O Brasil completou um ano de pandemia da Covid-19 com recordes de casos e mortes provocados pela doença, e com a economia em frangalhos. Nessa quinta-feira (18), o País registrou 2.659 mortes por Covid-19 e marcou 20 dias seguidos de recordes na média móvel de óbitos, atingindo o número de 287.795 vidas perdidas para a doença. Além disso a população precisa lidar com os preços abusivos de alimentos básicos, gás de cozinha e combustíveis, altos índices de desemprego e há três meses mais de 67 milhões de brasileiros estão sem receber o auxílio emergencial para ajudar na sobrevivência das famílias. E, para piorar, o governo atrasa o calendário da vacinação para combater o coronavírus.
Após muita pressão do Congresso Nacional, em abril de 2020 foi aprovado o auxílio emergencial no valor de R$ 600. Vale lembrar que o PT propôs o auxílio no valor de um salário mínimo (R$ 1.045 à época), enquanto o governo Bolsonaro queria pagar apenas R$ 200. Graças ao Congresso Nacional, o valor foi fixado em R$ 600. Mas após alguns meses, o governo Bolsonaro reduziu as parcelas para R$ 300, que foram pagas somente até dezembro. Desde janeiro não há auxílio emergencial.
Na quinta-feira (18), o governo editou medida provisória (MP 1039/2021) com o novo auxílio emergencial, mas o valor foi reduzido e varia entre R$ 150 e R$ 375, por apenas mais quatro meses. Não é só o valor que sofreu queda, mas também o número de pessoas beneficiadas. Apenas 45,6 milhões de pessoas irão receber o benefício, 22,6 milhões a menos que no ano passado.
Renda baixa
Para o doutor em Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e assessor econômico da Bancada do PT na Câmara Emílio Chernavsky, a ideia do auxílio emergencial é fazer com que as pessoas fiquem em casa por causa da pandemia. Para que isso aconteça elas precisam de renda que faça frente às suas necessidades básicas, porém, com um valor tão baixo é impossível que isso aconteça.
“Com esse valor tão baixo as pessoas não vão ter como ficar em casa. Você quer pagar um auxílio para que as pessoas possam ficar em casa, e assim diminuir a circulação do vírus para que a pandemia acabe o mais rápido possível e o governo faz o quê? Paga um auxílio minúsculo, que vai fazer com que muita gente não possa ficar em casa, saia, se contamine e a doença não acaba. Daqui a quatro meses, a doença vai estar alta, esperamos que menos que agora, mas os casos ainda vão estar altos, porque as pessoas não puderam ficar em casa. Como é um valor muito baixo a gente vai ter um desemprego gigante e um monte de gente sem nenhuma renda”, alertou Chernavsky.
Ele também deixou claro que enquanto não forem adotadas as medidas necessárias para conter a propagação do vírus a crise econômica vai se aprofundar.
Miséria e Fome
“No ano passado, 67 milhões sobreviveram com os R$ 600 do auxílio emergencial. Essa multidão, agora, está há três meses sem receber nada. Isso é miséria, é fome, é morte. Então, não é apenas do ponto de vista sanitário, mas, também, econômico, que se constata o caráter genocida deste governo”, denunciou o líder da Bancada do PT na Câmara, deputado Bohn Gass (RS).
O parlamentar reforçou que o PT defende um novo auxílio de, no mínimo, R$ 600 imediatamente. “Menos do que isso é deboche, pois a inflação dos alimentos foi de 20% e o gás de cozinha está custando R$ 100. Então, é inaceitável que o governo queira propor um valor que é menos da metade do pago no ano passado”, disse Bohn Gass.
O deputado Afonso Florence (PT-BA) recordou que o Brasil já experimentava queda da atividade econômica e do poder aquisitivo das famílias como resultado da política econômica de contração de gastos (teto de gastos) e a desvalorização do salário mínimo, mas que com o auxílio emergencial no ano passado foi possível aquecer a economia. “O auxílio emergencial, em 2020, permitiu reprodução da força de trabalho, aquecimento da economia, e incremento de receitas, especialmente de ICMS”.
Para ele, com esse valor que o Congresso Nacional aprovou, a crise econômica e a situação de miséria da população vão perdurar. “Três meses sem auxílio, e a chegada do novo valor pífio e só por quatro meses fará perdurar a tendência em curso de aumento da crise econômica e da população em situação de miséria”, lamentou Florence.
“Nós estamos realimentando um ciclo de pobreza. Com a pandemia alta, com os impactos grandes, a economia não tem como deslanchar. As pessoas ficam sem renda, sem renda aumenta a fome, aumenta o desespero. O que vai acontecer com o auxílio baixo – e depois que ele acabar – é desespero e fome, porque as pessoas ficam com renda zero ou muito próxima de zero”, observou Emílio Chernavsky.
Consumo
Segundo dados do IBGE, as vendas no varejo, por exemplo, tiveram uma grande queda no início da pandeia. Em maio, com o pagamento do auxílio emergencial no valor de R$ 600 pago a milhões de brasileiros, o varejo voltou a crescer fortemente. Com o corte do auxílio pela metade, as vendas pararam de crescer. Em dezembro e janeiro, com o fim do auxílio emergencial, elas passaram a cair.
Para o economista Emílio Chernavsky, os dados mostram uma forte relação no aumento da venda do comércio e o pagamento do auxílio emergencial. “No ano passado nós tivemos uma grande queda nas vendas no varejo quando a pandemia estourou. Para controlar os efeitos da pandemia tivemos que fechar muitas atividades econômicas. As vendas despencaram, aumentou o desemprego e as pessoas, sem dinheiro, pararam de comprar. Conforme foi sendo pago o auxílio, mais pessoas conseguiram ficar em casa – porque recebiam o auxílio – e nos meses seguinte, com o dinheiro que elas ganharam, conseguiram comprar. Em setembro, outubro a pandemia deu uma diminuída, então isso permitiu que o desemprego não aumentasse mais e que as pessoas pudessem consumir”, explicou.
O economista lembrou que em setembro o auxílio caiu pela metade fazendo com que as pessoas fossem parando de consumir. “O que tem acontecido desde o fim do ano – a última parcela do auxílio foi paga em dezembro e algumas pessoas receberam ainda em janeiro -, então, o aumento que a gente esperava na atividade econômica não aconteceu, começou a parar. As pessoas estavam com menos dinheiro e já sabiam que iam ficar sem, então já reduziram o consumo”, detalhou Chernavsky. Ele destacou ainda que o processo de queda nas vendas deve continuar, ou seja, com a venda baixa a produção também deve cair. “É um pouco o pior dos mundos”.
Renda Básica
O deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) defende que o País adote um programa de renda básica que invista nas potencialidades do povo brasileiro e que faça a economia girar, mas Bolsonaro vai contra tudo isso. “Ao contrário disso, Bolsonaro lutou o quanto pôde contra o auxílio. Hoje, ele só admite o benefício se for muito menos da metade dos R$ 600 que chegou a pagar no começo da pandemia”, apontou.
O parlamentar ressaltou que o atual momento é muito pior e que além da diminuição do valor, o auxílio será pago por menos tempo e para menos pessoas. “É falsa a relação entre as políticas sanitárias (como o auxílio) e a economia que o presidente tenta impor. No setor do varejo, por exemplo, o crescimento foi paralelo ao pagamento do auxílio, e consequentemente sua queda também está relacionada ao fim do benefício”, destacou o deputado mineiro.
Para a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) é importante lembrar que a oposição lutou por um valor de R$ 600, pois o auxílio emergencial representa uma boia de sobrevivência para milhões de pessoas nesse doloroso e grave momento pelo qual passa o País. “Mas o governo Bolsonaro, com a sua política antipovo, reduziu o auxílio para menos da metade. Além disso, analise que justamente no pior momento da pandemia, mesmo sendo um valor menor e atendendo um número menor de pessoas, o governo não se preocupa em retomar o pagamento de um auxílio que se chama emergencial”, criticou a parlamentar.
Lorena Vale