Carestia, queda da capacidade de consumo e juros altos fazem comércio cair pelo terceiro mês consecutivo, aponta IBGE. Setor estacionou no mesmo nível do período pré-pandemia.
Nem os bilhões de reais despejados na economia pelo desgoverno Bolsonaro nos últimos meses são capazes de ocultar a realidade. Empobrecidas, endividadas e inadimplentes, cada vez mais famílias brasileiras evitam ao máximo ir às compras, e reduzem os gastos ao mínimo necessário. Com a terceira queda consecutiva registrada pela Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) em julho (-0,8%) – maior para o mês em quatro anos – o setor acumula um tombo de 1,8% nos últimos 12 meses.
Os números, divulgados nesta quarta-feira (14) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), surpreenderam os analistas do mercado financeiro, sempre tão otimistas com os truques do ministro-banqueiro Paulo Guedes. A projeção era de alta de 0,3% em julho, puxado pelo esperado bom desempenho das vendas de combustíveis após as “canetadas” de Jair Bolsonaro junto à Petrobras.
De fato, a atividade de Combustíveis e lubrificantes mostrou crescimento (12,2%), “resultado da política de redução do preço dos combustíveis”, explica Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE. No entanto, as demais nove das 10 atividades pesquisadas, incluindo o varejo ampliado (veículos, motos, partes e peças e de material de construção), apresentaram queda.
O maior recuo foi em Tecidos, vestuário e calçados (-17,1%). “Algumas das grandes cadeias comerciais apresentaram redução na receita, sobretudo na parte de calçados. Além disso, pode haver também escolhas do consumidor, considerando a redução da capacidade do consumo atual”, atesta Santos.
Leia mais: Subemprego: no Brasil de Bolsonaro, salário de contratação volta a cair
Santos avalia que, diante dessa redução da capacidade de consumo, as pessoas são obrigadas a fazer escolhas na hora de consumir. “O fato de ter aumento de preços influencia na decisão de consumo. O consumidor pode tomar a decisão de gastar mais em serviços e economizar no supermercado, por exemplo”, exemplifica.
As demais quedas foram em Móveis e eletrodomésticos (-3,0%), Livros, jornais, revistas e papelaria (-2,0%), Equipamentos e material para escritório informática e comunicação (-1,5%). Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-1,4%), Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,6%) e Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,5%) completam a lista de quedas.
No comércio varejista ampliado, ambos os setores caíram, tanto na comparação mensal quanto na interanual. Na mensal: Veículos e motos, partes e peças (-2,7%) e Material de construção (-2,0%). Na interanual: Veículos e motos, partes e peças (-8,5%) e Material de construção (-13,7%).
Leia mais: Precarização de Guedes afasta profissionais de empregos qualificados
As vendas do varejo sofreram um tombo em 20 das 27 Unidades da Federação – tanto na comparação mensal quanto na interanual. Nesta última, na comparação com julho de 2021, o comércio varejista caiu 5,2%. As taxas negativas apareceram em sete das 10 atividades catalogadas (contando o comércio varejista ampliado).
Destaque para Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-28,7%), Tecidos, vestuário e calçados (-16,2%) e Móveis e eletrodomésticos (-14,6%). Também tiveram queda as atividades de Equipamentos e material para escritório informática e comunicação (-0,4%) e Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,1%).
Na passagem de junho para julho, Bahia (-3,1%), Rio de Janeiro (-3,1%) e Maranhão (-2,8%) apresentaram as maiores quedas. No confronto com julho de 2021, Rondônia (-24,1%), Tocantins (-11,4%) e Acre (-11,3%) concentraram os maiores recuos.
IBGE: Setor apresenta volatilidade desde o início da pandemia
“O setor repete a trajetória que vem acontecendo desde março de 2020, com alta volatilidade”, aponta Santos. Abril foi o último mês com crescimento. Desde então, maio, junho e julho acumulam recuo de 2,7%. Por conta desses resultados, o setor se encontra praticamente do mesmo nível do período pré-pandemia (fevereiro de 2020), com variação de 0,5%.
Ouvidos pelo jornal O Globo, economistas do mercado avaliam que o resultado do varejo em julho aponta para um setor que sofre os efeitos da alta generalizada dos preços e do aumento dos juros. Seu desempenho tem sido ditado pelos estímulos do desgoverno Bolsonaro, de alcance limitado, pois a conjuntura é de desemprego ainda muito alto, queda da renda, juros em alta e crescentes endividamento e inadimplência.
Leia mais: Número de endividados bate novo recorde e chega a 79% das famílias
Conforme apontaram especialistas do Credit Suisse em relatório, a contração das vendas em julho reflete a dissipação dos efeitos das primeiras medidas fiscais implementadas pelo desgoverno Bolsonaro no início de 2022, contribuindo para a desaceleração do consumo das famílias. A esperança dos analistas do banco J.P. Morgan é o Auxílio Brasil de R$ 600, que começou a ser pago em agosto, ao lado de outros benefícios.
“O recado que fica e acende uma luz amarela é que o problema da inflação não foi corrigido ainda. Apesar da chegada desses recursos, a tendência é que o varejo tenha um restante de 2022 com desempenho fraco das vendas”, afirma Fabio Bentes, economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Ele revisou de 1,7% para 1,3% a projeção de crescimento das vendas do varejo este ano.
Da Redação do PT Nacional, com Imprensa IBGE