Pela revitalização da hidrovia do São Francisco

Líder Reginaldo Lopes. Foto: Gustavo Bezerra-Arquivo

Artigo do deputado federal Reginaldo Lopes no jornal O Tempo aborda a importância do modal hidroviário para Minas Gerais

“Rio é só o São Francisco, o Rio do Chico. O resto pequeno é vereda. E algum ribeirão”, lembrei desta frase de Riobaldo, personagem do livro “Grande Sertão Veredas”, de Guimarães Rosa, quando cheguei sexta-feira ao Campus Pirapora do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais. Acontecia ali uma audiência pública da Câmara dos Deputados para debater a viabilidade de reativação da hidrovia do rio São Francisco.

A iniciativa para realização da atividade foi do meu colega de bancada e partido, deputado Paulo Guedes, membro da Comissão de Viação e Transportes da Câmara e um incansável defensor da hidrovia. Ele foi o mediador da audiência, na qual estavam presentes autoridades e lideranças sociais de Minas e de forma online representantes de Pernambuco, Sergipe e Bahia, Estados por onde percorre o “rio da integração nacional”, como também é conhecido o são Francisco.

O tema do debate se concentrava numa hidrovia específica, a maior do país. Mas, na essência, pode-se perceber a importância do investimento no modal hidroviário como alternativa de transporte extremamente barato e altamente sustentável. A emissão de poluentes é quatro vezes menor do que nas rodovias. As hidrovias são muito utilizadas em países desenvolvidos, principalmente na Europa. Infelizmente, apesar de o Brasil concentrar o maior volume de água doce do mundo, aqui pouco é utilizado desta opção de tráfego.

Dados apresentados na audiência pública mostram que uma barcaça poderia levar 900 toneladas de carga, quantidade de mercadoria que exigiria 35 carretas para ser transportada por terra. Apesar disso, as estradas são os caminhos quase únicos para transporte da economia brasileira, causando prejuízos de toda ordem, como gastos exorbitantes, acidentes rodoviários e tempo desperdiçado.

A retomada plena da hidrovia do rio São Francisco, que vai da cidade de Pirapora, Norte de Minas, até Juazeiro e Petrolina, na divisa da Bahia com Pernambuco, com cerca de 1.371 km de extensão, depende de investimentos em infraestrutura e ações de desassoreamento, que passa pela necessária revitalização do leito do rio.

A carga estimada com perfil hidroviário na área de influência do Vale do São Francisco é de mais de 4 milhões de toneladas/ano. Durante décadas, o trecho foi plenamente usado, mas deixou de ser navegável em alguns pontos por causa da instabilidade do regime de chuvas e do acúmulo de sedimentos, que comprometem o volume das águas.

Na audiência, pudemos ouvir das autoridades locais as dificuldades trazidas pela paralisação da hidrovia. Pirapora tem sua economia bastante influenciada, por estar num entroncamento privilegiado. A reativação dela geraria vantagens que vão muito além do transporte. A revitalização do rio São Francisco influenciaria de forma determinante na atividade pesqueira e na cadeia do turismo, outros vetores econômicos fundamentais na economia da cidade onde foi realizada a audiência e toda a região.

Um país com dimensões continentais como o Brasil precisa aprofundar o debate do papel do transporte no desenvolvimento. Os altos custos dos combustíveis, que tenho criticado tanto, é mais um componente para questionar a quase exclusividade do modal rodoviário no país. Já falei aqui da importância da reativação da nossa malha ferroviária, e minha participação na audiência em Pirapora fortaleceu minha convicção em defesa das hidrovias.

Artigo publicado originalmente no jornal “O Tempo”

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