesar: qual é o risco real da utilização da Sputnik V nas condições que estamos vivendo hoje? E o risco real de, ao atrasarmos mais a cobertura vacinal, aumentarmos em milhares o número de mortos em nosso País? Qual o maior prejuízo para a saúde da população brasileira, correr o risco de usar uma vacina que está com questionamentos ou continuar com o pico de mortos como vivemos hoje? É questão de pesar os riscos e benefícios, e me parece que os benefícios são infinitamente maiores que os riscos”, defendeu o petista (foto), que também é médico.
Para o deputado Alexandra Padilha (PT-SP), os técnicos da Anvisa tomaram uma decisão a partir das informações que foram disponibilizadas a eles.
No entanto, o ex-ministro da Saúde pergunta: “Por que a Anvisa não tinha todas as informações sobre as vacinas? Por que Bolsonaro não facilitou o acesso às informações? O presidente é responsável por isso. É obrigação do governado federal facilitar todos os tipos de cooperações internacionais para acesso da população à vacina. E isso não ocorreu em nenhum momento”, criticou Padilha.
Reunião com os russos
Na audiência, o governador do Piauí e presidente do Consórcio Nordeste, Wellington Dias (PT), revelou ter realizado na manhã desta terça uma reunião com autoridades russas, que se comprometeram a complementar os dados exigidos pela Anvisa. “Eles se colocaram à disposição de enviar outros documentos. Há vários estudos demonstrando não só baixos efeitos colaterais, demonstrando segurança, e também elevado índice de eficácia, que apontam condições de imunização coletiva”, defendeu o governador, que ressaltou ter contrato para aquisição de 37,5 milhões de doses da vacina Sputnik via Consórcio Nordeste, firmado conforme autorizou a Lei 14124/21, que reconheceu a reguladora russa como autoridade sanitária com credibilidade para registro de vacinas.
Padilha ainda lembrou que desde o ano passado a vacina Sputnik foi ofertada ao governo brasileiro. “E a postura de Bolsonaro frente a essa questão foi absurda: deixou de lado qualquer possibilidade de comunicação bilateral com a Rússia. O que deveria ter sido feito? Um acordo, como fizemos na pandemia de H1N1, no qual as duas instituições envolvidas acompanhavam, juntas, toda pesquisa e aplicação das vacinas. Bolsonaro simplesmente lavou as mãos”, denunciou o ex-ministro da Saúde.
Para o deputado paulista, a relação primordial aqui é entre países. Bolsonaro deveria estar, desde metade do ano passado, acompanhando todo o processo de pesquisa da Sputnik. “Deveria estar em contato direto com o presidente da Rússia e com seu ministro da Saúde combinando as melhores formas de adquirir todas as informações necessárias para aprovação da vacina em território brasileiro”, enfatizou Padilha, que deixa claro: “A Anvisa não é a culpada da situação. Bolsonaro, novamente é quem atua contra a vida e contra a Saúde de seu povo”.
Na audiência pública realizada na Câmara ficou claro que a Anvisa não descarta a Sputnik, mas precisa de todas as informações para autorizar seu uso. “Vocês acham que Bolsonaro e seus ministros fizeram hoje o que deveriam? Ligar para a Rússia e estabelecer o fluxo de informações?”, indagou Padilha.
O gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos Anvisa, Gustavo Mendes, destacou que novos documentos podem modificar a decisão da Anvisa. “A angústia é nossa, precisamos de vacina, e precisamos aumentar o acesso enquanto antes. Mas só esse sentimento não pode guiar nossa ação, nossa ação é técnica. Sensibilizem os desenvolvedores da vacina para que a gente tenha acesso a dados”, disse.
Assessoria de Comunicação