Na quinta-feira da semana passada, Ricardo Salles visitou o Pantanal, onde pôde ver com seus próprios olhos os incêndios que ele e o presidente da República minimizam até hoje. No mesmo dia, o ministro do Meio Ambiente participou de uma Live com Bolsonaro para falar do assunto.
Não tenho dúvidas de que a postura das duas maiores autoridades do País no que diz respeito ao cuidado com o meio ambiente pode ser caracterizada como crime de responsabilidade. A transmissão não revelou nada divergente do que ambos vem falando e fazendo até hoje, mas ainda assim foi surpreendente pela má-fé e o pouco caso de cada um com um bioma tão importante quanto o Pantanal e as comunidades que ali vivem.
Enquanto o ministro dizia que o que estava queimando era o capim que não havia sido digerido pelo gado (devido à uma suposta perseguição sofrida pelos pecuaristas da região), Bolsonaro colocava a culpa nos caboclos e indígenas. Como se não bastasse, o presidente aproveitou à ocasião para atacar o Código Florestal Brasileiro, as áreas de proteção ambiental e os territórios de povos tradicionais, que nesta semana estão sendo alvo de medidas que poderão destruí-los.
Não por acaso, eu também estive no Pantanal na semana passada, integrando uma Comissão Externa da Câmara dos Deputados para investigar as queimadas e a destruição dos biomas brasileiros. Durante a diligência, nós, membros da Comissão, conversamos com pecuaristas, bombeiros, moradores, lideranças políticas e comunitárias da região. Por dois dias percorremos a Transpantaneira, avistando alguns dos milhares de pontos de incêndio que vem consumindo o Pantanal. Quem vê o que acontece ali, não pode relativizar a tragédia.
Por isso, um dos primeiros encaminhamentos da Comissão será a convocação do ministro do Meio Ambiente para explicar quais ações o governo tem tomado para combater o desastre ambiental causado por estas queimadas. Também queremos ouvir o Ministério da Defesa, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e alguns responsáveis por coordenar o turismo no Pantanal. O Brasil não pode continuar queimando seu presente e seu futuro, como deseja o governo federal.
Nilto Tatto é deputado federal (PT-SP)