A seca na bacia do Rio Paraguai em 2021 está mais severa que em anos anteriores, o que potencializa riscos de incêndios no Pantanal. O alerta foi feito por agentes públicos e pesquisadores que participaram de audiência pública da Comissão Externa da Câmara destinada a acompanhar e promover estratégia nacional para enfrentar as queimadas em biomas brasileiros, realizada nesta quinta-feira (15). A atividade foi coordenada pela deputada federal Professora Rosa Neide (PT).
De acordo com o coordenador-Geral de Ciências da Terra do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilvan Sampaio de Oliveira, de outubro de 2020 a junho de 2021 o déficit de chuva na bacia do Paraguai foi de 40%. Além da queda nas precipitações, ele destacou que o período de estiagem está mais severo.
“Registramos este ano o menor volume de chuva desde 2010. E o período da estação seca tem ficado mais seco”, disse Gilvan. Para o representante do Inpe, “os governos precisam empreender ações efetivas para evitar as queimadas, por que na situação climatológica atual uma pequena queimada pode se tornar um grande incêndio”, afirmou.
O representante da Secretaria de Estado do Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema-MT), Renato José Ferreira Paschoal, comprovou a situação de seca na Bacia do Paraguai ao apresentar dados sobre o volume de chuvas.
“Entre maio e junho de 2014 a média das precipitações no rio Cuiabá na região da Capital do Estado foi de 210 milímetros, em 2021 no mesmo período foi de 16 milímetros. No rio Paraguai, na região de Cáceres foi de 268 milímetros e agora 25 milímetros”, afirmou.
A situação de baixa no volume dos rios Cuiabá e Paraguai foi confirmada pelos representantes da Agência Nacional de Águas (ANA), Flávio Hadler Tröger e Ana Paula Fioreze que apresentaram o Plano de Gestão da Bacia. Fioreza citou que a redução da vazão pode prejudicar inclusive a captação de água para abastecimento da população.
“A gente percebe os reflexos nas vazões: quase todas as estações de monitoramento estão próximas aos níveis mínimos históricos. Há um potencial risco para captações, principalmente para o abastecimento quando elas estão localizadas muito próximas às margens do rio e são captações fixas. Pode acontecer de haver necessidade de levar essas captações mais para dentro do rio”, explicou Ana Paula.
Mudanças Climáticas
Coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), José Antônio Marengo Orsini afirmou que a seca nos rios que formam o Pantanal teve início em 2019 e se agravaram em 2020 e 2021. “A situação se agravou com os grandes incêndios do ano passado causados por ação humana”.
José Marengo chamou a atenção para o fenômeno das mudanças climáticas. “Estudos mostram que o Pantanal já registrou períodos de seca, mas a estiagem dos últimos dois anos está sendo agravada pelo aquecimento global. Se o clima continuar aquecendo e não reduzirmos o desmatamento essa situação tende a ficar cada vez mais grave”, disse.
Hidrovia Paraguai-Paraná
Para a pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Pantanal, Débora Fernandes Calheiros, a implantação da hidrovia Paraguai-Paraná aliada à seca história do rio pode causar danos irreversíveis ao Pantanal.
Débora apresentou manifesto do Comitê Nacional de Zonas Úmidas, que destaca as ameaças ao bioma, pela volta dos debates sobre a criação da hidrovia no tramo norte, da cidade de Cáceres (MT) até Corumbá (MS). “Não podemos permitir navegação de grandes embarcações nesse tramo norte, especialmente no trecho entre Cáceres e a foz do rio Cuiabá, região onde o Paraguai possui muitos meandros”, afirmou. A pesquisadora também criticou projetos de instalação de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) nos rios da região, que segundo ela prejudicarão ainda mais a vazão d’água.
A professora da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), campus Cáceres, Solange Ikeda Castrillon, apresentou imagens recentes do rio Paraguai que demonstram a escassez de água. Ela também se posicionou contra a hidrovia e as PCHs.
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul
A audiência contou ainda com apresentação das ações que vem sendo empreendidas pelos governos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, para prevenção dos incêndios no Pantanal.
O representante do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), Pedro Mendes, destacou que o estado investiu este ano R$ 56 milhões na compra de equipamentos e formação de brigadistas.
A comandante do Batalhão de Emergências Ambientais de Mato Grosso, tenente-coronel do Corpo de Bombeiros Militar, Jusciery Rodrigues, informou que o estado adquiriu um helicóptero e fez investimentos de R$ 43 milhões em ações preventivas, como campanhas junto a comunidades pantaneiras, montagem de equipes de brigadistas, entre outras ações.
Ação política
Para a deputada Rosa Neide, o Congresso Nacional tem uma oportunidade única de encaminhar ações pela proteção do meio ambiente. “Estamos em uma encruzilhada histórica. Ou decidimos pela vida, pela preservação da natureza, nesse período em que as mudanças climáticas já emitem sinais de que a Terra não suporta mais esse modelo de desenvolvimento adotado pela humanidade, ou seguiremos nesse rumo insustentável de destruição da nossa casa comum”, afirmou.
O deputado Vander Loubet (PT-MS) disse que o Congresso precisa pressionar o governo federal a garantir recursos orçamentários para ações preventivas. “Vimos os representantes dos governos dos dois Estados falando que esses entes investiram em prevenção, mas da parte do governo federal vemos apenas cortes e mais cortes. O Congresso precisa pressionar o governo para garantir os investimentos necessários em prevenção aos incêndios”, enfatizou.
A audiência contou ainda com intervenções do deputado Dr. Leonardo (SD-MT) e do e do diretor do Cemaden, Osvaldo Luiz Leal de Moraes.
Assessoria Parlamentar