Nas últimas semanas, 40 países dividiram suas atenções entre o combate ao Coronavírus e o enfrentamento às emergências climáticas. A pauta ganhou destaque em virtude da Cúpula do Clima, evento promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que reuniu tanto nações desenvolvidas quanto àquelas em desenvolvimento, em busca da mitigação do aquecimento global e suas conseqüências para a vida no Planeta.
O evento ganhou importância após um relatório da Organização das Nações Unidas projetar que alguns países do G20 (aqueles com a economia mais expressiva no mundo), não conseguirão atingir seus compromissos de redução de emissão de carbono até 2030, caso não adotem medidas ambientais extras, o que inclui Brasil, Estados Unidos, Canadá, Coréia do Sul e Austrália. Como já era de se esperar, o discurso do presidente brasileiro durante o encontro foi recheado de contradições e mentiras.
Ainda que os dois primeiros anos do atual governo tenham registrado recordes de queimadas em vários biomas, Jair Bolsonaro se aproveitou do sucesso no combate ao desmatamento de programas implementados nos governos Lula e Dilma, para dizer que o Brasil estaria cumprindo suas metas ambientais. O ponto mais baixo do discurso do presidente brasileiro, no entanto, foi outro: quando ele afirmou que dobraria o orçamento dedicado aos mecanismos de fiscalização ambiental. No dia seguinte, o governo cortou o orçamento do meio-ambiente em R$240 milhões.
Com isso, a redução total no orçamento da pasta chegou a 35,4% em 2021. O resultado direto desse contingenciamento é a inviabilidade das ações de fiscalização e controle, ou seja, exatamente o contrário do que Bolsonaro anunciou na Cúpula do Clima. Apesar disso, é muito pouco provável que os chefes de Estado presentes no evento tenham ficado surpresos: na semana passada, ativistas, ambientalistas, acadêmicos, movimentos sociais e parlamentares brasileiros enviaram uma carta ao presidente estadunidense denunciando os crimes ambientais e a falta de compromisso do governo Bolsonaro com o combate às emergências climáticas. Dito e feito.
Nilto Tatto é deputado federal (PT-SP)