Quem é persona non grata, Lula ou Netanyahu?

Deputado Reimont. Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

(*) Reimont

O texto é longo, mas o momento exige.

Ao falar, em entrevista, sobre a suspensão de repasses à Agência das Nações Unidas (ONU) para os Refugiados da Palestina, que sustenta a ajuda humanitária a uma população que vive hoje em situação de extrema precariedade, o presidente Lula deu uma longa declaração (ver no final). Nela, destacou a importância da ajuda humanitária a um povo que, em sua maioria (97%), está sem acesso a água potável, alimentação, moradia e remédios, um povo sem acesso à dignidade.

Da longa declaração, a extrema direita pinçou uma frase – “O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus” – e passou a acusar o presidente de antissemita (talvez esquecidos de que os palestinos também são semitas), repudiou qualquer comparação entre Hitler e o governo israelense e tratou de inventar que Lula minimizou o Holocausto (palavra que ele sequer pronunciou).

Fake news

Criaram uma fake news bombástica, rapidamente absorvida por Benjamin Netanyahu, que enfrenta crescente repúdio interno (sim, em Israel, do povo judeu) e da comunidade internacional.

Mas seria possível comparar o extermínio judeu promovido pelos nazistas ao extermínio palestino promovido pelo governo israelense? Talvez uma visita à História ajude a entender.

Os historiadores dão o ano de 1941 como de início do holocausto perpetrado pelos nazistas. Também conhecido como Shoá, foi o genocídio ou assassinato em massa de cerca de seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, no maior genocídio do século XX, que incluiu também a eliminação de comunistas, ciganos, homossexuais, testemunhas de Jeová, pessoas com problemas físicos e mentais etc.

Em quatro anos, de 1941 a 1945, dos nove milhões de judeus que residiam na Europa antes do Holocausto, cerca de dois terços foram mortos, sendo 1 milhão de crianças (18%), dois milhões de mulheres (32%) e três milhões de homens (50%).

Guerra contra crianças

Pois em quatro meses, desde 7 de outubro de 2023, data do ataque do Hamas à população civil de Israel, quase 29 mil palestinos já foram assassinados na Faixa de Gaza. Segundo a UNICEF, 70% dos mortos são mulheres e crianças, o quer levou o diretor geral adjunto do organismo, Ted Chaiban, a desabafar: “A Faixa de Gaza é o lugar mais perigoso do mundo para uma criança. A guerra é contra as crianças. Mas essas verdades não parecem estar se espalhando”.

Em contundente artigo no jornal O Globo deste domingo, 18/02, a jornalista Dorrit Harazim se debruça sobre a trágica situação das crianças palestinas: “De qualquer ângulo que se olhe, as crianças palestinas do enclave formam um capítulo à parte da desumanidade em curso. Estatísticas de guerras anteriores mundo afora registravam média de 20% de crianças do cômputo total de vítimas. Em Gaza, elas são 40%. Dados levantados pela Save the Children apontam para mais de dez crianças mutiladas, por dia, com a perda de uma ou ambas as pernas. Isso há quatro meses. E talvez já chegue a 25 mil o número das que perderam ao menos um dos pais na guerra.”

Na triste e inevitável comparação, Dorrit deixa claro que nem Hitler e seus seguidores foram tão violentos e cruéis com as crianças. Nem nos campos de concentração nazistas morreram tantas crianças – estima-se que cerca de 10 mil crianças foram assassinadas nos campos de concentração de Auschwitz, Zwierzyniec, Zamość e Majdanek.

Quem sabe o mundo acorda…

Ao final do artigo, Dorrit Harazim também alerta para o que pode vir a ser a Solução Final planejada por Netanyahu e seus seguidores: “O anunciado plano israelense de ataque “tous azimuts” à cidade de Rafah visando a derrotar os terroristas do Hamas é uma insânia. Ali está espremido 1,5 milhão de palestinos já exauridos. Fugiram do chão que habitavam mais ao norte para escapar dos bombardeios. Estão numa ratoeira, enquanto o Egito ergue um muro de 7 metros de altura delimitando vasta área do Sinai. Talvez para recebê-los in extremis? Quem sabe o mundo acorda? Como constatou o maravilhoso psicanalista Viktor Frankl, judeu austríaco que sobreviveu a Auschwitz, no fundo existem apenas duas raças — pessoas decentes e pessoas indecentes.”, escreve a jornalista.

É preciso acabar com esta carnificina, como já classificou o Papa Francisco. Assim como o presidente Lula, pertencemos à raça das pessoas decentes. Exigimos o cessar fogo imediato, a retomada urgente da ajuda humanitária na Faixa de Gaza e o estabelecimento do Estado Palestino soberano.

Íntegra da declaração do presidente Lula sobre o genocídio na Faixa de Gaza:

“Quando eu vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar contribuição para a questão humanitária aos palestinos, eu fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente e qual é o tamanho do coração solidário dessa gente que não está vendo que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio. De que não é uma guerra entre soldados e soldados, é uma guerra entre soldados altamente preparados e mulheres e crianças. Olha, se houve algum erro nessa instituição que apura dinheiro, que se apure quem errou. Mas não suspenda a ajuda humanitária a um povo que está há quantas décadas tentando construir o seu Estado.

O Brasil não apenas afirmou que vai dar contribuição – eu não posso dizer quanto, porque não é o presidente quem define. É preciso ver quem é que cuida disso no governo para ver quanto é que vai dar. O Brasil disse que vai defender na ONU [Organização das Nações Unidas] a definição de o Estado palestino ser reconhecido definitivamente como Estado pleno e soberano.

É importante lembrar que, em 2010, o Brasil foi o 1º país a reconhecer o Estado palestino. É preciso parar de ser pequeno quando a gente tem que ser grande. O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus.

Então não é possível que a gente possa colocar um tema tão pequeno, sabe, você deixar de ter ajuda humanitária. Quem vai ajudar a reconstruir aquelas casas que foram destruídas? Quem vai retribuir a vida de 30.000 pessoas que já morreram, 70.000 que estão feridos? Quem vai devolver a vida das crianças que morreram sem saber por que estavam morrendo?

Isso é pouco para mexer com o senso humanitário dos dirigentes políticos do planeta? Então, sinceramente, ou os dirigentes políticos mudam seu comportamento com relação ao ser humano, ou o ser humano vai terminar mudando a classe política.

O que está acontecendo no mundo hoje é falta de instância de deliberação. Nós não temos governança. Eu digo todo dia: a invasão do Iraque [pelos EUA em 2003] não passou pelo Conselho de Segurança da ONU, a invasão da Líbia [pelas forças da Otan 4 (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em 2011] não passou pelo Conselho de Segurança da ONU, a invasão da Ucrânia [pela Rússia em 2022] não passou pelo Conselho de Segurança da ONU e a chacina de Gaza não passou pelo Conselho de Segurança da ONU – aliás, as decisões do Conselho não foram cumpridas. E tampouco foi cumprida a decisão penal tomada agora no processo da África do Sul.

O que é que estamos esperando para humanizar o ser humano? É isso que está faltando no mundo. Então, o Brasil continua solidário ao povo palestino. O Brasil condenou o Hamas, mas o Brasil não pode deixar de condenar o que o exército de Israel está fazendo na Faixa de Gaza.”

(*) é deputado federal (PT-RJ)

Artigo publicado originalmente no site Brasil 247

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