Preconceito e discurso de ódio contra religiões da matriz africana são questionados em sessão de homenagem à Umbanda

SecaoSolene

O preconceito e o discurso de ódio de setores fundamentalistas da sociedade contra as religiões de matriz africana no Brasil foram os temas dominantes dos pronunciamentos realizados nesta sexta-feira (11), na Câmara, durante a sessão solene em homenagem ao Dia Nacional da Umbanda, comemorado no próximo dia 15 de novembro. Na presença de vários sacerdotes e sacerdotisas de centros e de terreiros, além de seguidores da religião, a autora do requerimento que viabilizou a reunião, deputada Erika Kokay (PT-DF), cobrou o respeito do Estado e de toda a sociedade a essa manifestação religiosa genuinamente brasileira. 

“Ainda hoje vemos pedaços do colonialismo que criminalizava as religiões de matriz africana se manifestarem por meio da intolerância fundamentalista de pessoas que enfrentam a própria Constituição e os princípios da liberdade religiosa e do Estado Laico ao pregarem o desrespeito e o ódio contra a religião do outro, como se apenas a sua igreja, sua fé ou seu modo de viver fosse o correto”, lamentou.

Durante pronunciamento, o presidente da Federação da Umbanda e do Candomblé do Distrito Federal e Entorno, Rafael Moreira, saudou a parlamentar pela iniciativa da homenagem e também destacou que a principal reinvindicação dos seguidores da Umbanda, e das demais religiões de matriz africana, é o respeito às suas tradições.

“Não queremos que ninguém nos tolere, mas que apenas nos respeite. Porque se formos apenas respeitados, já está de bom tamanho”, ressaltou.

Ele disse ainda que a laicidade do Estado é uma conquista da sociedade brasileira que deve ser não apenas reconhecida, mas também colocada em prática.

“Aqui mesmo nesse plenário temos um crucifixo com a imagem de Jesus Cristo. Da nossa parte não temos nada contra, porque no sincretismo da Umbanda também acolhemos manifestações do catolicismo. Mas será que se trouxermos uma imagem de Oxalá ela poderia ficar nesse plenário? Porque se o Estado é laico, porque não ter símbolos de outra religião nessa Casa? ”, argumentou Rafael Moreira.

Já o presidente do Fórum Permanente das Religiões de Matrizes Africanas de Brasília e Entorno (Foafro-DF), Luiz Alves, disse em seu discurso que é preciso resistir à onda de preconceito e à intolerância de segmentos religiosos fundamentalistas.

“Este país ainda não reconhece o respeito ao nosso povo. Nossos filhos ainda são apedrejados em pontos de ônibus apenas por vestir roupas de orixás, ou sofrem bullying nas escolas e, as vezes, até escondem a religião que professam. Aqui mesmo nessa Casa, a bancada evangélica legisla apenas para si, quando deveria legislar para todos, respeitando a laicidade do Estado. Mas avisamos que a cada ação de ataque iremos reagir. Não aceitarmos agressões ao nosso povo. Iremos aos tribunais se preciso for”, destacou.

Em junho de 2015, uma menina de 11 anos levou uma pedrada na cabeça apenas porque vestia a roupa branca característica do candomblé. Ela caminhava com a avó e outras pessoas pela Avenida Meriti, na Vila da Penha, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, quando todos foram insultados por dois homens no outro lado da rua. Após as ofensas, uma pedra foi arremessada ferindo a menina.

Também participaram da audiência pública o representante da Comissão de Liberdade Religiosa da OAB-DF, Paulo Suzano, e a representante da Fundação Palmares, Adima Araújo.

Ação– Como forma de combater este tipo de atitude de ódio, a deputada Erika Kokay informou que já apresentou o projeto de lei (PL 4371/16), que responsabiliza civilmente organização religiosa por ato de intolerância.

Héber Carvalho

Foto: Cris/PTnaCâmara

 

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