A decisão do presidente eleito Jair Bolsonaro de quebrar itens do acordo de cooperação técnica que viabilizou o Mais Médicos deixará, de uma só vez, quase 30 milhões de brasileiros sem atendimento médico. Para muitos especialistas da área, a atitude de afrontar termos firmado com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e com o governo de Cuba provocará uma crise sem precedentes na saúde pública brasileira. Isso porque os 8.500 cubanos que deixarão o Brasil representavam mais da metade dos médicos que faziam parte do programa.
Com a decisão, Bolsonaro coloca suas questões ideológicas acima do bem-estar da polução e demonstra total desconhecimento de como funciona o programa e o Sistema Único de Saúde (SUS). Vale recordar que o Mais Médicos, para além de uma demanda da população, foi uma resposta a uma intensa campanha de prefeitos e secretários municipais de saúde de todo o Brasil, independentemente de partidos políticos, que já haviam esgotados todas as possibilidades para preencher vagas que nenhum médico brasileiro se dispunha a ocupar.
É importante ressaltar ainda que, em todos os editais para o preenchimento de vagas do Mais Médicos, os profissionais brasileiros sempre tiveram prioridade de escolha, dizendo onde gostariam de atuar. Somente as vagas remanescentes eram oferecidas a médicos estrangeiros, incluindo os cubanos. No geral, raríssimos médicos brasileiros escolhiam atuar em localidades de difícil acesso ou em periferias de grandes cidades, o que deixava grande parte do território sem cobertura médica.
Não por acaso, um total de 80% dos municípios brasileiros só contava com a presença de um médico por causa do Mais Médicos, iniciativa posta em prática, há cinco anos, no primeiro mandato da presidenta Dilma Rousseff. “O Mais Médicos fez com que pessoas de todos os cantos do Brasil vissem um médico pela primeira vez na vida”, ressaltou o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), líder do Partido dos Trabalhadores na Câmara.
O médico e deputado federal eleito Alexandre Padilha (PT-SP) – que era o ministro da Saúde na época da implantação do Mais Médicos – disse que a atitude de Bolsonaro de questionar a formação dos cubanos e pôr em xeque a qualidade do trabalho deles prejudicará, sobretudo, populações mais vulneráveis. “Deixarão de ser atendidas pessoas que estão nos sertões, na Amazônia brasileira, nas periferias das grandes cidades… É isso que pode acontecer quando se coloca o espírito da guerra e a ideologização acima dos interesses do povo”, avaliou.
O deputado Jorge Solla (PT-BA), que também é médico e já foi secretário-executivo do Ministério da Saúde e secretário de Saúde da Bahia, classificou o fim do Mais Médicos como um escândalo de proporções internacionais. “É um atentado contra a saúde pública, um incidente diplomático de gravíssima proporção e uma ameaça clara à saúde e à vida dos cidadãos que eram, até então, beneficiados pelo programa”, afirmou o deputado.
Bolsonaro ameaçou quebrar o acordo internacional que viabilizou o Mais Médicos ao anunciar que uma das condições à permanência dos médicos cubanos no programa seria uma espécie de provas para medir conhecimentos. “No entanto, a medicina cubana é reconhecida em todo o mundo. Historicamente, seus médicos participam de missões internacionais levando assistência à saúde. O fim dos Mais Médicos é um desastre para nossas relações com a América Latina, para a saúde brasileira e, especialmente, para os mais pobres”, avaliou o médico e deputado Adelmo Leão (PT-MG).
PT na Câmara