Sessão Solene em homenagem aos 49 anos da Embrapa vira ato contra desmonte da empresa

Sessão solene Embrapa. Foto: Lula Marques

Funcionários da Embrapa e parlamentares petistas acusaram nesta terça-feira (26) o governo Bolsonaro de promover uma política de desmonte da Embrapa com o objetivo de beneficiar o setor privado. Durante a sessão solene da Câmara que homenageou os 49 anos da Embrapa, de iniciativa da deputada Erika Kokay (PT-DF) – que também presidiu o evento – foram apontados como retrocessos o atual “plano de reestruturação” tocado pela direção da empresa, financiado pelo agronegócio e sem participação dos funcionários, além dos sucessivos cortes no Orçamento que prejudica o desenvolvimento de pesquisa e inovação.

O presidente do sindicato que representa os trabalhadores da Embrapa – Sinpaf (Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário) – Marcus Vinícius Vidal, disse que a empresa tem uma trajetória de sucesso nos últimos 49 anos por meio do desenvolvimento de pesquisas que permitiram o aumento da produtividade, a adaptação de culturas agrícolas em vários biomas, além do melhoramento genéticos de rebanhos. No entanto, ele lamentou que nos últimos anos, especialmente agora no governo Bolsonaro, a empresa pública esteja sofrendo uma tentativa de desmonte.

“Todas as pesquisas que permitiram a agropecuária se expandir pelo País ocorreu graças a investimentos públicos. Infelizmente, hoje a Embrapa sofre um processo de captura. A sua atual diretoria está promovendo parceria com a iniciativa privada para ‘reestruturar’ a empresa, cujo resultado será o redirecionamento das pesquisas segundo o interesse desses parceiros. Isso tem nos preocupado, porque em nenhum momento essa parceria foi discutida com os funcionários da Embrapa. A forma como isso tem sido feito vai transformar a Embrapa em um balcão de negócios”, alertou.

A deputada Erika Kokay (PT-DF) ressaltou que o Partido dos Trabalhadores é solidário aos funcionários da Embrapa na luta contra o processo de desmonte da empresa.

“Nós não vamos permitir que a Embrapa seja capturada para servir a interesses que não são os do povo por meio de uma suposta reestruturação sem ouvir os funcionários da empresa que a transformaram em orgulho para o País. Não aceitamos essa reestruturação financiada por entidade ligada ao agronegócio, que visa atender interesses específicos, nem o desmonte que vem sendo praticado por este governo ao reduzir o Orçamento da empresa que precisa cada vez mais financiar pesquisa e inovação, principalmente voltada à produção e alimentos pela agricultura familiar”, ressaltou.

Agricultura Familiar e o povo precisam de uma Embrapa pública

Representantes de agricultores familiares também defenderam durante a Sessão solene a manutenção da Embrapa como empresa pública. Para a secretária Nacional de Mulheres da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar) e Coordenadora-Geral da Marcha das Margaridas, Mazé Moraes, somente com o direcionamento total do Estado a Embrapa poderá voltar seus esforços para auxílio à agricultura familiar, que produz 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros.

“A Embrapa tem uma responsabilidade social muito grande, principalmente no atual cenário de volta da fome ao País. Por isso precisamos de uma empresa de pesquisa que enxergue que não temos apenas um tipo de agricultura no País, que olhe mais para a agricultura familiar, que coloca 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros, contribuindo assim na luta contra a fome e por uma alimentação mais saudável, baseada na agroecologia e respeitando o uso adequado dos recursos naturais”, afirmou.

O professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Renato Danilo defendeu que no cinquentenário da Embrapa, em 2023, a empresa já tenha uma nova diretriz para a promoção do desenvolvimento do País.

“É consenso que precisamos reindustrializar o País. Existem duas alternativas para gerar empregos e renda:  a primeira é uma reindustrialização empresarial e a outra é a reindustrialização solidária. Creio que a reindustrialização baseada na economia solidária e na agricultura familiar, com apoio da Embrapa, poderia ser uma boa alternativa para um novo ciclo de desenvolvimento do Brasil, mais justo, soberano e ambientalmente sustentável”, defendeu.

Também discursaram durante a Sessão solene o representante da CUT Valeir Ertle; da OAB/DF, Larissa Pinheiro; da Fetraf-Rio Grande do Sul, Douglas Cenci; da direção da Embrapa, Sebastião Pedro Silva Neto; além dos deputados petistas Frei Anastácio (PB), Marcon (RS), Joseildo Ramos (BA), José Ricardo (AM), Merlong Solano (PI) e Bohn Gass (RS).

Parlamentares e servidores da Embrapa protestam contra desmonte da empresa pública. Foto: Lula Marques

 

Héber Carvalho

 

 

 

 

 

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