Em artigo, Henrique Fontana analisa as relações criminosas da família Bolsonaro

Artigo do deputado federal Henrique Fontana (PT-RS) publicado no portal GGN, nesta quarta-feira (30). 

 

Os homens do presidente

 

Os Bolsonaro assumiram a presidência supostamente protegidos, de um lado, pelo Juiz Sérgio Moro e parte do judiciário e, de outro, por parte do alto comando do Exército brasileiro. Eles acreditam que com estas companhias podem blindar a si, sua família, funcionários, aliados políticos e amigos. Mas esta história pode mudar.

Quando em dezembro de 2018 veio a público o relatório do COAF, apresentando movimentações financeiras suspeitas por parte de Fabricio Queiroz, funcionário lotado no gabinete do deputado estadual e senador eleito, Flavio Bolsonaro, ninguém imaginava que começava a se desvendar uma rede criminosa que tem seu epicentro, justamente, no gabinete do filho do presidente.

O relatório revelou que Fabricio movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e 2017, e R$ 5,8 milhões nos dois anos anteriores, valores totalmente incompatíveis com sua renda. Entre os beneficiados com transferências está a esposa do presidente, Michelle Bolsonaro, com R$ 24 mil depositados em sua conta bancária.

Fabricio Queiroz, companheiro de pesca de Jair Bolsonaro, é acusado de cometer ao menos 10 homicídios. No entanto, ele teve toda família (mulher e duas filhas) empregada nos gabinetes do presidente e de Flávio Bolsonaro. Após a revelação do COAF, e o início das investigações, Fabricio e sua filha Nathalie foram preventivamente exonerados dos gabinetes, estranhamente, às vésperas da “Operação Furna da Onça”.

Mas um novo relatório do COAF mostrou que Flavio Bolsonaro recebeu R$ 96 mil em 50 depósitos fracionados. Segundo reportagem da Folha de São Paulo, a partir de documentos em cartórios, Flavio adquiriu, entre 2014 e 2017, imóveis no valor de R$ 4,2 milhões, valores também incompatíveis com sua renda.

Em agosto de 2018, durante a operação “Quarto Elemento”, que investigava a atuação de milicianos em assassinatos e extorsões, foram presos os PMs Alex e Alan Rodrigues Oliveira. Eles eram os seguranças do então deputado Flavio Bolsonaro e irmãos de Waldenice de Oliveira – a “Wal do Açaí” –, ex-assessora “fantasma” de Jair Bolsonaro e tesoureira do PSL. E não termina assim. Flavio ainda empregava a mãe e a esposa do ex-capitão do BOPE, Adriano Magalhães da Nóbrega, chefe da milícia do Rio das Pedras e do Escritório do Crime. O ex-capitão Adriano teve a prisão decretada pela operação “Intocáveis” e atualmente se encontra foragido, suspeito inclusive do assassinato da vereadora do PSOL, Marielle Franco. Assim como outros cinco milicianos presos, Adriano foi homenageado duas vezes na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro por Flavio Bolsonaro. E foi sob proteção do Capitão Adriano que o homem de confiança da Família Bolsonaro, Fabricio Queiroz, escondeu-se por duas semanas na favela de Rio das Pedras, antes de se internar no Hospital Albert Einstein.

Parece que poucos foram os que atentaram para o fato de que, mais que um protagonista da bancada da bala e defensor da ditadura, Jair Bolsonaro é um defensor das milícias. Fato da mais alta gravidade, tão grave quanto a discussão do direito ao porte e posse irrestrito de armas ou excludente de ilicitude. Trata-se de o próprio presidente do Brasil estimular, acobertar e proteger grupos paramilitares que cometem crimes, extorsões e assassinatos, sob a justificativa de “defender” as comunidades, mantendo o domínio de territórios mediante o medo e a violência.

O presidente e seu filho Flavio, na verdade, nunca esconderam o apoio e suas relações com as milícias. Em pronunciamento na Câmara, em agosto de 2003, Jair Bolsonaro afirmou: “há pouco ouvi um parlamentar criticar os grupos de extermínio – enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo. Se não houver espaço para ele na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio”. Já Flavio, como deputado estadual, apresentou e defendeu projeto de lei para legalizar as milícias no estado do Rio de Janeiro.

O que mais surpreende o País, em todo este enredo, para além do envolvimento da família presidencial com uma rede de criminosos, é o silêncio do ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sérgio Moro. Se ainda havia alguma dúvida quanto ao caráter seletivo da sua atuação na Operação Lava-Jato, ela agora ganhou perfeita nitidez. Mais que isso, Sérgio Moro, conhecedor privilegiado de toda a investigação, passa assim a ser conivente e cúmplice dos crimes pregressos e em andamento do presidente e sua família.

Sabe-se que parte dos militares acompanha com extrema preocupação a evolução das investigações, no entanto, estão enredados com a presença do vice-presidente, General Mourão, ao lado do “miliciano” Jair Bolsonaro. Mas se o Brasil está acima de tudo, como gosta de repetir Bolsonaro, parece que as milícias estão por baixo, e Deus não tem nada a ver com isso.

O que fica evidente, é que o caminho para a recuperação da democracia e do Estado de Direito se mostra ainda mais difícil diante da revelação das relações criminosas da família Bolsonaro, o que exige de toda a sociedade e das forças políticas vivas que lutam por justiça, a unidade de ação e um novo pacto democrático pelo futuro do País.

 

Henrique Fontana é deputado federal (PT-RS)

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