Petistas defendem CPI para apurar conexões da família Bolsonaro com milícias do RJ

A deputada Maria do Rosário (PT-RS) defendeu nesta terça-feira (12), na tribuna da Câmara, a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as milícias do Rio de Janeiro. “Quase um ano depois do assassinato covarde de Marielle Franco e de Anderson Gomes, chegaram aos assassinos. Agora que sabemos que há um suspeito, vizinho de Jair Bolsonaro, o policial militar reformado Ronnie Lessa, é preciso saber quem mandou matar. E as conexões da família Bolsonaro com as milícias devem ser motivo de uma CPI”, reforçou.

Além da instalação da CPI das Milícias, a deputada Rosário afirmou que é preciso também que no Senado Federal abra-se um inquérito, ou uma investigação, sobre o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). “É preciso que aqui, nesta Casa, tenhamos a coragem de defender a vida, ou os parlamentares estarão ao lado das milícias? É preciso responder com celeridade”, cobrou.

Flávio Bolsonaro é suspeito de envolvimento com as milícias cariocas e o uso de ‘laranjas’ para desviar recursos do fundo eleitoral, destinado a campanhas políticas. O senador também é acusado de envolvimento no escândalo do seu ex-motorista Fabricio Queiroz, que teve movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta. Queiroz recebeu dinheiro de servidores que atuaram no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro.

ONU, Anistia Internacional e OEA

Ainda da tribuna, a deputada Maria do Rosário solicitou que as Nações Unidas, a Anistia Internacional e a OEA acompanhem essas investigações. “O acompanhamento desses organismos internacionais é importante porque há indícios, e digo com a responsabilidade do meu mandato, de envolvimento de altos representantes políticos do Brasil com o crime organizado no Rio de Janeiro e no nosso País, utilizando-se do crime para ação política”, argumentou.

O deputado Jorge Solla (PT-BA), também da tribuna, disse que o Brasil está cada dia mais escandalizado com “o envolvimento da família Bolsonaro com a milícia”. E acrescentou: “Não é mera coincidência que o sargento reformado que matou Marielle é proprietário de um imóvel que custa de R$ 4 milhões a R$ 5 milhões, no mesmo condomínio que o presidente Bolsonaro também tem um imóvel”.

Mas as coincidências, segundo Jorge Solla, não param aí. “Um filho da família Bolsonaro namorou a filha do assassino. No mesmo condomínio há um morador que é o chefe da milícia. Tudo isso num condomínio que a imprensa chama de classe média, mas para mim é um dos condomínios milionários”. Solla ainda ironizou: “Pode ser que a venda de carros do Queiroz financie imóveis dessa natureza, que tenha a coincidência de um condomínio da milícia, onde está a família presidencial — Bolso pai, Bolso filho, Bolso filhote —, onde está o assassino de Marielle, onde está o chefe da milícia, todos no condomínio de R$ 4 milhões a R$ 5 milhões cada imóvel”.

O deputado do PT da Bahia encerrou seu discurso com várias interrogações: “Cadê o Queiroz? Cadê o dinheiro que o Flávio Bolsonaro embolsou dos seus assessores? Cadê o dinheiro que a milícia aportou no suporte a essas candidaturas? O Brasil inteiro quer saber quando é que vai parar a blindagem, Sérgio Moro?”, provocou Solla.

É preciso saber quem matou

Para o deputado Alencar Santana Braga (PT-SP), não basta chegar aos autores do crime de Marielle. “Ainda tem muita coisa que precisa ser esclarecida. Entre elas, por exemplo, por que aqueles PMs mataram Marielle? Havia alguma outra força maior, havia algum mandante que tinha esse desejo, que pediu, que determinou que esse crime ocorresse. Essas indagações precisam ser respondidas e apuradas pela Polícia do Rio de Janeiro”, defendeu.

Alencar lembrou ainda que vários senadores já perderam o mandato ou foram afastados do Congresso, quando sobre eles pesaram alguma suspeita. “Se há algum tipo de ligação política, algum tipo de ligação familiar, alguma suspeita que paira sobre o senador Flávio Bolsonaro, será que não era o caso também de afastamento temporário, para que a apuração possa se concluir da melhor maneira possível?”, questionou.

Também em plenário, o deputado Marcon (PT-RS) criticou a proximidade da família Bolsonaro com milicianos. “Não sei se é coincidência, mas vimos que Flávio Bolsonaro homenageou os milicianos dentro da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. O matador da Marielle morava no mesmo condomínio onde mora o presidente da República. Por isso, nós precisamos de uma CPI das Milícias, uma CPI do Queiroz, aquele assessor do Flávio Bolsonaro que recolhia o dinheiro dos assessores”, defendeu.

A deputada Erika Kokay (PT-DF) também reforçou o pedido de instalação da CPI das Milícias. “É preciso investigar as milícias, que estão muito próximas do núcleo que governa o Brasil hoje. Eu diria muito próximas, porque todos nós sabemos da relação da família Bolsonaro com os milicianos. Inclusive o filho do presidente, Flávio Bolsonaro, chegou a homenagear e a empregar pessoas relacionadas com a milícia. É preciso investigar! Nós não podemos mais conviver com essa proximidade macabra”, frisou.

Veja o discurso da deputada Maria do Rosário:

Vânia Rodrigues

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