Apesar das conquistas ao longo dos anos, o preconceito contra os povos indígenas ainda é um problema no Brasil. Essa é a opinião de 80% dos entrevistados pela pesquisa “Indígenas no Brasil: Demandas dos povos e percepções da opinião pública”, realizada pela Fundação Perseu Abramo, em parceria com a fundação alemã Rosa Luxemburg Stiftung, em 2010 e 2011.
Dos entrevistados, 4% declararam ter preconceito, e 3%, aversão (ódio/repulsa ou antipatia) por indígenas. O estereótipo de que “a maioria dos índios é pobre porque não gosta de trabalhar” foi considerado verdadeiro por 21% dos entrevistados. Já para 28% dos entrevistados os índios “são selvagens e querem resolver tudo à força”. O preconceito também é marcante com relação à inteligência dos índios, já que 21% das pessoas abordadas pela pesquisa acreditam que “os brancos são mais inteligentes do que os índios”. Por fim, 3% concordam com a frase “índio bom é índio morto”.
Diante desse diagnóstico, o PT na Câmara ouviu a opinião de alguns deputados que integram a Frente Parlamentar de Apoio aos Povos Indígenas. Para o deputado Antonio Carlos Biffi (PT-MS), além do preconceito, os índios estão sujeitos à discriminação e ao desprezo por vários segmentos da sociedade. Para reverter à situação, o petista sugere “políticas concretas nas áreas de saúde, educação, habitação e capacitação dos trabalhadores indígenas, que se mantêm exclusivamente da caça, da pesca e da agricultura rudimentar”.
Para o deputado Domingos Dutra (PT-MA), os meios de comunicação fazem “propaganda negativa dos índios, e os órgãos que trabalham em prol das causas indígenas não têm o mesmo espaço dos formadores de opinião para divulgar as lutas, as conquistas e a cultura desses povos”. O que aconteceu, segundo o petista, é um verdadeiro “genocídio” ao longo dos séculos.
Na avaliação de Padre João (PT-MG), coordenador do Núcleo Agrário do Partido dos Trabalhadores, o preconceito existe, e os índios são tachados de preguiçosos. “Uma série de questões precisam ser superadas, entre elas, o preconceito”. A cultura indígena, de acordo com Padre João, também está sendo desrespeitada por ordens religiosas. “Existe um oportunismo por parte de um movimento religioso fundamentalista em relação aos indígenas, que insiste em mudar seus costumes”, criticou o parlamentar mineiro.
A pesquisa indicou ainda o desconhecimento da sociedade brasileira em geral acerca da realidade dos povos indígenas, seus principais problemas e conflitos, seus direitos e as ameaças que sofrem. Na percepção dos entrevistados, o modo de vida dos indígenas se opõe a um desenvolvimento econômico sustentável. 82% dos entrevistados, no entanto, afirmaram que o crescimento econômico do País não pode desalojar os índios de suas terras.
Ivana Figueiredo