Em entrevista ao jornal britânico The Guardian publicada nesta segunda-feira (4), o ex-presidente Luiz Inácio da Silva falou sobre a atual situação política no Brasil e a Operação Lava Jato, que investiga o pagamento de propinas a políticos a partir de contratos com a Petrobras. Para Lula, o foco das investigações no PT e o vazamento para a imprensa de áudios de telefonemas entre ele e a presidente Dilma Rousseff, em março, são indícios de que a operação é parte de uma “trama” para tirar o PT do poder no Brasil.
“Por que não investigam como todos os partidos políticos arrecadam fundos?”, questionou o ex-presidente sobre as investigações sobre o financiamento de campanhas de políticos do PT. “Da maneira como tem sido feito, fica a impressão de que todo o dinheiro para o PT é sujo e que todo o dinheiro para o PSDB é limpo.”
A matéria, intitulada “‘Não há crime’: ex-presidente brasileiro mantém fé em partido e sistema judiciário”, começa com o relato de Lula sobre a sessão da Câmara dos Deputados de 17 de abril, que decidiu em prol do seguimento do processo de impeachment contra Dilma Rousseff. “Foi muito triste. Sofri muito”, declarou Lula, que disse ter visto “o projeto de transformar esse país desmoronando”.
O texto lembra que, ao deixar a presidência em 2010, Lula era “o presidente mais popular do mundo, uma figura representativa carismática de um mundo em desenvolvimento recém confiante”. Além disso, classifica Lula como “o arquiteto de um projeto democrático da centro-esquerda para reduzir a desigualdade no Brasil”.
De acordo com a matéria, desde a saída de Lula do cargo, a economia “se deteriorou”, os ventos políticos globais mudaram sua direção da “cooperação” para “competição” e uma investigação “massiva” contra a corrupção atingiu várias figuras políticas, incluindo aliados de Lula.
Ao The Guardian, Lula disse acreditar que a “ênfase” do PT nas camadas mais pobres, as políticas de distribuição de renda e o aumento de gastos com educação pública e saúde “incomodaram muita gente”.
“Agora há mais [pessoas da nova classe média] nas ruas, nos teatros, nos aeroportos. Parte da elite não quer dividir”, declarou.
Segundo ele, as investigações da Operação Lava Jato são parte de uma “trama” para tirar o Partido dos Trabalhadores do poder e evitar que Lula concorra novamente às eleições presidenciais em 2018.
“Acredito que há uma combinação entre algumas partes da mídia, da promotoria e da polícia para destruir minha imagem”, disse o ex-presidente. “É tudo com um objetivo: condenar Lula”.
Ele criticou também os setores de direita que, segundo ele, não respeitam o direito de escolha da população.
“Eu perdi três eleições, mas respeitei a escolha das pessoas sobre o vencedor [do pleito], disse. “Mas a direita não quer esperar”, disse em referência ao processo de impeachment contra Dilma.
Segundo o texto, Lula segue acreditando que Dilma será absolvida pelo Senado no dia 17 de agosto e voltará a exercer a Presidência. Para tanto, será necessário convencer seis senadores a mudarem seus votos, o que demandará “uma enorme quantidade de convencimento”.
Apesar de críticas, Lula disse não ter quaisquer arrependimentos a respeito da nomeação de Dilma como candidata sucessora ao Planalto. “Tenho orgulho de ter indicado Dilma e de ela ter sido eleita”, diz.
De acordo com a matéria, muitas pessoas têm esperança de que Lula se candidate novamente à Presidência, mas ele diz que a decisão ficará a cargo do PT.
“Deixei [a presidência] com 87% de aprovação. Fui o melhor presidente da história do Brasil. É uma missão quase impossível tentar repetir aquela performance. Eu teria que competir comigo mesmo”, disse. Lula rebateu também as acusações de que seria o “chefe” de um suposto esquema de corrupção na Petrobras.
“Há uma teoria de que ‘o chefe sempre sabe’ ou que nós somos culpados de incompetência [por não saber]. Mas não há crime”, declarou.
“Não há ninguém no Brasil tão tranquilo quanto eu”, disse. “Se eu enfrentar um julgamento, nós saberemos se [as acusações contra mim] são verdadeiras ou não”.
A matéria lembra também dificuldades do líder petista ao longo de sua vida – como uma infância pobre, três derrotas na disputa presidencial e um tratamento contra o câncer de laringe – e diz que, independente da Espada de Dâmocles sobre ele, “Lula assegurou seu lugar na história”. “Não pretendo mudar quem eu sou. Eu fui o melhor [presidente] até hoje”, concluiu.
Opera Mundi
Foto: Ricardo Stuckert