É preciso transformar nossas riquezas naturais em tecnologia.
O maior desafio de Minas Gerais é desenvolver sua indústria para transformar seu minério em chip. Desde que as caravelas começaram a levar nosso ouro, no século XVII, a única mudança que houve é no tipo de mineral exportado. A cena que ainda prevalece é de navios levando nossas riquezas naturais para serem lapidados em outras partes do mundo. Uma das únicas exceções é o Vale da Eletrônica, localizado no Sul de Minas. O centro de excelência deve servir de referência, e sua industrialização, se expandir por nossas montanhas para alcançar todo país.
O surgimento do Vale da Eletrônica foi concomitante com o do Vale do Silício, na Califórnia (Estados Unidos). Os dois são destaque no mundo pelo desenvolvimento de tecnologia avançada. A concentração de empresas de ponta na região sul-mineira supera qualquer lugar da América Latina, numa proporção de cinco empreendimentos para cada mil habitantes e uma movimentação de R$ 3,2 bilhões em negócios.
A principal cidade deste centro de desenvolvimento é Santa Rita do Sapucaí, mas também fazem parte suas vizinhas Itajubá, Pouso Alegre e Varginha.
Como não poderia deixar de ser, a base do desenvolvimento da região nasceu da educação. Na década de 50, uma mulher nascida em Santa Rita do Sapucaí, Luzia Rennó Moreira, mais conhecida como Sinhá Moreira, vivia em viagens por ser casada com um diplomata. No Japão, ela se encantou com os avanços tecnológicos e sonhou em levar sua cidade para aquele novo mundo. Dali veio a inspiração para criar a primeira escola técnica em eletrônica da América Latina. Sinhá começou convencendo o presidente Juscelino Kubistchek (sempre ele) a criar o ensino técnico, que ainda não existia no país.
A partir da criação da escola técnica, a cidade se desenvolveu com intenso aquecimento econômico. Na década de 80, Santa Rita do Sapucaí deu seu grande salto, ganhando o nome de Vale da Eletrônica. Atualmente, o Arranjo Produtivo Local conta com mais de 500 iniciativas na área de tecnologia, graças à mão de obra qualificada nas escolas de tecnologia da região.
Com a globalização, o polo tecnológico virou atrativo para gigantes multinacionais, que aportaram suas produções na região. Instalaram suas fábricas, em parcerias locais, a japonesa Hitachi, a sueca Ericsson, a espanhola Telefónica, as estadunidenses WatchGuard e Qualcomm, além das italianas Nice e Tim.
A China veio com a Huawei, que instalou o seu Centro de Desenvolvimento de Competência e Inovação. E a gigante Xiaomi escolheu uma empresa local para ser a sua operadora no Brasil e produzir mais de cem produtos, como smartphones, patinetes elétricos, lâmpadas e mochilas inteligentes.
A região deve ter um grande impulsionador da pesquisa e produção, com a conclusão das obras do complexo de laboratórios de sistemas elétricos na região, uma parceria de entidades empresariais com instituições governamentais e Universidade Federal de Itajubá (Unifei). Ele foi projetado para ser uma referência em pesquisa para energias renováveis.
O Vale da Eletrônica é um exemplo da Minas Gerais e do Brasil que queremos e podemos construir. Que transforma nossas riquezas naturais em tecnologia, em vez de exportá-las como commodities. Ele mostra a capacidade, inteligência e o trabalho do nosso povo, que só precisa de oportunidades.
Reginaldo Lopes é deputado federal (PT-MG).
Artigo publicado originalmente no jornal O Tempo