Parlamentares da Bancada do PT na Câmara e no Senado reforçaram nesta quinta-feira (23) a luta dos militantes pró-moradia que resistem bravamente há nove dias num acampamento montado em plena Avenida Paulista – o maior centro financeiro do Brasil e um dos maiores do mundo. Na esquina com a Rua Augusta, centenas de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) montaram barracas e levaram colchões para reivindicar a liberação de novas contratações do “Minha Casa, Minha Vida” para a faixa mais pobre da população, cujas obras ficaram comprometidas após a chegada dos golpistas ao poder.
“Esse acampamento aqui é um ponto de resistência no País. A Bancada do PT lá em Brasília está solidária e firme com vocês. Em todos os cantos que houver resistência, nós vamos estar juntos e vamos ser parceiros da luta. Mais que isso, queremos derrotar esse governo nas ruas e no Parlamento. Não vai passar essa reforma da Previdência Social, não vai passar essa reforma Trabalhista. Nós vamos lutar!”, afirmou o líder do PT na Câmara, deputado Carlos Zarattini (SP). Reforçando o discurso do líder, o coordenador Nacional do MTST, Guilherme Boulos, lembrou que, para além da luta pela moradia, o acampamento é reforço na luta contra as reformas golpistas.
O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) dimensionou como o acampamento na Paulista é emblemático, já que está cravado no coração de onde foi articulado o golpe contra a democracia e contra a presidenta Dilma Rousseff. “Foi aqui que ele foi tramado, foi aqui que ele foi financiado contra o povo. A Dilma foi só um instrumento, mas quem foi golpeado foi o povo brasileiro”. Chinaglia lembrou ainda que neste momento, após consumado o golpe, as reformas significam o pagamento para aqueles que o financiaram.
“É uma aberração atrás da outra. Estão com tanta ousadia no Congresso, que estão colocando a reforma da Previdência, que é uma contrarreforma; a contrarreforma trabalhista; estão tocando também a chamada reforma tributária, e até mesmo a reforma política. Lá dentro do Congresso eles são maioria, mas aqui eles não têm o voto, porque vocês são pessoas que lutam a partir de uma consciência conquistada”, pontuou. “Contamos que a luta na rua é o que vai virar o Congresso Nacional”, emendou.
Nesse mesmo sentido, Zarattini fez uma convocação a todos os manifestantes para que chamem cada um dos parlamentares eleitos com votos da cidade de São Paulo e cobrem deles um posicionamento com relação às propostas de Michel Temer. “Quero que vocês que são da periferia perguntem aos deputados que hoje apoiam o governo, mas que foram eleitos com o voto da periferia, em quem eles vão votar: ‘se a favor do povo ou das reformas de Michel Temer?’. Essa pergunta nós precisamos fazer”, afirmou.
Depois de repudiar veementemente as propostas de desmonte da Previdência e de desarticulação da legislação trabalhista, o líder fez uma retrospectiva dos demais ataques do governo Temer para retirar direitos, lembrando que a sanha golpista se estende para dilapidar o patrimônio que pertence aos brasileiros. Um dos exemplos é a pretensão do governo de liberar a venda de terras no País para estrangeiros. “Querem entregar o Brasil”, protestou.
“A intenção é fazer verdadeiros enclaves em nosso País, porque o Brasil tem solo fértil, tem sol, não tem desastres naturais. E eles querem usar as nossas terras, o nosso clima para fazer grandes plantações onde possam garantir a sobrevivência e a exploração através do monopólio dos alimentos em outros países do mundo. O monopólio dos alimentos já existe, e eles querem fazer ainda mais. E nós queremos fazer a reforma agrária, queremos democratizar a terra, e não concentrá-la, muito menos com enclaves estrangeiros”, detalhou Carlos Zarattini.
Ainda como parte desse processo entreguista, o líder falou do desmonte da Petrobras e da entrega do pré-sal – que é uma das nossas maiores riquezas naturais – para o capital externo. “Eles estão entregando a Petrobras, o nosso maior orgulho, a nossa maior empresa, que garante a autonomia energética no Brasil. Estão vendendo a Petrobras aos pedaços. E pior que isso: vendendo as jazidas de petróleo, como já venderam o Campo de Carcará. Querem fazer cinco leilões, sem a Petrobras participar de nenhum leilão do pré-sal”, completou.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) fez questão de ressaltar a importância da luta de quem faz parte do acampamento do MTST na Paulista. “A luta de vocês é histórica”, reforçou. “Não tenho dúvida de que, no futuro, quando olharmos para a história desse País, quando a gente for ver o que aconteceu com esse golpe contra a democracia, estará claro que o objetivo era retirar direitos dos trabalhadores, era entregar o nosso patrimônio público nacional. Mas depois vamos mostrar também a resistência, porque acharam que era dar o golpe, tirar a Dilma e passar os seus projetos. (…) Todos estão olhado para vocês aqui na Paulista, e dessa ocupação aqui temos que levantar o povo contra esse governo de Michel Temer e pedir eleições diretas”.
Tarciano Ricarto
Foto: Roberto Parizotti/CUT