Paulo Pimenta aponta “cultura do ódio” como responsável por chacina em Campinas

PauloPimenta Salu

Em artigo, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) aponta a onda desenfreada de ódio como a responsável principal da chacina ocorrida em Campinas (SP), na noite de réveillon. O episódio envolveu a morte de 12 pessoas, incluindo o filho e a ex-esposa do assassino, que se matou após cometer os crimes. O parlamentar detalha toda a rede de intolerância e desinformação que ganhou espaço no Brasil e insufla uma cultura machista, misógina e intolerante, que produz um número cada vez maior de vítimas.

“São muitos aspectos a serem questionados nessa tragédia. Sem dúvida, a questão de gênero é primeira delas. Ainda vivemos um tempo em que não se aceita a reação das mulheres às diversas formas de violência dentro de uma relação opressiva. A palavra da mulher é sempre colocada em dúvida – ‘o que será que ela fez?’”, ressalta o deputado.

Paulo Pimenta mostra a raiz desse modo de agir intolerante. Ele detalha que esse pensamento foi forjado entre aqueles que levantam bandeiras contra a educação de gênero nas escolas, entre os que deturpam o significado da defesa dos direitos humanos, entre os que justificam seu discurso pró-violência nas críticas ao sistema penitenciário e entre aqueles que se rendem aos apelos da mídia para atingir quem se opõe aos interesses políticos que ela representa.

“Se a política é sempre um recomeço, é preciso criar novos valores. O que querem aqueles que defendem novos valores é escapar dessa máquina de opressão e violência que se manifesta por ondas de ódio que impedem a potência do pensamento para criar novas formas de solidariedade, justiça social e igualdade, que não excluam as diferenças”, afirma.

Leia a íntegra do artigo.

Precisamos combater a cultura do ódio!

O ano de 2017 inicia com um País chocado diante da chacina de doze pessoas durante uma festa de réveillon em Campinas. Tivemos o primeiro caso de feminicídio do ano. Antes de matar a ex-esposa, o próprio filho, seus amigos e parentes, o assassino que planejou o crime fez vídeos e escreveu uma carta em que revela seu desprezo às mulheres, chamadas de vadias repetidas vezes por ele. Em busca dos holofotes que comumente são dados àqueles que se manifestam contra os direitos humanos, os termos dessa carta revelam a crescente destruição de valores humanos em nossa sociedade.

São muitos aspectos a serem questionados nessa tragédia. Sem dúvida, a questão de gênero é primeira delas. Ainda vivemos um tempo em que não se aceita a reação das mulheres às diversas formas de violência dentro de uma relação opressiva. A palavra da mulher é sempre colocada em dúvida – “o que será que ela fez?”.

Em que pese as discórdias do casal, o que não justificaria nenhuma das violências cometidas, a ênfase dada pelo assassino é contra as leis do País.

O matador demonstrou conhecimento acerca da intolerância que ganhou terreno no Brasil e ataca justamente a Lei Maria da Penha, denominada como “vadia da penha” pelo assassino. Também brada contra as feministas chamadas por ele de loucas. Ou seja, a luta histórica do feminismo em defesa do direito à igualdade entre os sexos ainda não é aceita.

Aqui temos o resultado do ódio daqueles que levantaram bandeiras contra e educação em gênero, daqueles que cederam às pressões políticas, morais e religiosas para impedir que a nossa sociedade aplique a lei Maria da Penha, que qualifica os crimes contra as mulheres e estabelece a obrigatoriedade da educação para não violência de gênero nas escolas e universidades. É hora de refletir! Quem ganhou palco político retirando dos planos de educação qualquer citação a educação de gênero compactuou com um mundo de violência e intolerância.

Outro aspecto a ressaltar é o fato do assassino se referir a um suposto tratamento digno que receberia em uma prisão, com três refeições diárias, banho de sol, etc. Esse é um discurso corrente na voz daqueles que incitam o ódio para promover apologia ao estupro, à pena de morte, à homofobia, ao machismo e à xenofobia.

Há nesse discurso uma deliberada generalização com o objetivo de produzir a ausência de pensamento. E o assassino se utiliza com bastante propriedade desse discurso que reduz o fenômeno da violência à ausência de castigos deliberados contra presos como forma de reproduzir mais violência.

Aqui temos o resultado do discurso que anula o princípio da não violência sob a falsa ideia de crítica ao sistema penitenciário, reforçando as práticas vigentes de abuso, da corrupção e da violência que realmente existem.

Não podemos esquecer que há uma semana a Rede Globo fez uma matéria sobre as refeições recebidas por presos da Lava Jato. É preciso refletir sobre essa e outras estratégias nefastas da mídia de incitar o ódio da população contra alguns presos como forma de desviar a atenção do País sobre as consequências do Golpe de 2016 que desconstrói nossas conquistas democráticas e elimina direitos.

Como porta voz de interesses políticos, a grande mídia tem fomentado esse discurso que serve para justificar a tirania contra pessoas que se manifestam contra o golpe. Pois bem, o matador de doze pessoas se utilizou desse discurso.

Por fim, a questão política apontada pelo assassino, que está por trás das manifestações do ódio às mulheres aos direitos humanos. Mais uma vez aqui, a expressão fascista se faz presente nas palavras do assassino que utiliza o apelo às questões sociais, não no sentido da defesa de políticas públicas, mas como um desastre para o qual se justificaria sua eliminação.

Nessa mesma linha, o Brasil é chamado de “paizeco”, repetindo a ideia de superioridade das grandes potencias que impõe à dominação. Assim, quem mata é o ódio à democracia, quem chama de “ordinários” os defensores de direitos humanos, quem ensina seus filhos a chamar Dilma de “vaca”. Assim, o autor de um crime hediondo se denominou um “cidadão de bem”.

Se a política é sempre um recomeço, é preciso criar novos valores. O que querem aqueles que defendem novos valores é escapar dessa máquina de opressão e violência que se manifesta por ondas de ódio que impedem a potência do pensamento para criar novas formas de solidariedade, justiça social e igualdade, que não excluam as diferenças.

*Paulo Pimenta é jornalista e deputado federal pelo PT-RS

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