A reportagem da revista Veja desta sexta-feira escancara com alto grau de probabilidade o que todos já suspeitavam. Até que apareça outra versão baseada em provas, o ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega foi executado com dois tiros. Dois peritos ouvidos pela revista afirmam que os disparos teriam sido feitos a uma distância de 40 centímetros e que alguns ferimentos sugerem a prática de tortura. Antes que essa versão viesse à tona, a circunstância da morte do miliciano já possuía fartos ingredientes que apontavam para a hipótese de execução. Adriano estava foragido num resort de luxo na Costa do Sauípe, mais tarde em uma fazenda e, por fim, no rancho de um vereador do PSL, partido da família Bolsonaro, movendo-se como se estivesse fugindo de uma perseguição. Adriano foi cercado por um grupo muito grande de policiais – no mínimo 70 agentes – que tinham a seu favor todas as condições para capturá-lo vivo. Misteriosamente algum policial atirou e matou o miliciano.
A quem interessa a morte de Adriano? Vamos recordar. A relação do ex-chefe das milícias de Rio das Pedras com a família Bolsonaro é conhecida e inquestionável. Quando Adriano estava preso condenado por assassinato, o então deputado estadual Flavio Bolsonaro concedeu a ele a Medalha Tiradentes, a mais alta comenda do Rio de Janeiro. Na Câmara Federal, o próprio Jair Bolsonaro fez um discurso criticando a condenação. Adriano foi absolvido em segunda instância depois que testemunhas voltaram atrás em seus depoimentos.
A esposa e a mãe de Adriano foram empregadas no gabinete de Flavio Bolsonaro, por indicação de Fabrício Queiroz, operador da “rachadinha”, sistema pelo qual os funcionários cedem parte de seus salários. Segundo o Ministério Público federal do Rio, Adriano seria um dos beneficiários dos valores coletados pela “rachadinha”. O ex-capitão seria também um dos chefes do chamado Escritório do Crime, responsável pela morte da vereadora Marielle. Os casos estão sob investigação.
Nesta semana, durante um debate em uma comissão especial da Câmara, questionei ao ministro Sérgio Moro por que razão ele retirou Adriano da Nóbrega da lista de criminosos mais procurados. Ele não respondeu. Questionei também sobre o seu silêncio em relação à morte do ex-capitão e sugeri que Queiroz fosse colocado no programa de proteção a testemunhas pois sua vida corre risco.
Os fatos são gravíssimos e muitas perguntas permanecem no ar: qual o policial que matou Adriano e em que circunstâncias? O que é feito dos 13 celulares – alguns dizem que são 17 – que estavam em poder do miliciano? Com quem ele falava? De quem eram os cheques que estavam em seu poder? Quando teremos a autópsia oficial e a perícia da cena do crime?
Não é um tipo de assunto que deva cair do esquecimento.
Na próxima semana, os partidos de oposição no Senado farão uma representação na Comissão de Ética para que Flavio Bolsonaro responda sobre o esquema da “rachadinha” no seu gabinete e seus desdobramentos que culminaram com a provável queima de arquivo com a morte do miliciano Adriano da Nóbrega.
Henrique Fontana é Deputado Federal (PT-RS)
Publicado originalmente na Revista Fórum