O que a sociedade brasileira assistiu na manhã da última sexta-feira, 24 de abril, não foi o anúncio de um pedido de demissão do Ministro da Justiça. Foi a delação premiada de um cúmplice.
Agrava-se a olhos vistos o isolamento do governo neoliberal e neofascista do capitão Jair Bolsonaro, denunciado por um dos personagens centrais do processo fraudulento que culminou com sua eleição em 2018.
Moro, o juiz imoral e parcial, foi muito útil a Bolsonaro e ao bloco que o elegeu e que governa com ele.
Foi ele e seus comparsas da Lava Jato que criaram as condições para o impeachment de um presidenta legítima, sem crimes, e garantiu a prisão política, sem crime e sem provas de Luis Inácio Lula da Silva, o nome mais forte na disputa eleitoral de 2018.
Mas não foi só isso.
Moro se omitiu sobre milícias, rachadinhas, o assassinato de Marielle, o sumiço de Fabrício Queiroz, a indústria de Fake News, o laranjal do PSL, a execução do capitão Adriano, os ataques ao STF e ao Congresso Nacional, entre tantas outras ilegalidades.
Foi protagonista, ao lado de Bolsonaro, nos ataques à Democracia e ao Estado Democrático de Direito.
O ex-juiz e agora ex-ministro Sérgio Moro, traiu miseravelmente o homem que ajudou a eleger: Jair Bolsonaro.
Ao longo de um ano e quatro meses de governo não lhe faltaram oportunidades para reagir aos desmandos do capitão. Não havia razão. Eram sócios do mesmo projeto.
O momento que vivemos nessa sexta-feira foi, portanto, cuidadosamente escolhido: o flagrante enfraquecimento de um mandatário posto nu diante da sociedade, revelando-se incapaz de conduzir o País devastado pela crise econômica e social, agora agravada pela pandemia do Covid-19.
Hora oportuna para pular fora do barco, que se inclina perigosamente.
E convenhamos, deixar um barco que pode até continuar flutuando, por algum tempo, mas que dá claros sinais de avaria, é um comportamento, em tudo, digno dos ratos de porão.
O plano inclinado, em que resvala o governo Bolsonaro, pode apressar outras defecções entre os bons companheiros, que veem esgarçar-se os laços estabelecidos na campanha e nos 16 meses de governo.
A sociedade, por sua parte, vai se dando conta de que somos governados por um misto de irresponsabilidade com bandidagem, que impõe uma permanente crise ao País.
Os empresários já percebem que não devem recomendar otimismo de recuperação econômica no curto ou médio prazo.
Ou seja, antes de 2022. E o povo começa a reviver um cenário doloroso, marcado pela fome, a miséria e o desemprego, agravados pelo total descaso com a saúde e com as vidas.
Depois da delação premiada da manhã de sexta, Sérgio Moro se relança no cenário.
Nada a ver com pretensões a uma confortável vaga no STF. Se foi algum dia o objetivo, hoje está completamente ultrapassado. Ele opera algo maior, localizado entre hoje e 2022.
Para isso, executa um deslocamento estratégico, afastando-se da extrema-direita bolsonarista, para se recolocar no cenário como uma alternativa de massa, no espaço da direita tradicional, disputando com Dória, Mandetta, Maia ou mesmo com Witzel.
Os “partidos” da Lava Jato e da Rede Globo não lhe faltarão. Assistimos mais um capítulo desta saga, com a retomada da narrativa de herói na extensa cobertura jornalística, rachando ao meio as redes de sustentação do governo do capitão.
A resposta titubeante de Bolsonaro, no final da tarde da movimentada sexta-feira de abril, passa a impressão de que ele já não governa.
A imagem de uma reunião fúnebre, dirigida por um homem incapaz de propor e executar saídas para a superação das crises que vive o País, em parte geradas por ele próprio.
Revela também sua incapacidade de manter a coesão do bloco que o levou à Presidência da República.
Não será exagero dizer que neste 24 de abril, o Brasil encerrou a semana sob a presidência de um espectro.
Fora, Bolosonaro!
*Paulo Pimenta é deputado federal (PT-RS). Artigo publicado com exclusividade em Viomundo