Representantes dos trabalhadores dos Correios criticaram nesta terça-feira (26), durante audiência pública na Câmara, a intenção debatida pela direção da empresa – e vazada pela imprensa – de fechar 513 agências e a demitir 5,3 mil funcionários. A informação foi revelada em maio pelo jornal O Estado de S. Paulo. Promovida pelas Comissões de Trabalho, Administração e Serviço Público (CTASP) e de Legislação Participativa (CLP), a audiência analisou o tema: “Demissão de funcionários e o fechamento de agências da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos”. O deputado Leonardo Lula Monteiro (PT-MG) foi o autor do requerimento que viabilizou o encontro.
Durante o debate, representantes dos servidores destacaram que um possível quadro de demissão nos Correios agravaria ainda mais a qualidade do serviço prestado, que já enfrenta dificuldades diante do quadro reduzido de funcionários da empresa. O representante da Associação Nacional dos Trabalhadores da Empresa de Correios e Telégrafos (Anatect) Edilson Neri destacou que os funcionários não aceitam a justificativa de problemas financeiros da empresa para justificar possíveis demissões.
“Hoje os Correios estão subordinados à vice-presidência financeira da empresa, que só visa o lucro. Não há preocupação com a qualidade dos serviços, não existe concursos e por isso faltam carteiros, o que compromete a qualidade nas entregas. Com isso, os clientes estão indo embora”, acusou.
Sobre a possibilidade de fechamento de agências, previsto em um levantamento realizado pela direção da empresa e divulgado pela imprensa, o dirigente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect), José Rivaldo da Silva, disse que a medida teria consequências desastrosas em muitas cidades localizadas em áreas remotas do País.
“A direção dos Correios diz que agência que não dá lucro não precisa estar aberta. Pois em muitos pequenos municípios a população só tem uma única forma para acessar os serviços postais. E se as agências forem fechadas, não tem espaço para realocar os funcionários em outras agências ou localidades. A ECT está sendo sucateada rumo a um processo de privatização”, explicou.
Ainda em relação aos rumores de demissão nos Correios, o representante da Federação Interestadual dos Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios (Findect) Wilson Nascimento Araújo frisou que a medida compromete a competividade da empresa no mercado.
“Os Correios necessitam de mais funcionários e mais estrutura para atender a logística do setor de encomendas que cresce 30% ao ano. Não precisamos de demissões, e sim de concurso público, porque pela falta de pessoal hoje, parte desse filão é explorado pelo setor privado por conta da falta de investimentos dos Correios”, afirmou.
Finanças – Já em relação ao fortalecimento financeiro da empresa, o deputado Leonardo Monteiro defendeu a aprovação do projeto de lei 7.638/17, que propõe a fidelização dos serviços postais da União para os Correios. A proposta tem como autores os parlamentares petistas Maria do Rosário Lula (RS), Décio Lima Lula (SC), Arlindo Chinaglia (SP), Celso Pansera (RJ), Leonardo Lula Monteiro (MG), Valmir Lula Prascidelli (SP), Vicentinho Lula (SP) e Nelson Lula Pelegrino (BA).
“Estamos com o requerimento pronto, precisando apenas recolher as assinaturas, para exigir que ele seja apreciado em regime de urgência na Comissão do Trabalho. Acreditamos que essa proposta viabiliza financeiramente os Correios ao aumentar em R$ 20 bilhões as receitas anuais da empresa”, afirmou.
A proposta defende a exclusividade dos Correios na contratação de todos os serviços postais e de entregas contratados pela União.
Correios – Em nome do ECT, o vice-presidente da empresa, Cristiano Morbach, tentou relativizar a possiblidade de fechamento de agências e demissões nos Correios. Ele explicou que o estudo vazado para a imprensa não necessariamente corresponde à intenção da empresa. Morbach garantiu que “não vai haver demissão neste ano” e que um possível fechamento de agências “deve obedecer a critérios de otimização dos serviços”. “Podem ocorrer fusões (de agências), mas os funcionários serão reaproveitados”, argumentou.
Também participaram da audiência pública representantes de centrais sindicais, entre elas a CUT, CTB, Intersindical e CSP-Conlutas, e os deputados petistas Adelmo Leão (MG), Erika Lula Kokay (DF), Maria do Rosário Lula (RS), Reginaldo Lula Lopes (MG) e Vicentinho Lula (SP).
Héber Carvalho