O Brasil comemora nesta sexta-feira (20), o dia da Consciência Negra. Dia de reflexão e de revisitar a história de nosso país. Último das Américas a abolir a escravatura, em 1888, o Brasil vivenciou 357 anos de escravidão negra. Não podemos nos esquecer jamais, que cerca de 4 milhões de irmãos e irmãs, negros e negras foram capturados na África e trazidos para serem escravos de brancos europeus, no Brasil.
A sociedade brasileira foi construída ao longo desses séculos tendo como base o racismo estrutural. Após a lei áurea que revogou a escravidão, nenhuma legislação foi aprovada no Brasil, seja no período imperial seja no republicano, que reparasse economicamente os negros, mesmo que minimamente, por toda a humilhação, dor e sofrimento que vivenciaram ao longo de 357 anos.
De acordo com o historiador, Ubiratan Castro de Araújo, após a abolição “muitos foram os que saíram dos engenhos e fazendas para buscar a liberdade na pesca e na mariscagem, outros para seguir Antônio Conselheiro. Houve os que se embrenharam nas matas para construírem os novos quilombos. Para todos esses rurais, o preço da liberdade era a miséria. Para a grande maioria, no entanto, a impossibilidade de acesso à terra tolhia os sonhos de liberdade”
Lamentavelmente 132 anos após a abolição, o Estado Brasileiro continua tolhendo o sonho de liberdade do povo negro. A ausência centenária, repito, de políticas públicas de Estado para reparar as mazelas da escravidão continua fazendo com que a maioria da população brasileira viva à margem das riquezas produzidas em nosso país.
Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 56% da população brasileira se autodeclara negra ou parda. É essa população que está no topo do ranking da miséria, do desemprego, do subemprego, do analfabetismo, da baixa escolaridade e da baixa renda.
A concentração de terras e renda nas mãos da minoria branca e a exclusão da maioria negra e miscigenada perdura até os dias atuais. As mortes violentas no Brasil têm cor, a cor preta. A população carcerária no Brasil tem cor, a cor preta.
O Brasil não será um País desenvolvido, justo e com igualdade de oportunidades e felicidade, se a sociedade brasileira não fizer uma revisita ao passado, reconhecer sua dívida histórica com o povo negro e trabalhar com unidade para repará-la.
O combate às práticas racistas do Estado Brasileiro tem que ser bandeira de luta prioritária de cada cidadão e cidadã.
Meu partido, o Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras, quando governou o Brasil produziu ações afirmativas importantes visando essa reparação, como a lei de cotas raciais. Porém, o que fizemos foi muito pouco, diante da luta necessária para a superação do racismo.
Que nesse dia 20 de novembro tenhamos a consciência de que a luta do povo negro contra o racismo estrutural é a nossa luta. Precisamos continuar na batalha na esfera política, mas também precisamos ganhar a luta na sociedade, contra o racismo.
Viva o 20 de novembro! Viva o povo negro!
Professora Rosa Neide é deputada federal (PT-MT)