“O que mais dói neste momento é a injustiça e perceber que estou sendo vítima de uma farsa jurídica e política”. A frase resume o estado de ânimo de uma mulher que foi capaz de lutar pela construção da democracia e, em defesa dela, colocou sua juventude à disposição e arriscou sua vida. Agora, vítima de um golpe que insiste em apeá-la do poder, a presidenta Dilma Rousseff explica, por meio de seu advogado de defesa, José Eduardo Cardozo, que não tem do que se envergonhar. Mas seus acusadores, sim. “Os que forem dignos e honestos não deixam de sentir o peso da vergonha”, escreveu.
Não foi por medo ou covardia que a presidenta Dilma Rousseff não compareceu, nesta quarta-feira (6) à reunião da Comissão Especial do Impeachment marcada para ouvir seus argumentos. Como explicou, logo na abertura dos trabalhos o líder da minoria, Lindbergh Farias (PT-RJ), a comissão está julgando a presidenta Dilma com base em critérios nitidamente políticos, já que os jurídicos foram totalmente desmontados no decorrer do processo.
“Esta comissão não está analisando isso. E, para nós, é um jogo de cartas marcadas. Para que trazer a presidenta Dilma aqui? Que voto ela ia convencer nesta situação”, questionou.
Os senadores progressistas explicaram que, por uma questão de estratégia, a defesa e a base de apoio da presidenta aconselharam que ela comparecesse ao plenário do Senado, onde será feita pessoalmente sua defesa, conforme antecipou nessa terça-feira o advogado de defesa, José Eduardo Cardozo.
Antes da leitura do documento, Cardozo explicou que a lei faculta à presidenta comparecer pessoalmente ou por meio de seu advogado aos atos do processo. “Ou seja, é uma faculdade, um direito que se determina legalmente. E cabe, portanto, à Chefe de Estado, definir o que julga adequado em cada momento.
Ele disse que o que ele leria não era uma carta, e sim um depoimento, por escrito à Comissão, “em que faz considerações próprias e pertinentes à natureza do processo”. Cardozo explicou que em qualquer lugar do mundo, os chefes de Estado comparecem aos órgãos máximos do Poder Legislativo. Ou seja, ao plenário.
Em seu depoimento, a presidenta disse que lutará para concluir seu mandato em respeito aos votos que obteve em 2014. Ela reconhece que cometeu erros, mas reitera: jamais foi desonesta. “Jamais desviei um único centavo do patrimônio público para meu enriquecimento pessoal ou de terceiros. Jamais fugi de nenhuma luta, por mais difícil que fosse, por covardia. E jamais trai minhas crenças, minhas convicções ou meus companheiros, em horas difíceis”.
Sobre o governo golpista, disse que “um governo sem voto simboliza o restabelecimento da eleição indireta, contra a qual nosso povo lutou por muitos e muitos anos”. E diz que um governo sem voto não será respeitado e se tornará um entrave, porque é a “própria crise”.
Aos senadores que já firmaram posição pelo impeachment, disparou: “Pensem na injustiça da condenação de alguém que não praticou qualquer crime e teve sua vida pública marcada por absoluta honestidade”.
E finalizou: “O Brasil não merece viver uma nova ruptura democrática. Devemos mostrar ao mundo e a nós mesmos que conseguimos construir instituições sólidas, capazes de resistir a intempéries econômicas e políticas. Devemos mostrar que sabemos honrar a nossa Constituição, a Democracia e o Estado de Direito, zelando pelo respeito ao voto popular. Devemos mostrar, finalmente, que sabemos dizer não a todos os que, de forma elitista e oportunista, agindo com absoluta falta de escrúpulos, valem-se da traição, da mentira, do embuste e do golpismo, para hipocritamente chegar ao poder e governar em absoluto descompasso com os desejos da maioria da população”.
PT no Senado
Foto: Roberto Stuckert Filho