A esperança parecia ter se mudado do Brasil, um país devastado por uma pandemia que já levou 280 mil vidas e é comandado por um presidente déspota obcecado pela morte, que aprofunda a crise humanitária e suas consequências.
Até que na semana passada um raio de luz cruzou o céu escuro e sombrio. Lula voltou à cena política brasileira, de onde foi retirado injustamente por uma criminosa perseguição judicial. Recuperou seus direitos políticos e pode ver seus algozes (Sérgio Moro e os procuradores de Curitiba) sentados no banco dos réus que antes ele ocupava.
A decisão do ministro Edson Fachin em transferir as ações contra Lula de Curitiba para Brasília é apenas o início da reparação da Justiça, pois todas as condenações foram fraudulentas e a maior ilegalidade não se refere à cidade de onde as sentenças foram assinadas, mas principalmente quem as assinou.
A volta do ex-presidente mostrou que temos um dos maiores estadistas do mundo e que o Brasil precisa muito dele. Na atual conjuntura, ele é o único que pode comandar uma grande frente para salvar a vida dos brasileiros e enfrentar a tirania de Bolsonaro. Em seu discurso na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, o ex-presidente mostrou sua grandeza e afirmou que, acima das mágoas com as injustiças que sofreu, está o compromisso com seu povo. Sua fala reeditou o Lula de 2002, que conduziu a retomada desenvolvimentista baseada na aliança que uniu “capital e trabalho”.
O ex-presidente ter seus direitos políticos restabelecidos o coloca como principal opção para derrotar a reeleição do mandatário em 2022. Mas ainda temos um 2021 pela frente e muitos problemas a serem enfrentados. Uma difícil travessia, onde o país e a democracia têm que resistir aos frequentes ataques.
O momento é de criar um programa de resistência, baseado em questões urgentes, como as que foram estampadas no painel colocado atrás de Lula no palco onde discursou: “vacina para todos”, “auxílio emergencial já” e “saúde, emprego e justiça para o Brasil”. Essas são as consignas que devem aglutinar forças democráticas para enfrentar Bolsonaro e encontrar soluções para a grave crise em que ele enfiou o país.
Na prática, Lula já tem atuado nos bastidores para ajudar o Brasil. Foi procurado pelo Fundo de Investimento Direto Russo, responsável pelo financiamento da vacina Sputnik, e ajudou nas negociações que possibilitaram a aquisição de 37 milhões de doses pelo Consórcio do Nordeste, que serão destinadas ao Plano Nacional de Imunização para serem utilizadas em todo o país.
Se antes Lula já se movimentava, seu histórico discurso causou uma reviravolta capaz de mudar até o comportamento criminoso do presidente em relação à pandemia. No outro dia, Bolsonaro passou a defender a vacina, colocou máscara em evento oficial e finalmente consentiu em trocar seu incompetente ministro da Saúde. Enquanto escrevo esse artigo ainda não existia uma definição sobre o nome do seu substituto. Mas espera-se que seja alguém comprometido com a ciência, com a vida e com o Sistema Único de Saúde.
O resumo da movimentada semana é que a força de Lula é tão grande que mesmo fora do poder ele conseguiu fazer mais no combate à pandemia e em defesa do país que o farsante que se senta há mais de dois anos na cadeira de presidente. Posto que conquistou de forma ilegítima, como revelaram as mensagens que estão sub judice do STF.
Reginaldo Lopes é deputado federal (PT-MG)
Artigo publicado originalmente no jornal O Tempo em 16/03/2021