A redução da jornada de trabalho e o fim da escala 6×1 continua sendo pauta de um caloroso debate no país. A petição do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT) já está perto de alcançar 3 milhões de assinaturas e recebe apoio de personalidades de todos os setores. Por ser autor da PEC 221/2019, que propõe uma jornada máxima de 36 horas, tenho recebido muitos relatos de trabalhadores que não conseguem mais suportar a atual situação.
Muitos lembram que, além da exaustão pelo ofício que exercem, ainda têm que conviver com longos trajetos no transporte coletivo, que chegam a tomar mais quatro horas dos seus dias. O mais triste e revoltante são os testemunhos de mães trabalhadoras, que sofrem muito mais a exploração com a realidade do mundo laboral.
Ao contrário dos que dizem que menor tempo de trabalho prejudica a produtividade, ao valorizar o tempo livre dos trabalhadores aumentam-se os ganhos de produção, pois já foi provado que colaboradores com jornadas mais curtas tendem a concentrar suas energias de forma mais eficaz, resultando em um desempenho mais consistente.
Outro ganho vai acontecer na cadeia produtiva de cultura e entretenimento, que receberá os trabalhadores que conquistaram mais um dia livre. Esse setor econômico é um dos que mais crescem no Brasil e no mundo e vai ampliar seu potencial em emprego e renda.
Um dos aspectos que mais chamam atenção é a ampliação do tempo para o trabalhador se requalificar no mundo profissional e focar seus estudos, ajudando-o a superar a armadilha da renda média baixa, que é uma característica do país. As famílias vão também aumentar o convívio, e os pais o cuidado com os filhos. Os que têm que cuidar de idosos poderiam usar o tempo livre para isso.
A redução da jornada tem que fazer parte de um conjunto de políticas públicas para atendimento da saúde mental, que aumentou o número de pacientes na pós-pandemia. Uma escala menor de trabalho gera mais qualidade de vida, proporcionando tempo para atividades pessoais, o que reduz o estresse e aumenta a satisfação.
O economista português Pedro Gomes, em seu livro “Sexta-Feira é o Novo Sábado”, mostra que as escalas de trabalho 6×1, praticadas no Brasil, são um modelo reminiscente do século XIX. Não combina com o dinamismo e a tecnologia presentes na economia do século XXI. Ele coordenou o projeto-piloto da jornada reduzida em Portugal, onde testou a escala 4×3, que se mostrou um modelo exitoso. Por lá, que já tem dois dias de descanso, provou-se que a semana de quatro dias de trabalho não só deixa as pessoas mais felizes, como é um caminho para salvar o atual estágio do capitalismo.
No Brasil, a dificuldade de implementar as mudanças na jornada de trabalho está relacionada com a mente escravocrata de parte da elite nacional. Faz um século que o modelo da semana de cinco dias trabalhados foi implementado, com sucesso, por Henry Ford nos Estados Unidos. Era 1926 quando o maior empresário americano da época testou a mudança. Enquanto isso, em 2024, ainda existe gente que resiste a esse avanço civilizatório no nosso país.
Reginaldo Lopes é deputado federal (PT-MG)
Artigo publicado originalmente no jornal O Tempo