Os deputados petistas Rubens Pereira Junior (PT-MA) e Rogério Correia (PT-MG) afirmaram durante reunião da CPMI do Golpe de 8 de Janeiro que vão pedir a quebra de sigilo fiscal, bancário e telefônico de pessoas ligadas ao bolsonarista que tentou praticar um atentado na véspera do Natal (24 de dezembro) do ano passado, em Brasília. Junto com mais duas pessoas, George Washington de Oliveira Sousa acoplou explosivos em um caminhão tanque com 60 mil litros de combustível estacionado do lado de fora do aeroporto. Nessa quinta-feira (22), o bolsonarista – que foi condenado e preso – compareceu à reunião da CPMI. Porém, na condição de investigado não respondeu às perguntas que o incriminavam.
Antes de o depoimento do terrorista bolsonarista, membros da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) também prestaram depoimento como testemunhas sobre a investigação do caso. O delegado Leonardo Castro afirmou, por exemplo, que apesar da conclusão do inquérito sobre a autoria da tentativa do atentado, que condenou à prisão George Washington e seu comparsa Alan Diego dos Santos Rodrigues, ainda falta identificar os possíveis financiadores e/ou mandantes do crime. O delegado ressaltou que existe um inquérito que está sob sigilo, que investiga esse fato.
O deputado Rubens Pereira Júnior ressaltou que, apesar de se manter em silêncio, o condenado já admitiu que a sua ida para Brasília tinha o propósito de “participar dos protestos que ocorriam em frente ao QG (do Exército) e aguardar o acionamento das Forças Armadas para pegar em armas e derrubar o comunismo”. O petista lembrou ainda que, em depoimento à polícia, George Washington declarou que resolveu “elaborar um plano com manifestantes do QG do Exército para provocar intervenção das Forças Amadas e decretar o estado de sítio para impedir a instauração do comunismo no Brasil”.
“Diante do seu silêncio, que é constitucional, e isso não pode fazer um prejulgamento de culpa, mas isso dá a todos nós o dever até de pedir, na próxima sessão, na próxima reunião deliberativa, a quebra do sigilo bancário, a quebra do sigilo não apenas do senhor, mas das empresas também do seu tio, da empresa de postos de combustíveis das suas primas, que era justamente de onde o senhor era funcionário. Isso porque nós suspeitamos que os financiamentos de todos os atos golpistas não saiam das pessoas físicas”, disse Rubens Júnior.
Uma das várias indagações que George Washington deixou de responder foi sobre quem financiou a sua vinda para Brasília, em novembro do ano passado, saindo de Xinguara (PA) e também custeou sua estadia em Brasília, uma vez que alugava um imóvel via airbnb. O terrorista não respondeu também como conseguiu adquirir um verdadeiro arsenal de guerra, avaliado em quase R$ 200 mil – entre fuzis, espingardas, pistolas e munições – mesmo declarando receber cerca de R$ 5 mil como gerente de um posto de combustível.
Em depoimento à polícia após ser preso, o terrorista afirmou que sua intenção era distribuir as armas entre CACs (Colecionadores e Caçadores) logo que fosse decretada a “intervenção militar”.
Covardia bolsonarista
Após também manifestar que vai pedir a quebra de sigilo de parentes de George Washington, o deputado Rogério Correia criticou a covardia do bolsonarista, que invocou o direito de permanecer calado para não se autoincriminar e, nas poucas vezes que respondeu, ainda tentou dizer que não foi ele quem colocou o explosivo no caminhão tanque.
“O senhor escreveu ao Presidente Bolsonaro: ‘Longe de minha família, esposa e filhos e negócios, mas jamais desistirei de nossa pátria’. Olha como o senhor era valente. Agora está esse covarde aí. ‘O senhor despertou esse espírito em nós, o senhor sabe muito bem disso’, isso é o senhor dizendo ao Bolsonaro. ‘Hoje sinto orgulho da nossa Bandeira, da nossa pátria amada Brasil’. Olha como o senhor era valente, hein? Agora o senhor está aí covarde, desse jeito, está aí mentindo”, disse o petista.
Investigação da bomba
A CPMI também ouviu os responsáveis pelas investigações da bomba encontrada em um caminhão tanque na área do Aeroporto de Brasília. Além do delegado da PCDF Leonardo de Castro, também compareceram os peritos Renato Martins Carrijo e Waldir Pires Dantas Filho, autores do laudo sobre os explosivos.
O perito Renato Carrijo, que estava de plantão na data, contou que os dispositivos explosivos usados na tentativa do atentado eram caseiros e utilizados em pedreiras para romper rochas. A operação também encontrou cinco outros materiais explosivos dentro do carro de George Washington sem um dispositivo próprio para a explosão, além de um arsenal de armas de fogo.
O delegado Leonardo de Castro também coordenou as investigações dos atos do dia 12 – onde houve uma tentativa de invasão ao prédio da Polícia Federal, ataques a bens públicos, a ônibus e a uma delegacia de polícia, em Brasília – e também nas investigações dos atos do dia 24. Para o delegado, há uma conexão nos fatos ocorridos no dia 12 e no dia 24 por envolver George Washington e Alan Diego dos Santos Rodrigues que estavam presentes nos dois dias.
“Parece-me óbvio que a tentativa de golpe foi um processo. E esse atentado estava no interior desse processo, tanto que, nos depoimentos, o próprio George dizia que a intenção era criar um caos para que, a partir desse caos, viesse uma possível intervenção militar que anulasse o processo eleitoral”, afirmou o deputado Rogério Correia.
O deputado Rubens Pereira Jr. também acredita que o objetivo de Washington era promover o caos no país e impedir que o presidente Lula assumisse a presidência. “A gente percebe, então, qual era o motivo da tentativa de golpe, da tentativa de colocar uma bomba no aeroporto de Brasília, inspirado pelo ex-Presidente Bolsonaro, querendo criar o caos social e político no nosso país para dar um golpe de estado para impedir que o Presidente Lula assumisse no dia primeiro. Esses são os motivos desse crime”, explicou.
Héber Carvalho e Lorena Vale