Quatro anos do Golpe de 2016 resulta em retrocessos sociais, econômicos e democráticos

Há exatos 4 anos, no dia 31 de agosto de 2016, o Brasil assistiu a um dos capítulos mais vergonhosos de sua história: a consumação do golpe parlamentar, jurídico e midiático – apoiado e financiado por setores do capital financeiro nacional e internacional – que derrubou do poder a então presidenta eleita Dilma Rousseff, a primeira mulher a ocupar o comando do País. Após mais de três meses da abertura do processo que afastou temporariamente Dilma, o Senado concluía um julgamento de “cartas marcadas” – pelo placar de 61 a 20 – em que a decisão já havia sido tomada antes mesmo da aceitação do pedido de impeachment pelo então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje preso por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

O movimento golpista foi iniciado logo após as eleições presidenciais de 2014, vencidas por Dilma, e não acatadas pelo candidato perdedor Aécio Neves (PSDB-MG). Com questionamentos à lisura das eleições, mas sem apresentar provas, e depois anunciando uma oposição para inviabilizar o governo petista, no decorrer dos meses o intento golpista de Aécio foi obtendo apoio de setores da elite insatisfeitos com a política petista de fortalecimento da soberania do País e com os avanços sociais. O objetivo único dessa aliança era interromper o quarto mandato seguido do PT na Presidência da República.

A esse grupo se juntou logo depois o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, já acusado de corrupção, e que desejava obter ajuda do governo Dilma para se livrar de um processo na Comissão de Ética da Câmara. Em um movimento de chantagem explícita, o então presidente da Câmara lançava e aprovava pautas bombas no legislativo, que reduziam o orçamento e prejudicavam a recuperação econômica do País e, ao mesmo tempo, apostava no acirramento do confronto político com o governo. No momento em que não obteve apoio para evitar a abertura do processo na Comissão de Ética da Câmara contra ele, em um ato de vingança Eduardo Cunha aceitou o pedido de impeachment contra Dilma, obtendo depois o apoio velado do então vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), que trabalhava nos bastidores pela derrubada da então presidenta.

Depois de aprovado o processo na Câmara, e já afastada pelo Senado da Presidência por crimes que não cometeu – as tais “pedaladas fiscais” – a presidenta eleita Dilma Rousseff – dois dias antes do julgamento final – se defendeu na tribuna do Senado e enfrentou 14 horas de interrogatório. A presidenta acusou seus algozes de atentarem contra a democracia, e disse na ocasião que as “provas” produzidas no processo de impeachment “deixam claro e inconteste que as acusações contra mim dirigidas são meros pretextos, embasados por uma frágil retórica jurídica”.

Mesmo sabendo que o ‘jogo’ para cassá-la já estava combinado, a então presidenta eleita proferiu um discurso na tribuna do Senado que hoje soa como profecia. Ela disse na ocasião que o processo para afastá-la do poder era na verdade um golpe contra o povo e a nação brasileira. “O que está em jogo são as conquistas dos últimos 13 anos: os ganhos da população, das pessoas mais pobres e da classe média; a proteção às crianças; os jovens chegando às universidades e às escolas técnicas; a valorização do salário mínimo; os médicos atendendo a população; a realização do sonho da casa própria”. E prosseguiu: “O que está em jogo é, também, a grande descoberta do Brasil, o pré-sal. O que está em jogo é a inserção soberana de nosso País no cenário internacional, pautada pela ética e pela busca de interesses comuns”, ressaltou.

Foi Golpe

Líder da Bancada do PT na época, o deputado Afonso Florence (PT-BA) destaca que juristas renomados do Brasil e do mundo ressaltaram que no processo contra Dilma não havia prova de crime de responsabilidade, e que, portanto, não havia base legal para o impeachment. Até mesmo uma perícia feita como parte do processo constatou que Dilma não havia praticado qualquer irregularidade. Segundo Florence, por essa razão o impeachment de Dilma tem todas as características de um golpe de Estado.

Afonso Florence – Foto: Lula Marques

“Ele (o impeachment) decorreu de lawfare, de uma perseguição política. Uma campanha difamatória de uma presidenta e seu partido por trás de interesses econômicos de políticos que iam desde o interesse em revogar o regime de partilha na cadeia petróleo e gás; à destinação social de recursos pelo fundo social para a educação e à saúde; à soberania nacional através da Petrobras como operadora única e da garantia de sua participação percentual na exploração do pré-sal; até interesses do mercado financeiro, de empresas e setores especulativos querendo rapinar o patrimônio nacional”, detalha o parlamentar.

Em 2016, o então presidente golpista Michel Temer conseguiu aprovar no Congresso Nacional alterações no Regime de Partilha da exploração do pré-sal. Segundo a medida de Temer, a Petrobras deixava a obrigatoriedade de participar de leilões de exploração de novos campos de petróleo, abrindo espaço para multinacionais do setor. Além de ferir a soberania nacional, causando prejuízos à Petrobras, a medida também reduzia recursos para a educação e saúde, vinculados ao lucro da exploração desse novos campos pela Petrobras, medida adotada pelos governos petistas.

Na época líder do Governo Dilma na Câmara, o deputado José Guimarães (PT-CE) destaca que o golpe foi dado com o objetivo claro de impedir a trajetória de vitória do PT à Presidência. Segundo ele, as consequências maléficas desse ato foram catastróficas para o País. “O golpe dado pelos partidos de direita, PSDB, DEM, PMDB e seus asseclas golpistas, sobre a tutela e comando do golpista Michel Temer, foi para interditar os governos vitoriosos do PT. E o golpe trouxe consequências desastrosas para o País, com o agravamento da crise, o aviltamento das condições de vida, principalmente dos mais pobres, além das constantes ameaças à Constituição e ao Estado Democrático de Direito”, ressalta.

José Guimarães – Foto: Gabriel Paiva/Arquivo

A partir do processo de sabotagem do governo Dilma e da consumação do golpe, o Brasil passou a experimentar um acelerado crescimento da pobreza e da miséria no País, na contramão do que vinha ocorrendo no Brasil, quando programas sociais como o Bolsa Família (governo Lula) e Brasil Sem Miséria (governo Dilma), reduziram em 36 milhões de pessoas em condição de miséria no País, retirando o País do Mapa da Fome em 2014, segundo a FAO/ONU.

Dados do IBGE apontam que a pobreza no Brasil, que em 2015 atingia 9,9% da população (20,4 milhões), no ano seguinte, em 2016, alcançou 25,7% (53,1 milhões), seguindo em alta em 2017, com 26,5 (54,8 milhões). Situação semelhante ocorreu em relação à extrema pobreza, que em 2015 alcançava 5% da população (10,4 milhões), mas que aumentou em 2016 para 6,6% (13,7 milhões), e em 2017 para 7,7% (15,4 milhões).

O governo Temer também foi responsável por iniciar o processo de retirada de direitos sociais e trabalhistas do povo brasileiro. Em 2017, com o voto favorável do então deputado federal Jair Bolsonaro, Temer aprovou no Congresso a Emenda Constitucional do Teto de Gastos – que congela investimentos sociais por 20 anos, inclusive da saúde e educação – e a Reforma Trabalhista que reduziu direitos dos trabalhadores até então garantidos pela CLT, ao mesmo tempo em que fortaleceu o poder de negociação dos patrões.

Também em 2017, o governo Temer também conseguiu aprovar no Congresso a flexibilização dos contratos de trabalho, permitindo a terceirização irrestrita. A justificativa era a criação de milhões de empregos. No entanto, no decorrer dos anos o que se observa é que a legislação contribui apenas para a explosão do trabalho informal e da “pejotização” do trabalho, impactando inclusive na arrecadação da Previdência.

Bolsonaro é fruto do golpe

As mesmas forças políticas que apoiaram o golpe de 2016 contra Dilma, também ajudaram a eleger o atual presidente Jair Bolsonaro, de forma ativa ou passiva, nas eleições de 2018. O resultado é que a agenda ultraliberal implementada pela dupla Paulo Guedes-Bolsonaro tem intensificado a retirada de direitos do povo e a perda da soberania nacional, em benefício dos interesses do mercado financeiro nacional e internacional, apresentando um pífio crescimento econômico, de 1,1% em 2019.

Um dos exemplos disso foi a aprovação da Reforma da Previdência enviada pelo governo Bolsonaro ao Congresso em 2019, que dificultou a aposentadoria e retirou direitos previdenciários do povo, enquanto, ao mesmo tempo em que beneficia o setor financeiro que comanda o mercado previdenciário. Sem uma política de desenvolvimento e de geração de emprego e renda, e com o desemprego alto e a informalidade batendo níveis recordes, o governo Bolsonaro prefere apostar no confronto políticos, disseminação de fake news e ataques às instituições democráticas como forma de desviar a atenção da sociedade para os reais problemas do País.

Enio Verri – Foto: Gabriel Paiva/Arquivo

De acordo com o líder da Bancada do PT na Câmara, deputado Enio Verri (PR), o atual cenário do Brasil confirma o acerto das críticas de que o golpe atingiria em cheio a nação e o povo brasileiro. “É importante salientar que aquilo que denunciávamos à época do impeachment se concretizou. O golpe foi contra a democracia e a nação, e contra os direitos do povo brasileiro atendendo os interesses da elite. Dilma foi derrubada pelos seus acertos, e não pelo seus erros. O resultado do golpe, como podemos ver nos governos Temer e Bolsonaro, é a entrega do patrimônio público, como as estatais, a redução ou eliminação de direitos históricos dos trabalhadores, o aumento da informalidade, e a falta de perspectiva da população com um futuro melhor, algo que havia nos governos do PT”, explica.

Agenda reacionária

O líder da Minoria no Congresso, deputado Carlos Zarattini (PT-SP) disse que o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, “sem comprovação de crime de responsabilidade”, foi o primeiro passo dado pela extrema direita para chegar ao poder e implementar uma agenda reacionária, conservadora e com traços de fascismo. “Essa armação política contra Dilma, apoiada por partidos de direita e centro e financiada pelo mercado financeiro, abriu espaço para a eleição de Bolsonaro e a implementação de uma política neoliberal que massacra os mais pobres e gera benefícios para os mais ricos e o mercado financeiro. Além disso, abriu caminho para privatizações criminosas e o enfraquecimento do Estado na proteção social”, destaca.

Carlos Zarattini – Foto: Lula Marques

Desde a posse de Bolsonaro o País observa a piora nas condições de vida, com o fim do reajuste real do salário mínimo, aumento de desemprego e alta taxa de informalidade, além do desmonte de programas sociais como o Bolsa Família – ao dificultar o acesso ao programa – Mais Médicos e do Minha Casa, Minha Vida, recentemente substituído pela ‘Casa Verde e Amarela’, que na prática dificulta o acesso dos mais pobres à casa própria.

Além disso, Bolsonaro ainda é criticado pelo ataque à soberania nacional ao trabalhar pela entrega do patrimônio público, com as já anunciadas privatizações – totais ou em pedaços – de estatais ou empresas públicas como Petrobras, Eletrobras, Caixa e Correios, e pela política genocida do governo federal no combate à Covid-19, que colocou o Brasil na segunda colocação mundial entre os países com mais mortos e infectados pela doença, agravadas pelas declarações negacionistas e anticientíficas de Bolsonaro.

A agenda de extrema direita de Bolsonaro também é criticada, dentro e fora do Brasil, pelo alinhamento automático às diretrizes do presidente norte-americano Donald Trump, e por desprezar o meio ambiente e os direitos humanos, principalmente de minorias como a população LGBT, indígenas e quilombolas.

Assista o vídeo sobre os 4 anos do golpe:

Héber Carvalho

 

Está gostando do conteúdo? Compartilhe!

Postagens recentes

CADASTRE-SE PARA RECEBER MAIS INFORMAÇÕES DO PT NA CÂMARA

Veja Também

Jaya9

Mostbet

MCW

Jeetwin

Babu88

Nagad88

Betvisa

Marvelbet

Baji999

Jeetbuzz

Mostplay

Melbet

Betjili

Six6s

Krikya

Glory Casino

Betjee

Jita Ace

Crickex

Winbdt

PBC88

R777

Jitawin

Khela88

Bhaggo

jaya9

mcw

jeetwin

nagad88

betvisa

marvelbet

baji999

jeetbuzz

crickex

https://smoke.pl/wp-includes/depo10/

Depo 10 Bonus 10

Slot Bet 100

Depo 10 Bonus 10

Garansi Kekalahan 100