Infelizmente nem todas as pessoas que vivem com deficiência ou doenças raras foram imunizadas contra a Covid-19 no Brasil, nem mesmo aquelas acima de 18 anos ou que apresentam comorbidades.
Faço parte da Comissão dos Direitos das Pessoas com Deficiência da Câmara dos Deputados e realizamos uma Audiência Pública para debater a priorização da vacina contra Covid-19 para pessoas com doenças raras e seus cuidadores. Nesta reunião, também estiveram presentes representantes de entidades e do Ministério da Saúde.
A definição de grupo prioritário para qualquer campanha de vacinação leva em consideração duas evidências: vulnerabilidade clínica ou epidemiológica. Esses indicadores mostram que uma pessoa pode apresentar risco mais grave de uma doença ou outras vulnerabilidades.
Quem sofre com alguma doença rara no Brasil, têm vulnerabilidades que vão além de suas situações clínicas ou epidemiológicas. O critério de prioridade de vacinação no país não pode ser um “corta e cola” da realidade de outros países, onde a desigualdade social é menor.
Lamentavelmente, o estigma por aqui ainda é muito forte e pessoas que vivem com doenças raras ou alguma deficiência ainda possuem dificuldades de entrada no mercado de trabalho ou apoio do Estado para cuidados. Por isto, a necessidade de vacinação também dos cuidadores dessas pessoas, que muitas vezes são pais, irmãos, avós, garantindo proteção também a elas. Já temos milhares de órfãos da Covid-19 em nosso país.
Como todos sabem, a CPI da Pandemia – que chamo de CPI do Genocídio – tem apresentado e reforçado toda semana: o Brasil vive esse momento trágico de falta de vacinas pelo descaso do governo Bolsonaro em não adquirir doses necessárias e em tempo hábil.
Também sou membro da Comissão Externa que acompanha as ações de enfrentamento à Covid-19 e a cada projeto de desenvolvimento de uma nova vacina que surge no mundo – e isso acontece desde 2020 – convidamos representantes dessas empresas e/ou dos países em que foram desenvolvidas, para apresentar a efetividade do insumo ao Brasil.
Quero relembrar que foram oferecidas ao governo brasileiro cerca de 700 milhões de doses de vacinas para que se fizesse pré-contratos ou propostas de transferência de tecnologia para a produção em nosso país e infelizmente o governo desprezou essas ofertas. Todas elas.
Mas, mesmo diante desse cenário assustador, não podemos perder o horizonte de luta. Ninguém pode achar que nós estaremos protegidos tendo garantido a vacinação individual. Estaremos seguros apenas com a vacinação coletiva. E, mesmo se tivermos vacinas para todos, é importante que ainda se tenha prioridade na vacinação. Esses dois grupos e seus cuidadores devem estar na população prioritária.
Alexandre Padilha é médico, professor universitário e deputado federal (PT-SP). Foi Ministro da Coordenação Política de Lula e da Saúde de Dilma e Secretário de Saúde na gestão Fernando Haddad na cidade de SP