Petistas solidários aos agricultores que resistem ao despejo de 150 famílias em Limoeiro (CE)

Na manhã desta quarta-feira (21), cerca de 150 famílias de agricultores do acampamento Zé Maria do Tomé, em Limoeiro (CE), resistem e negociam com a Polícia Militar para impedir o cumprimento de uma ordem judicial de despejo em uma área da União, que está localizada em um perímetro irrigado com a forte presença do agronegócio. A última informação recebida, por volta das 11h, é que houve a suspensão por hoje (21), da ação de despejo por parte da Polícia Militar. As negociações continuam entre os assentados e a PM.

Os trabalhadores rurais sem-terra, que ocupam a área há quatro anos, estão cercados pelos policiais, que montaram um bloqueio na estrada que dá acesso ao acampamento para impedir a chegada de ônibus com pessoas que querem dar apoio aos agricultores.

Os sem-terra e a ouvidoria de Direitos Humanos do governo do Ceará negociam um acordo com os policiais. Organismos pastorais da igreja católica e estudantes também estão no local.

O líder da Oposição na Câmara dos Deputados, deputado José Guimarães (PT-CE), ouvido pela equipe do PT na Câmara, afirmou que os acampados ocupam uma área que estava improdutiva, e que agora com o acampamento, a terra cumpre o seu papel social. “Eles ocuparam uma área que está lá totalmente improdutiva e que pode perfeitamente abrigar essas famílias. Agora, essa onda violenta que está acontecendo no país, de criminalização dos movimentos sociais, atinge especialmente o MST”, denunciou.

Guimarães adiantou que o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), já fez todas as propostas, como comprar a área de terra e garantir energia e água no local. “O que é fundamental é nós impedirmos a expulsão dos irmãos e irmãs cearenses que estão, nesse momento, há mais de 4 anos, lá na Chapada do Apodi, em Limoeiro do Norte, onde se concentram os grandes projetos de irrigação no Brasil. São os pequenos que estão lá pedindo apenas um pedaço de terra para morar, produzir e de lá tirar o sustento da sua família”, observou.

A deputada e ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT-CE), escreveu em sua conta no twitter: “O clima é tenso. As famílias estão dispostas a resistir. A terra é produtiva e não se justificativa a ação”, ponderou.

O Brasil de Fato entrou em contato com Francisco Hermenegildo Souza, coordenador estadual do DNOCS, Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, no Ceará, questionando sobre a pressão feita pelos latifundiários para que o governo expulse, a qualquer custo, os agricultores sem-terra da região. Souza não respondeu ao e-mail. A Secretaria de Segurança Pública do Estado também foi questionada sobre a barricada feita pelos policiais para isolar os agricultores, mas tampouco respondeu.

Histórico – A ocupação fica na Chapada do Apodi, dentro do Perímetro Jaguaribe Apodi, implantado no final dos anos 1980, quando, segundo o site do MST, “a expropriação, expulsão e desmantelamento da produção de cerca de 6 mil famílias da região, que antes produziam alimentos e mantinham relações de identidade com o território”.

Segundo a entidade, apenas 316 agricultores conseguiram participar do projeto de irrigação, porém 255 foram expulsos posteriormente, o que representa uma taxa de 81% de expropriação, de acordo com estudos realizados pela Universidade Estadual do Ceará/FAFIDAM.

O acampamento leva o nome de Zé Maria Tomé, que foi brutalmente assassinado dia 21 de abril de 2010 “a mando do agronegócio por defender terra, água e alimentos livres de venenos. Ele lutava pela proibição da pulverização aérea e por terra para quem nela trabalha. Para homenagear este companheiro que teve sua voz calada”, afirma nota dos acampados.

“A ocupação da Chapada do Apodi aconteceu com a intenção dos trabalhadores e trabalhadoras as retomarem suas terras, de plantar, de garantir o acesso à terra, à água, por isso exigimos uma solução imediata do governo estadual e federal para resolução do despejo e desapropriação imediata. Esse não é o primeiro mandado de despejo, vieram outros antes desse. Aqui as famílias vivem sob constante ameaça de despejo”, reclama Iris Carvalho, da coordenação do MST.

Brasil de Fato com PT na Câmara

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