Juntamente com outros deputados e autoridades, participei recentemente da solenidade que comemorou os 10 anos do Ministério da Defesa. Além de ter sido uma oportunidade para manifestar meu “total e integral apoio” à sua direção, sob o comando do ministro Nelson Jobim, e para destacar a importância da Estratégia Nacional de Defesa, das concepções que a embasam e de seus pressupostos. Foi também uma oportunidade de chamar a atenção para uma questão que, naquele momento, já demandava nossa preocupação: a instalação de bases militares norteamericanas na Colômbia. Afirmei, na ocasião, que nos deixava “apreensivos e preocupados” neste processo de integração sulamericana, que tem como palco central a Amazônia, a instalação de bases militares com algum tipo de profundidade e amplitude de objetivos, que não são apenas de combate ao narcotráfico na Colômbia, ainda mais sendo na Região Amazônica.
Isso preocupa porque aprendemos que, hoje, economia, defesa e diplomacia devem andar juntas. Nem sempre andaram juntas, e agora têm que andar juntas, porque é fundamental, seja na projeção de poder, seja nas negociações internacionais, seja na capacidade dissuasória do Brasil.
Com a visita ao Brasil do presidente colombiano, Álvaro Uribe, do general Jim Jones, assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, as questões que envolvem a presença militar norteamericana no continente ficaram um pouco mais claras. No entanto, em minha opinião, os esclarecimentos até aqui não são suficientes para deixar o Brasil e a América Latina tranquilos.
Muito pelo contrário! As informações disponíveis até o momento ainda não dissiparam as suspeitas de que essas bases podem se tornar fontes de monitoramento e de pesquisas numa região estratégica e vital da geopolítica mundial, que é a Amazônia. Além de ressuscitar a desconfiança do interesse das Forças Armadas norteamericanas de preparo e emprego nas condições de selva, essa questão recoloca na pauta a velha política imperialista praticada pelos EUA pré-Obama, de promover seu domínio espalhando bases militares pelo planeta.
Até porque a própria história da relação dos EUA com o mundo alimenta essas suspeitas. Na América do Sul, o governo colombiano é o único que ainda submete suas relações internacionais aos interesses norteamericanos.
O combate ao narcotráfico não justifica o tamanho do empreendimento e os termos do acordo. Segundo a Folha de S. Paulo, serão envolvidos 800 militares norteamericanos e 600 terceirizados. A vigência será de 10 anos e, neste período, 5 bilhões de dólares serão repassados à Colômbia.
A desconfiança e a preocupação da nossa diplomacia estão plenamente justificadas. Não só em função do aumento da ocupação bélica com forte presença dissuasória no continente, mas também porque a integração latinoamericana – propósito a que o Brasil se dedica desde o primeiro dia do Governo Lula – pode ser abalada por esses movimentos. Não podemos deixar de dar razão a Chaves quando ele diz que essas “novas bases militares constituem um perigo real e concreto contra a soberania e a estabilidade da região sulamericana.”
Por isso, certas análises carecem de profundidade e beiram o desprezo no tratamento de um assunto tão sério. Debochar dos interesses brasileiros ou suspeitar que agimos para evitar uma invasão norteamericana e que desejamos enfrentar o Pentágono demonstram a mais pura inépcia. William Waak, Clóvis Rossi e Igor Gielow são exemplos daqueles que ainda raciocinam como se o Brasil ainda fosse governado pela impotência e pela obediência aos EUA. Como se o Brasil, nesses seis anos de Governo Lula, não tivesse conquistado um lugar de destaque, de influência e de comando no mundo. Como em todas as outras esferas do governo, a política externa brasileira de hoje não guarda nenhuma similaridade com as do passado.
José Genoíno é deputado federal pelo PT de São Paulo. Contato – [email protected]