O governo Bolsonaro mostra uma clara preferência por comprar vacinas a preço superfaturado com a ajuda de empresas intermediárias. Depois dos escândalos da caríssima Covaxin, negociada com a ajuda da empresa Precisa, e da tentativa de elevar o preço de doses da Astrazeneca oferecidas pela Davati e Senah, surge agora nova denúncia envolvendo a compra da vacina Sputnik V.
Reportagem do site The Intercept desta sexta-feira (9) mostra que, ao comprar 10 milhões de doses do imunizante russo, o governo Bolsonaro pagou US$ 2 a mais por dose que o valor pago pelos governadores do Consórcio Nordeste e de outras unidades da federação. Enquanto o Ministério da Saúde pagou US$ 11,95, os estados pagaram US$ 9,95 por dose.
Além do preço, há uma diferença crucial entre os dois negócios: enquanto governadores negociaram diretamente com o fabricante (o Fundo Direto de Investimento Russo, que financiou o desenvolvimento da Sputnik V), o Ministério da Saúde colocou uma empresa intermediando a compra, como fez no caso dos dois outros escândalos.
A empresa é a União Química, que o Intercept descreve da seguinte maneira: “A farmacêutica com sede no Distrito Federal pertence a um empresário que já doou dinheiro a um partido do Centrão, o PSD; tem um ex-deputado do Centrão como diretor; e conta com o lobby do líder de Bolsonaro na Câmara e ex-ministro da Saúde, o deputado federal do Centrão Ricardo Barros, do PP do Paraná”.
O contrato entre o Ministério da Saúde e a União Química — que pertence a Fernando Marques e é dirigida pelo ex-deputado federal Rogério Rosso — foi firmado em 12 de março, três dias antes de o general Eduardo Pazuello deixar o comando da pasta. Foi Roberto Dias, servidor que saiu preso da CPI da Covid na última quarta-feira (7), quem assinou a compra de 10 milhões de doses a um custo de R$ 693,6 milhões. “Feito o câmbio de dólar para real, o negócio sairá R$ 120 milhões mais caro do que se o governo tivesse imitado os estados”, informa o Intercept.
A denúncia já entrou no radar da CPI da Covid. Na abertura da sessão desta sexta-feira, o senador Humberto Costa (PT-PE) frisou que esses R$ 120 milhões a mais podem ser chamados de superfaturamento. “Tudo faz crer que há, aqui, um processo de superfaturamento. A mesma vacina, comprada da mesma fonte, utilizando os mesmos caminhos e, no entanto, com diferença de US$ 2 por dose”, observou Costa, que anunciou já preparar os requerimentos necessários para que a CPI investigue o caso.
Consórcio Nordeste prestes a receber doses
Enquanto Bolsonaro apresenta ao país mais uma compra de vacina superfaturada e intermediada por empresários, governadores mostram que é possível proteger a população e os cofres públicos ao mesmo tempo. O governador do Piauí e presidente do Consórcio Nordeste, Wellington Dias (PT), anunciou que, após assinar termo de compromisso com a Anvisa, os estados da região receberam autorização de importação e uso emergencial da Sputnik V.
Segundo Dias, o primeiro lote a ser recebido pelo Consórcio Nordeste é equivalente a 1% da população da região, totalizando 1 milhão e 147 mil doses. “Começa a entrega do primeiro lote até completar 37 milhões de doses para salvar vidas no Brasil”, afirma o governador (veja vídeo abaixo).
Da Agência PT de Notícias