O procurador-geral da República, Rodrigo Janot pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira (2), abertura de dois inquéritos para apurar o suposto envolvimento do presidente nacional do PSDB e senador Aécio Neves (MG) em desvio de dinheiro de Furnas Centrais Elétricas e em maquiagem de dados do Banco Rural – em CPI no Congresso – para esconder o mensalão tucano. A base dos pedidos é a delação premiada do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) e a decisão de determinar a abertura dos inquéritos está com o ministro Teori Zavascki.
Caso o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, determine abrir as investigações, Aécio Neves, um dos principais defensores da queda da presidenta Dilma Rousseff, passará a ser oficialmente investigado na Lava Jato.
Lista de Furnas – O escândalo de desvio de dinheiro público para a suposta constituição de um caixa 2 para irrigar campanhas do PSDB nas eleições de 2002 ficou conhecido como a lista de Furnas, nome da estatal que foi usada como fonte dos recursos. Em valores atualizados, o montante desviado chegaria a R$ 108,2 milhões das Furnas Centrais Elétricas S.A.
Segundo os indícios investigados até agora, a operação nasceu de licitações superfaturadas de Furnas, em contratos com empresas terceirizadas. Com cinco páginas, a lista de Furnas trazia nomes de 156 políticos com os respectivos valores que teriam recebido do dinheiro desviado. Além de Aécio, também apareciam os nomes dos tucanos José Serra e Geraldo Alckmin.
Em sua delação, Delcídio do Amaral cita Aécio Neves e também o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), como beneficiários do esquema. Segundo Delcídio, “Aécio tinha um vínculo muito forte com o ex-diretor de Furnas Dimas Toledo e sem dúvida recebeu propina do esquema”.
Doleiro Youssef – O esquema de propina em Furnas para beneficiar os tucanos também foi confirmado pelo doleiro Alberto Youssef, em seu depoimento na CPI da Petrobras. Youssef afirmou que Aécio Neves, à época candidato ao governo de Minas Gerais, foi um dos que receberam dinheiro de Furnas e que a Polícia Federal e a PGR deveriam investigar as suspeitas. “Confirmo isso por conta do que eu escutava do deputado José Janene, que era meu compadre e eu era operador dele”.
Em depoimento ao juiz Sério Moro, o delator Fernando Moura também confirmou que o tucano Aécio controlava as propinas de Furnas. “É um terço [das propinas] São Paulo, um terço nacional e um terço Aécio”, relatou Moura, sobre reunião de 2002 que escolheria as indicações para a diretoria de estatais.
As empreiteiras envolvidas no esquema de Furnas seriam as mesmas implicadas no esquema da Petrobras: Andrade Gutierrez, OAS, Camargo Corrêa e Odebrecht.
Banco Rural – Sobre a maquiagem de dados do Banco Rural, Delcídio afirmou que os dados fornecidos pelo extinto Banco Rural à CPI dos Correios atingiriam o tucano Aécio Neves “em cheio” se não tivessem sido “maquiados” pela instituição financeira. Delcídio, que presidiu a CPI em 2005, explicou que quando a comissão autorizou a quebra de sigilo de pessoas e empresas, entre elas o Banco Rural, surgiu “certo incômodo” por parte do PSDB, incluindo o então governador Aécio Neves.
Ainda, segundo Delcídio, Aécio enviou emissários à CPI para que o prazo de entrega das quebras de sigilo fosse “delongado”, sob a justificativa de que não haveria tempo hábil para preparar as respostas à comissão. Delcídio acrescentou que, “foi com surpresa que percebeu, ao receber as respostas, que o tempo fora utilizado para maquiar os dados que recebera do Banco Rural; (…) Que os dados atingiriam em cheio as pessoas de Aécio Neves e Clésio Andrade, governador e vice-governador de Minas Gerais”, diz o texto da delação.
O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) também deve ser investigado, no caso do Banco Rural. Segundo Delcídio, ele sabia que os dados estavam sendo maquiados.
PMDB – O procurador-geral da República pediu ainda ao STF a investigação dos fatos relativos à propina da usina hidrelétrica de Belo Monte envolvendo quatro senadores do PMDB: Renan Calheiros (AL), Romero Jucá (RR), Valdir Raupp (RO) e Jader Barbalho (PA). Nesse caso, porém, não foi aberto inquérito específico, mas foi feito o compartilhamento da delação de Delcídio que relatou o caso nos inquéritos já existentes contra os senadores.
PT na Câmara com agências