Parlamentares da Bancada do PT se revezaram na tribuna da Câmara, nesta terça-feira (17), para enaltecer o relatório da CPMI do Golpe, que propõe o indiciamento de Bolsonaro por quatro crimes: associação criminosa, violência política, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. “Hoje o Brasil dá exemplo na defesa da democracia. E eu queria destacar aqui o papel da relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama que, de forma corajosa, apresenta um relatório indiciando primeiro a cabeça da Hidra, o irresponsável ex-presidente da República que articulou o golpe, que propositalmente fugiu do País, porque ele tinha certeza que integrantes das Forças Armadas fariam papel sujo”, afirmou o deputado Paulão (PT-AL).
O deputado cita que o relatório pede também o indiciamento de generais, brigadeiros, almirantes das Forças Armadas que conspiraram contra a democracia. “Infelizmente, no nosso Brasil nós temos pouca perenidade democrática. Não conseguimos chegar a 50 anos. Tivemos um golpe de 1964 a 1985; depois de um golpe contra a presidente Dilma. Isso é muito grave”, criticou Paulão. Ele avaliou que a CPMI dá um exemplo para que o relatório seja encaminhado à Procuradoria-Geral da República, “e essas figuras que atentaram contra o Estado Democrático de Direito sejam indiciadas de forma exemplar”.
Paulão ainda destacou a coragem do ministro da Justiça, Flávio Dino, que não compactuou com os golpistas para colocar em prática a GLO (Garantia da Lei e da Ordem). “Porque era isso que os militares golpistas queriam: fazer a GLO para as Forças Armadas tomarem conta, no sentido de fazer mais um golpe no Brasil. Mas o ministro da Justiça, de forma corajosa, delega poderes a um civil, o Ricardo Capelli, que controla a situação, e este País não pode colocar mais em prática GLO”.
Incentivadores do golpe
O deputado Tadeu Veneri (PT-PR) criticou as lamentações dos parlamentares bolsonaristas porque a CPMI condenou os incentivadores da tentativa de golpe. “Eles pediram a CPMI desesperadamente porque achava que ia fazer em cima disso um carnaval. Pois bem, achavam que iam sair com tudo, com a condenação inclusive do presidente Lula, com a condenação das esquerdas, e a realidade é que, hoje, Jair Bolsonaro está sendo indiciado, os generais estão sendo indiciados, uma deputada está sendo indiciada… E aí reclamam da CPI. Ora, reclamam da CPI por quê? Eles mesmos pediram a CPI”, ironizou.
Tadeu Veneri relembrou que dias atrás falou que essa é “uma atitude esquizofrênica”, uma atitude de quem não consegue olhar a realidade, olhar os seus próprios erros. “A extrema direita sabe que tentou o golpe. Sabe que promoveu, no dia 8 de janeiro, uma tentativa de derrubar o presidente Lula, legitimamente eleito. Ela sabe que fez isso, e o fez conscientemente”, afirmou.
O deputado pediu para os bolsonaristas pararem de chorar pelo resultado da CPMI. “Pelo amor de Deus, parem de chorar! Vocês pediram isso. Achavam o quê? Que a CPMI já era algo comprado, como um produto antecipado, que tinha que ter o seu resultado? Isso ou é muita ingenuidade ou é muita burrice, porque nós sabemos como que as CPIs começam, mas nós não sabemos como elas terminam”, enfatizou.
Na avaliação do deputado, o relatório apenas reflete aquilo que foi a CPMI: investigação sobre aqueles que tentaram o golpe, e se deram mal. “E eles vão se dar mal mais ainda, porque o próximo passo do indiciamento, sendo aprovado o relatório, é sem dúvida nenhuma o encaminhamento do relatório ao Ministério público. Se o Ministério Público acatar — botem as barbas de molho —, Jair Bolsonaro pode ser o próximo a estar na Papuda”, previu.
CPMI tinha que ter pedido prisão
O deputado Marcon (PT-RS) também comentou o relatório, e na sua avaliação o resultado foi “leve” para aqueles que tentaram golpear a democracia brasileira. “Foi pouco, foi pouco o indiciamento do ex-presidente da República [Bolsonaro]. A CPMI tinha que pedir a prisão para essa turma, desde o chefão até os mais levianos, porque tentaram três vezes dar um golpe contra a democracia, contra a Constituição Federal. Agora, estão chorando com o resultado de uma investigação que eles mesmos queriam”, criticou.
Marcon reiterou que foi a oposição que insistiu na CPMI do dia 8 de janeiro. “E, na minha forma de ver, o governo anterior saiu barato dessa. O governo Bolsonaro tentou forjar um resultado nas urnas querendo fraudar as eleições. Isso é golpe, é golpe contra a democracia. Depois, ninguém se lembra do caminhão que tinha uma bomba perto do aeroporto. Isso era para criar um clima para que o Bolsonaro interviesse e o Lula não assumisse dia 1º de janeiro”, relembrou.
Vânia Rodrigues