Nilto Tatto: Quem matou e mata a mata

Deputado Nilto Tatto. Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

(*) Nilto Tatto

 

“Quando o português chegou

Debaixo duma bruta chuva

Vestiu o índio

Que pena!

Fosse uma manhã de sol

O índio tinha despido

O português” – Oswald de Andrade, “Erro de português”

 

Quando os portugueses invadiram o Brasil no início do século XVI, se depararam com uma exuberante floresta, que apesar da imensidão, era apenas uma parcela do bioma que ocupava 15% do que hoje é o território nacional. Foi assim que Pero Vaz de Caminha descreveu em carta ao Rei de Portugal o que podia observar da Mata Atlântica: “De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que é salvar essa gente. ”

Parece claro que, além de descrever o ambiente aonde desembarcaram, o escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral também faz um primeiro relato sobre a aparente ausência de metais preciosos, indicando a natureza expoliadora daquela missão, além de uma suposta “perdição” dos nativos, que justificaria sua escravidão, travestida de catequese. Se não havia minério para explorar, logo os invasores descobriram outras formas de obter riqueza explorando o trabalho dos indígenas: a extração do pau-brasil, que antecede a monocultura de cana no Nordeste e de café, no Sudeste, além da mineração. Quem se estabelecia por aqui e explorava a árvore típica da Mata Atlântica (e que daria nome ao País), era conhecido como brasileiro, não por pertencer ao lugar (que seria brasiliano ou brasilense), mas pela atividade de extração do pau-brasil.

Desde então, o bioma foi sendo sistematicamente destruído, restando hoje apenas 24% da sua floresta original, fragmentada em menos de 500 manchas verdes distribuídas por 17 estados da Federação. Além de ser o bioma terrestre com maior biodiversidade do mundo, também é o lar de 72% da população brasileira, ou 145 milhões de pessoas. Apesar de sua importância histórica, econômica, social e ambiental, a Mata Atlântica é um dos biomas mais ameaçados do mundo, não por acaso, pelas mesmas intenções e práticas do período colonial – a obtenção de riqueza a partir da exploração à exaustão dos recursos naturais, materializada, por exemplo, nos latifúndios de monocultura.

(*) é deputado federal (PT-SP)

 

 

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